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Delegados: PF não deve se sujeitar a "demonstrações de força" de Bolsonaro

O presidente Jair Bolsonaro (PSL) - Reuters
O presidente Jair Bolsonaro (PSL) Imagem: Reuters
do UOL

Eduardo Militão

Do UOL, em Salvador

23/08/2019 18h57

Delegados da Polícia Federal reagiram hoje aos comentários do presidente Jair Bolsonaro (PSL) afirmando que ele pode trocar o diretor-geral Maurício Valeixo e superintendes regionais. Na "Carta de Salvador", eles escreveram que "a PF não deve ficar sujeita a declarações polêmicas em meio a demonstrações de força que possam suscitar instabilidades em um órgão de imensa relevância, cujos integrantes são técnicos, sérios, responsáveis, e conhecedores de sua missão institucional".

O documento foi redigido após três dias de debates no 4º Simpósio Nacional Contra a Corrupção, organizado pela Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF). A carta será lida na noite desta sexta-feira (23), ao final do evento.

Enquanto o simpósio ocorria, os investigadores demonstraram desconforto com as declarações de Jair Bolsonaro sobre sua atuação sobre a corporação

A crise se instalou a partir da semana passada, quando o chefe da PF no Rio, Ricardo Saadi, foi demitido depois de uma queixa pública do presidente por supostos problemas de "produtividade".

Reservadamente, altos integrantes da PF entendem que a causa das ameaças é um teste de força entre Jair Bolsonaro e o ministro da Justiça, Sergio Moro. Outros atribuem isso a investigações da polícia e do Ministério Público sobre os negócios do filho mais velho do presidente, o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), e seu ex-assessor Fabrício Queiroz.

Diretor tem que formar sua própria equipe, diz carta

No documento, os delegados dizem que este "parece ser" mais um episódio de "pressões e tentativas de interferências".

Os diretores-gerais, como Maurício Valeixo, devem ter o poder de montar seu time de trabalho. E não poderiam ser trocados a todo momento. Nos últimos dois anos, a PF teve quatro diretores.

"O dirigente máximo da Polícia Federal deve ter o poder de formar a sua própria equipe, sem pressões de cunho político, partidário ou sob o risco de ser exonerado", escreveram os delegados na carta. "Não é produtivo que pessoas se perpetuem no comando, nem que sejam breves ao ponto de sequer poderem implementar os projetos."

Por isso, os policiais defenderam que o Congresso aprove mandato para o diretor geral e autonomia administrativa e financeira para o órgão de investigação.

A ADPF diz que "espera que o Congresso Nacional, renovado, cuja base de campanha foi exatamente a valorização das instituições de segurança e o combate à corrupção, possa contribuir na aprovação de um sistema de proteção contra qualquer possibilidade de interferência na Polícia Federal, a fim de garantir a continuidade no combate à corrupção e ao crime organizado."

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