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Multinacionais em Hong Kong ouvem recado para obedecer à China

Angus Whitley, Iain Marlow e Jinshan Hong

21/08/2019 18h27

(Bloomberg) -- Diante da escalada dos protestos contra o governo em Hong Kong neste mês, a KPMG orientou funcionários na cidade a não falar em nome da empresa em público. A gigante de auditoria e contabilidade expressou também seu firme apoio à política chinesa para governar Hong Kong.

Sua rival PwC distribuiu uma mensagem semelhante aos funcionários, pedindo que evitem revelar qualquer informação sobre a empresa nas redes sociais, conforme emails lidos pela reportagem.

É esta a nova realidade para multinacionais que há muito tempo enfrentam uma questão delicada: Qual é o preço do acesso à maior economia da Ásia? A reação de Pequim aos protestos, particularmente a atitude repressora contra a Cathay Pacific Airways, ajuda a formular a resposta. O preço é a conformidade com a visão de mundo do Partido Comunista ? da diretoria ao chão da fábrica.

"O governo chinês não vê o mundo dos negócios como separado do Estado e deixou claro que, quem quiser fazer negócios na China, faz bem em andar na linha", disse Steve Vickers, presidente da consultoria de risco político e corporativo Steve Vickers & Associates, que já foi chefe da Agência de Inteligência Criminal da Polícia Real de Hong Kong.

Em comunicado divulgado em 5 de agosto, a PwC informou que respeita plenamente o direito à liberdade de expressão, mas lamenta a intensificação da violência nos protestos e condenou "o uso de redes sociais para espalhar notícias falsas utilizando a identidade corporativa da empresa" que, segundo a PwC, foram elaboradas para enganar o público. A KPMG não respondeu imediatamente a um pedido de comentário da reportagem.

A Cathay, principal companhia aérea de Hong Kong, virou símbolo do que acontece quando o governo chinês entende que uma empresa passou do limite.

Depois que alguns funcionários expressaram apoio aos protestos em Hong Kong, estatais boicotaram a companhia aérea e autoridades ameaçaram proibir a entrada de seus aviões no espaço aéreo da China continental. Em poucos dias, o presidente da Cathay se demitiu e a companhia aceitou uma lista de exigências de Pequim. Pelo menos três pilotos deixaram a empresa ? um supostamente teria comentado sobre os protestos com passageiros em um voo partindo de Tóquio.

No mundo corporativo, poucos alvos são tão grandes quanto a Cathay, ícone de Hong Kong que enfrentaria graves dificuldades caso perdesse acesso à China continental. No entanto, dezenas de empresas internacionais ? desde montadoras de automóveis a marcas de vestuário e bancos? poderiam facilmente se ver em situação similar.

O HSBC Holdings é um clássico exemplo. Fundado em Hong Kong em 1865, o banco mudou a sede para Londres antes da transferência da soberania para a China, em 1997, mas ainda gera metade da receita na Ásia, incluindo a China continental.

Sobre os atuais protestos, o banco até agora não parece disposto a impor restrições aos empregados ? 238.000 pessoas em regime de trabalho integral, segundo dados de junho. De acordo com o Financial Times, gerentes do HSBC autorizaram subordinados em Hong Kong a participar de uma manifestação em um dia útil em junho, desde que não infringissem a legislação.

"O banco sempre respeitou a noção de que nossos funcionários têm opiniões pessoais próprias sobre questões políticas e sociais", afirmou o HSBC por email.

Talvez seja uma postura arriscada. Um pilar da estratégia do HSBC é alavancar sua presença em Hong Kong para avançar na China continental, onde já atua como banco comercial e de varejo.

--Com a colaboração de Robert Williams, Shirley Zhao e Alfred Liu.

Repórteres da matéria original: Angus Whitley Sydney, awhitley1@bloomberg.net;Iain Marlow em Nova Delhi, imarlow1@bloomberg.net;Jinshan Hong Hong Kong, jhong214@bloomberg.net

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