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Boris Johnson faz jogo de cena com europeus visando campanha eleitoral, diz especialista

22/08/2019 15h11

O presidente francês, Emmanuel Macron, e o novo primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, se reuniram nesta quinta-feira (22), em Paris, para encontrar uma solução ao impasse em torno do Brexit.

Em tom conciliador e alinhado com a chanceler alemã, Angela Merkel, Macron concordou em abrir novas discussões, durante um mês, sobre a fronteira entre as duas Irlandas. A questão bloqueia as negociações desde 2017. "Mas nada deve mudar", de acordo com a especialista Pauline Schnapper, da Universidade Sorbonne Nouvelle.

Johnson chegou ao Palácio do Eliseu demonstrando vontade de negociar: "Eu quero um acordo!", afirmou o britânico. "Acredito que podemos chegar a um bom acordo, para um Brexit em 31 de outubro", insistiu. Ao seu lado, Macron foi mais cauteloso, mas afirmou que "está confiante de que nos próximos 30 dias" uma solução pode ser alcançada entre Londres e os 27 membros da União Europeia.

Macron lembrou que tem sido frequentemente descrito, especialmente pela imprensa britânica, "como o mais duro" da União Europeia em relação ao Brexit. É "porque sempre disse muito claramente: há uma decisão tomada (pelos britânicos), então não faz sentido tentar não aplicá-la", justificou o francês. No entanto, insistiu: "como a chanceler Merkel, confio que a inteligência coletiva e nossa disposição construtiva devem nos permitir encontrar algo lúcido dentro de 30 dias, se houver boa vontade de ambos os lados".

As discussões sobre uma saída negociada do Reino Unido do bloco esbarram no mecanismo chamado "salvaguarda irlandesa", previsto no acordo concluído por Londres e pela União Europeia e rejeitado três vezes pelo Parlamento britânico. Este sistema procura garantir que, caso não seja encontrada uma solução melhor, uma fronteira física não será instalada entre a Irlanda do Norte, parte do Reino Unido, e a República da Irlanda, membro da União Europeia. O mecanismo teria como consequência a manutenção do conjunto do Reino Unido na união aduaneira com os países europeus até que as duas partes negociem um novo acordo comercial para definir sua futura relação pós-Brexit, em um prazo de cerca de dois anos.

Na avaliação de Pauline Schnapper, professora de Civilização Contemporânea na Sorbonne Nouvelle e coautora do livro "Où va le Royaume-Uni?" (Para onde vai o Reino Unido?), publicado pela editora Odile Jacob, o giro de Johnson em Berlim e Paris não passa de "jogo de cena" e "tática eleitoral".

Segundo Schnapper, é provável que sejam convocadas eleições legislativas até o final do ano no Reino Unido. "O objetivo de Johnson é mostrar aos britânicos que ele lutou até o fim por um acordo, mas não havendo consenso, a culpa não é dele, é dos outros", explica. Nesse caso, adverte a especialista, Macron será o bode expiatório perfeito, responsável pela falta de um acordo. "Todos sabem disso, Merkel, Macron e Johnson, ninguém no fundo acredita que as discussões possam avançar", enfatiza Schnapper.

Johnson e seus aliados radicais rejeitam o mecanismo da "salvaguarda irlandesa", também chamado de "backstop", mas não apresentaram nos últimos dois anos e meio nenhuma alternativa, recorda a especialista.

Londres e Seul assinam acordo de livre-comércio pós-Brexit

Enquanto o "jogo de cena" com os europeus continua, por razões eleitorais, o Reino Unido e a Coreia do Sul assinaram nesta quinta-feira (22) um acordo de livre-comércio que lhes permitirá continuar a negociar livremente após a saída britânica do bloco europeu. O documento foi firmado em Londres pela ministra britânica do Comércio, Liz Truss, e a colega sul-coreana Yoo Myung-hee.

Em seus preparativos para a ruptura com Bruxelas, o Reino Unido assinou até agora 13 tratados comerciais. Eles retomam as disposições dos acordos alcançados pela União Europeia com esses países. O pacto assinado com Seul é o primeiro com um país asiático.

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