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Por que Trump vem esnobando a Alemanha?

Rebecca Staudenmaier (av)

22/08/2019 13h47

O presidente dos EUA vai visitar em breve a França e depois a Polônia. Porém não há sinal de qualquer intenção de visitar o tradicional aliado alemão e locomotiva econômica da Europa. Inconsequência ou tática?O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, está prestes a retornar à Europa. Nesta sexta-feira (23/08), ele parte para a conferência de cúpula do G7 na França, e no fim de agosto estará de volta para uma viagem pela Polônia, marcando o 80º aniversário do início da Segunda Guerra Mundial.

Embora suas viagens prevejam que ele esteja logo ali ao lado, o magnata americano não demonstrou qualquer intenção de visitar a chanceler federal alemã, Angela Merkel, nem agora, nem num futuro próximo. Em mais de dois anos de presidência, ele só se encontrou com Merkel na Alemanha uma única vez, durante a cúpula do G20 em Hamburgo, e nunca como seu hóspede em Berlim.

A lista de discordâncias é longa: dos gastos de defesa da Alemanha, seu posicionamento em relação ao Irã, seu apoio ao gasoduto Nord Stream 2 da Rússia, à resistência de Merkel em banir a China de grandes projetos de infraestrutura, são muitos os assuntos em que os dois não estão alinhados.

Tensões políticas à parte, Trump e Merkel não têm uma química das melhores quando se encontram pessoalmente. Nas comemorações do Dia D, em junho, o americano sequer ofereceu um aperto de mão à líder democrata-cristã.

Típicos do "estilo transacional de liderança" trumpista são sua esnobada à Alemanha e o cancelamento de uma viagem à Dinamarca programada para setembro por o país ter se recusado a lhe vender a Groenlândia, aponta Josef Braml, especialista em assuntos americanos do think tank Conselho Alemão de Relações Estrangeiras (DGAP).

"Trump se vê como um chefão, articula metas claras, exige e recompensa ou pune os subordinados com vantagens ou desvantagens, se eles não preenchem suas exigências. Por isso, a Alemanha e a Dinamarca estão sendo punidas com desprezo. A Polônia, por sua vez, conseguiu cair nas graças do presidente com concessões materiais, por enquanto."

Enquanto o prestígio de Berlim em Washington decai, o perfil transatlântico de Varsóvia tem prosperado significativamente desde que Trump assumiu. "A Polônia tem influência maior do que a Alemanha. No momento, eu a descreveria como o segundo parceiro mais importante [para os EUA], depois do Reino Unido", resumiu Nile Gardiner, da Heritage Foundation de Washington, à emissora alemã ARD.

Braml, que também mantém o blog USA Experte, avisa que a Polônia e outros devem tomar cuidado com os laços diplomáticos recém-estreitados. "Os atuais 'amigos' de Trump no Leste da Europa não se devem deixar enganar: mais cedo ou mais tarde será necessário os estrategistas dos EUA tentarem reconciliar os interesses com a Rússia, de modo a conter as atividades extensivas da China."

Mas tratar a locomotiva econômica da Europa como país de trânsito, enquanto se dá atenção especial a nações que se chocaram com Bruxelas provavelmente serve a um propósito estratégico mais amplo: aumentar as divisões dentro da União Europeia.

"O itinerário de viagem de Trump na Europa é uma óbvia tentativa de dividir a UE. Sua administração já deixou isso bem claro: é nisso que eles acreditam, eles são opositores do multilateralismo", comentou à ARD Jacob Kirkegaard, do Peterson Institute for International Economics, nos EUA.

Em entrevista ao jornal Südwest Presse, o coordenador de Berlim para cooperação transatlântica, Peter Beyer, observou que, embora manter boas relações com os EUA seja uma prioridade importante, a postura da Casa Branca em relação à UE ameaça a frágil unidade do bloco.

Trump tem repetidamente apoiado o linha-dura pró-Brexit e atual primeiro-ministro britânico Boris Johnson, enquanto o embaixador americano na Alemanha, Richard Grenell, recentemente ameaçou que seu país retiraria as tropas do território alemão, transferindo-as para a Polônia. "O governo dele tem tentado, desde o início, abrir um abismo entre os Estados-membros da UE", alerta Beyer, "devemos levar isso a sério".

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Autor: Rebecca Staudenmaier (av)

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