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Municípios mais desmatados em 2019 lideram número de queimadas na Amazônia

Fogo avança sobre floresta amazônica na região de Apuí, na fronteira de Amazonas com Rondônia - Bruno Kelly/Reuters
Fogo avança sobre floresta amazônica na região de Apuí, na fronteira de Amazonas com Rondônia Imagem: Bruno Kelly/Reuters
do UOL

Carlos Madeiro

Colaboração para o UOL, em Maceió

22/08/2019 12h01

As queimadas que neste ano atingem a região amazônica se concentraram em municípios com as maiores áreas desmatadas no mesmo período. Segundo uma nota técnica do Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), com dados coletados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), "os dez municípios amazônicos que mais registraram focos de incêndios foram também os que tiveram maiores taxas de desmatamento".

"Estas cidades são responsáveis por 37% dos focos de calor em 2019 e por 43% do desmatamento registrado até o mês de julho", aponta o documento.

Segundo o Inpe, neste ano foi registrado um aumento de 67% no desmatamento da Amazônia.

Entre janeiro e 18 de agosto deste ano, houve um aumento parecido --de 70%-- no número de queimadas no país, sendo 52% delas registradas na Amazônia.

As queimadas são consideradas o processo final do desmatamento e servem para limpeza e transformação da área para pastagem ou, em menor número de casos, para plantações agrícolas. Para o Ipam, "a relação entre desmatamento e fogo mostra-se particularmente forte neste ano de 2019".

"A ocorrência de incêndios em maior número, neste ano de estiagem mais suave, indica que o desmatamento possa ser um fator de impulsionamento às chamas, hipótese testada aqui com resultado positivo: a relação entre os focos de incêndios e o desmatamento registrado do início do ano até o mês de julho mostra-se especialmente forte", diz o estudo.

Segundo dados obtidos pelo projeto TerraClass 2014, do Ministério do Meio Ambiente, de toda a área desmatada até aquele ano, 63% virou pastagem, 6% virou agricultura e quase 22% foram abandonadas e estavam sob regeneração. "Em boa parte dos casos, a exploração da madeira é um motor inicial de degradação, e a pecuária é um fator de consolidação da área", diz documento do Departamento de Florestas do MMA.

Ontem, o UOL revelou que, segundo as medições do Inpe iniciadas desde 2003, o mês de agosto de 2019 registra o maior percentual de queimadas na Amazônia em relação a outros biomas do país: 65,1% do total brasileiro.

Em outros anos, era o cerrado que liderava o número de incêndios. O gerente do Programa Amazônia do WWF Brasil, Ricardo Mello, explica que no cerrado há ignição espontânea e no caso da região amazônica não há um processo natural que provoque queimadas. "Todo fogo [na região amazônica] é de alguma forma iniciado pelo ser humano. Então esse aumento é diretamente causado pela ação do homem", afirma.

O Ipam afirma que os dados de 2019 apontam que é necessária uma ação imediata para conter a destruição da Amazônia.

"É urgente que se retome as campanhas de prevenção de queimadas, combate aos incêndios florestais e o uso de técnicas controladas do fogo. Os proprietários rurais devem ser estimulados a aplicarem técnicas de manejo correto, como o uso de aceiros [desbaste de um terreno], para evitar a propagação acidental das chamas", explica.

Focos de incêndio* e áreas desmatadas** em 2019

  • Apuí (AM): 1.754 focos - 151 km²
  • Altamira (PA): 1.630 focos - 297,3 km²
  • Porto Velho (RO): 1.570 focos - 183,5 km²
  • Caracaraí (RR): 1.379 focos - 16 km³
  • São Félix do Xingu (PA): 1.202 focos - 218,9 km²
  • Novo Progresso (PA): 1.170 focos - 67,8 km²
  • Lábrea (AM): 1.170 focos - 197,4 km²
  • Colniza (MT): 869 focos - 82,4 km²
  • Novo Aripuanã (AM): 665 focos - 122,3 km²
  • Itaituba (PA): 611 focos, 67,8 km²

* Até 18 de agosto
** Entre janeiro e julho de 2019

Fonte: Ipam/Inpe

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