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Prefeito amigo de Sarkozy é condenado a quatro anos de prisão por fraude fiscal

13/09/2019 14h28

A Justiça francesa condenou nesta sexta-feira (13) o político conservador Patrick Balkany, amigo do ex-presidente Nicolas Sarkozy, a quatro anos de prisão em regime fechado por fraude fiscal. Balkany, prefeito da cidade de Levallois-Perret, um município com população de alto poder aquisitivo nas portas de Paris, foi imediatamente levado à prisão, para evitar uma fuga do país.

O Tribunal Penal de Paris acatou a recomendação defendida pela Procuradoria Nacional Financeira (PNF), que havia solicitado uma pena exemplar contra "um grande fraudador" que vivia "banhado num oceano de dinheiro líquido". A mulher do prefeito, Isabelle Balkany, que exerce o cargo de vice no município, foi condenada a três anos de prisão em regime fechado, mas não será encarcerada no momento, pois se recupera de uma tentativa de suicídio. O casal também foi condenado a dez anos de ineligibilidade. A defesa informou que vai recorrer das sentenças.

A prisão deste cacique da política francesa de 71 anos, chamado de "barão dos Altos do Sena" pela imprensa, era esperada. Há 25 anos, o prefeito e sua mulher acumulam denúncias de corrupção, fraude fiscal e lavagem de dinheiro. Mas eles sempre escaparam da Justiça graças aos relacionamentos com personalidades bem posicionadas nas mais altas esferas do Estado.

O casal Balkany nunca se preocupou em esconder o estilo de vida que levava, com gastos muito acima dos rendimentos que um mandato parlamentar ou municipal podem proporcionar. Patrick, prefeito de Levallois-Perret há mais de três décadas, reeleito quase sucessivamente desde 1983, é adorado pela maioria dos cidadãos que moram na cidade. Ao lado da mulher, Isabelle, o gestor transformou a pequena Levallois num reduto moderno, seguro e bem-cuidado, com prédios residenciais de alto padrão, boas escolas e ótimos restaurantes.

Oceano de dinheiro

Os Balkany sempre pagaram tudo à vista, em dinheiro. A vice-prefeita costumava liquidar as despesas de lavanderia, açougue e padaria com notas de € 500. E dispensava o troco. Pessoas que estiveram no apartamento do casal contaram ter visto uma banheira e um closet repletos de cédulas de € 500. Essas notas foram retiradas recentemente de circulação pelo Banco Central Europeu por terem se tornado a moeda corrente no crime organizado e nas operações de lavagem de dinheiro.

No tribunal, o ex-deputado reconheceu ter cometido alguns erros, mas se defendeu dos excessos dizendo que dedicou sua vida aos outros. O casal foi condenado por não ter pago o Imposto de Solidariedade sobre a Fortuna (ISF), já extinto, de 2010 a 2015, apesar de terem desfrutado naquele período de uma renda financeira anual estimada em € 16 milhões.

Os Balkany também omitiram de suas declarações fiscais uma casa luxuosa em Saint-Martin, no Caribe, uma mansão em Marrakesh, que o casal nega ter comprado, mas frequenta há décadas e exibe em revistas de celebridades. Eles ainda negaram que tenham subestimado o valor de uma propriedade de campo em Giverny, na Normandia, próxima da casa onde viveu o pintor Claude Monet.

Balkany foi encarcerado na penitenciária da Santé, na capital francesa. Em Levallois-Perret, as imagens do cacique sendo levado por policiais à cadeia geraram comentários diversos. Alexandre, um garçom que trabalha em um restaurante ao lado da prefeitura, aprovou o rigor da justiça. "Todos temos de pagar pelos nossos atos. Agora, ele não vai mais escapar graças às suas amizades", argumentou. Outros consideraram a detenção injusta: "Ele não matou ninguém!", exclamou um cidadão. Uma mulher, moradora da cidade há 20 anos, mãe de quatro filhos, reclamou por Balkany estar sendo tratado como "um perigo para a segurança pública". "O dinheiro do casal é um assunto privado, não tem nada a ver com os interesses da prefeitura. Eu votaria nele de novo", destacou ela.

No dia 18 de outubro, o prefeito do partido conservador Republicanos vai enfrentar um novo julgamento, desta vez por corrupção e lavagem de dinheiro. Na avaliação de muitos moradores de Levallois-Perret, acostumados à velha política, Balkany é aquele político que "rouba, mas faz".

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