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Sequestro: redes repudiam postura de Witzel, mas aprovam PM, diz estudo

do UOL

Igor Mello

Do UOL, no Rio

21/08/2019 16h51

Transmitido ao vivo por TVs e rádios ao longo de toda manhã de ontem, o sequestro do ônibus na Ponte Rio-Niterói --que terminou com o sequestrador Willian Augusto da Silva morto pela polícia-- também dominou as discussões nas redes sociais. A análise de mais de 13 mil tuítes feita pela consultoria AP Exata, a pedido do UOL, revela a percepção de usuários de que os homens do Bope (Batalhão de Operações Especiais) agiram corretamente, enquanto o governador Wilson Witzel (PSC) tentou usar a tragédia politicamente.

O estudo elaborado pela AP Exata, que faz análise de big data nas redes sociais para avaliações políticas e de mercado, analisou por meio de algoritmos uma amostra de 13.775 tuítes ao longo de 36 horas (de 0h de terça até 12h de quarta). Todas as mensagens consideradas foram geolocalizadas em 145 cidades de todas as unidades da federação.

Ao longo de terça, as discussões sobre o sequestro e seus desdobramentos dominaram as redes sociais. No fim da tarde, 12 dos 20 assuntos mais comentados no Twitter por usuários no Brasil diziam respeito ao crime. Os termos revelam que, como tem sido praxe nas discussões políticas desde a eleição de 2018, o assunto virou alvo de polarização nas bolhas de direita e esquerda nas redes sociais.

A consultoria avaliou a repercussão do sequestro em relação a Witzel. De acordo com o levantamento, a percepção em 40,36% dos tuítes foi negativa. Os comentários positivos para o governador concentraram 19,51% das mensagens, enquanto outros 40,13% dos comentários foram neutros, ou seja, tratavam o episódio sem fazer juízo de valor.

A consultoria fez buscas pelo nome do governador --dessa forma, os mais de 13 mil tuítes abarcam tudo que esteve associado a ele no período analisado.

Segundo Sergio Denicoli, diretor da AP Exata e responsável pelo estudo, a análise textual dos tuítes mostra as narrativas mais frequentes sobre Witzel e o sequestro.

"A população gostou do fato de o sequestrador do ônibus ter sido executado. Há a ideia de que ele estava ameaçando a vida de pessoas e para preservar essas vidas a polícia agiu corretamente. No caso da comemoração do governador, as pessoas acharam que foi exagerado. E mais que isso: muitas pessoas acharam que não foi uma ação espontânea. Que ele fez aquilo como uma ação política para ganhar visibilidade", afirmou.

"Não são só pessoas que ficaram chocadas com a comemoração perante um fato muito triste, mas também tem a questão de que ele não foi autêntico. Que espetacularizou aquele momento para ter ganho político."

"Comemorei a vida", justifica Witzel

Minutos após snipers do Bope balearem Willian, Witzel chegou de helicóptero ao local. Ao descer, pulou e agitou os braços com um sorriso. A cena foi gravada pelo secretário de Governo e Relações Internacionais, Cleiton Rodrigues, que o acompanhava.

Diante da repercussão negativa da atitude, Witzel negou em entrevista coletiva que tivesse celebrado a morte do criminoso.

"Algumas pessoas disseram que comemorei a morte. Eu comemorei a vida. Em momento algum vou manifestar a morte de quem quer que seja. Estávamos em dois momentos distintos: a morte de um agressor e a vida de pessoas que são pais, avós, trabalhadoras", disse. Antes, o governador já havia dito que não pôde "se conter" diante do resgate dos reféns.

Eleito com um discurso linha dura contra o crime, Witzel tem se notabilizado pelo uso político de ações de segurança pública. Ao contrário do que faziam outros governadores, tem participado pessoalmente da apresentação de resultados de ações de vulto na área, como a prisão dos suspeitos pelos assassinatos da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes, em março, e a apreensão recorde de drogas e armas no Complexo da Maré, em julho.

Também têm sido frequentes suas agendas em cerimônias das policiais e das Forças Armadas, nas quais diversas vezes vestiu fardas e trajes típicos dos agentes de segurança.

Na mesma entrevista, Witzel tentou usar a ação da PM --elogiada por especialistas por seguir os protocolos internacionais-- para defender sua política de segurança, que tem sido criticada pelos recordes de letalidade nas operações policiais. Nos últimos dias, ao menos seis jovens inocentes foram mortos durante ações das polícias na região metropolitana do Rio, fato que gerou repercussão internacional.

Mesmo sem provas, Witzel contradisse as informações colhidas pela PM e tentou atribuir o sequestro a traficantes. O comandante do Bope, tenente-coronel Maurílio Nunes, que ficou à frente da ação na ponte, disse que psicólogos de sua unidade constataram durante a negociação que o sequestrador tinha um perfil psicótico. Familiares de Willian relataram aos policiais que ele estava em surto.

"Vamos investigar, mas tenho na minha convicção de que esse fato que ocorreu hoje tem vinculação com o crime organizado, que estimula esse tipo de ação terrorista. Nós temos que tomar as providências imediatas para fazer cessar essas atividades criminosas", afirmou.

Interpelado por jornalistas sobre quais evidências teria para fazer esse tipo de afirmação, o governador se irritou:

"É minha convicção. Minha convicção. O meu entendimento como estudioso. Vocês ouvem um monte de especialistas e esquecem que eu também sou especialista. Sou estudioso do direito penal há mais de 20 anos. A minha convicção é de que essas facções estimulam atos terroristas, senão direta, indiretamente. Estimulam atos terroristas. Eu acredito que, como ocorre em outros países, o terrorismo estimula pessoas a agirem contra o Estado. Para causar o caos, causar a desestabilização das autoridades."

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