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Parente relata explosão: "Começou uma fumaça densa e cheiro de diesel"

do UOL

Igor Mello

Do UOL, no Rio

13/09/2019 12h01

Emanuel Ricardo dos Santos Melo, filho de Luzia dos Santos Melo, uma das cinco vítimas já identificadas no incêndio no Hospital Badim, disse que já havia reclamado sobre a ocorrência de fumaça no prédio cerca de 40 minutos antes da tragédia, quando faltou luz pela primeira vez na unidade de saúde. Ele relatou momentos de desespero após uma explosão, falha no socorro aos pacientes e no resgate em geral e contou como socorreu sozinho sua mãe.

O Corpo de Bombeiros confirmou hoje a morte de ao menos dez pessoas em decorrência do incêndio no Hospital Badim, no Maracanã, zona norte do Rio, ocorrido ontem. Todas as vítimas já foram identificadas pelo IML (Instituto Médico Legal).

Melo, que acompanhava a mãe, falou que a brigada de incêndio não atuou a contento e que os funcionários do CTI, onde sua mãe estava internada, abandonaram os pacientes após o início do fogo.

"Houve uma fumaça entre 17h15 e 17h30. Nós alertamos, eles falaram que era equipamento interno e já iam restabelecer, para ninguém se assustar", afirmou Emanuel.

Ainda segundo o filho da idosa, que tinha 88 anos, a segunda falta de luz foi acompanhada de uma explosão. Logo em seguida, o prédio foi tomado por muita fumaça e cheiro forte de óleo diesel.

"Cerca de 20 minutos depois, no máximo, faltou de novo, houve uma explosão e começou uma fumaça muito densa e muito cheiro de diesel, muito forte. Os funcionários do Badim totalmente perdidos, batendo cabeça sem saber o que fazer. A enfermeira que era responsável pelo setor botou dez no burro [deixou o local] e sumiu"

Emanuel Ricardo dos Santos Melo, parente de vítima

Emanuel diz que tentou socorrer a mãe, mas foi impedido pelo Corpo de Bombeiros, chegando a ser agredido por um dos socorristas.

Ele diz que nem a brigada de incêndio do Hospital Badim, nem o Corpo de Bombeiros orientaram adequadamente a saída das vítimas. "Foi por livre arbítrio. Não houve nada, uma orientação [do tipo] 'sai por ali que você está salvo'".

Após os funcionários dos hospital abandonarem os pacientes do CTI onde Luzia estava, Emanuel conta que conseguiu encontrar uma máscara de oxigênio e tentou levar a mãe até a saída.

"Só falava com ela: Mãe, por favor, a senhora não tira essa máscara e não fala. Disse: não fala, só lá embaixo que a gente vai se falar. Infelizmente nessa vida não falo mais com ela", disse, aos prantos.

A reportagem do UOL procurou o hospital e o Corpo de Bombeiros sobre a denúncia do filho da vítima, mas ainda não houve retorno.

Cheiro de queimado após 1ª queda de luz, diz advogado

O advogado Carlos Outerelo, filho de Berta Gonçalves Berreiro Sousa —uma das dez vítimas no Hospital Badim— também relatou ter sentido cheiro de queimado após a primeira queda de luz na unidade de saúde, minutos antes de o fogo começar.

"Faltou luz e em dado momento eles religaram. No momento em que religaram, comecei a sentir um cheiro de queimado, como se fosse um plástico. Depois esse cheiro foi modificando. O gerador era movido a diesel, altamente prejudicial. E a fumaça começou a se propagar", lembrou.

Outerelo diz que tentou salvar a mãe, que estava em um CTI no terceiro andar. A idosa tinha pneumonia e uma infecção no útero. Diz que foi impedido pelos bombeiros, mas avaliou que a decisão dos socorristas foi correta.

"Estava lá [como acompanhante]. Tentei retirar, mas fui impedido. Na hora você racionalmente acha que está tudo errado. Mas eles tinham que fazer isso. Se não, eu também estava esticado aí [no IML], porque era muita fumaça", ponderou.

Idosa teria alta na semana que vem

Luzia era maranhense e tinha cinco filhos, netos e bisnetos. A idosa foi internada na quarta-feira (11) com quadro de hipertensão e pneumonia, mas vinha apresentando melhora no seu estado de saúde. A previsão dos médicos era de que teria alta em breve, segundo o filho.

"Estava no hospital desde quarta. Estava com pressão alta controlada, e foi identificado que estava com pneumonia. Era tratável, apesar da idade. Ontem estava tranquilo, respirando normal. A médica me disse que na próxima semana poderia vir a ter alta depois de fazer um exame de imagem", relatou.

O enterro da idosa será no Cemitério São Francisco Xavier, no Caju, na manhã de sábado, segundo a família.

Errata: este conteúdo foi atualizado
O nome da vítima que morreu no incêndio no Hospital Badim é Luzia dos Santos Melo, e não Luzia dos Santos Nascimento. A informação foi corrigida.

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