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Extremos climáticos desestabilizam cafezais e ameaçam safra

Fabiana Batista

21/08/2019 14h56

(Bloomberg) -- Os cafezais do País penaram no último ano, enfrentando tanto o frio quanto o calor extremo que ameaçam a produtividade das plantas.

Na fazenda de Arnaldo Botrel Reis, as folhas dos pés de café estão caindo em níveis acima do normal ? sinal que sua plantação de 120 hectares de árvores de café do tipo arábica terá produtividade 20% inferior ao potencial, segundo o produtor de 57 anos.

Os extremos climáticos deixaram as plantas "desequilibradas", disse Reis na terça-feira durante uma conferência do setor em Guaxupé, Minas Gerais.

A queda de folhagem sinaliza menor produtividade porque as folhas "alimentam" os grãos que se vão ser formados nos meses seguintes para a safra de 2020, explicou José Donizete Alves, pesquisador da Universidade Federal de Lavras. O processo de desfolha recente foi "significativo", disse ele.

Enquanto isso, muitas árvores floresceram prematuramente nas últimas semanas. Com a previsão de tempo seco e quente em setembro, as árvores provavelmente perderão flores, acredita Carlos Augusto Rodrigues de Melo, presidente da Cooperativa Cooxupé, a maior do País em café do tipo arábica. As flores normalmente evoluem para o fruto que contém o grão de café.

"O potencial da próxima safra ainda está ameaçado", disse Tiago Ferreira, responsável pela divisão de café no Brasil da Marex Solutions. "O frio intenso de julho, a desfolha aguda e a floração importante nos últimos dias podem se refletir em uma colheita em 2020 abaixo das expectativas do mercado."

"Além disso, várias flores podem acentuar dificuldades relacionadas a qualidade", acrescentou.

O Brasil é líder mundial em produção e exportação do produto e uma safra menor pode ajudar a estabelecer um piso para os preços. Os contratos futuros de arábica recuaram mais de 6% desde o começo do ano em Nova York e os preços estão abaixo do custo de produção em alguns países da América Central.

Anteriormente, uma onda de calor prejudicou a safra de 2019, que está quase concluída, segundo Melo. A previsão da cooperativa era que seus associados e não associados entregassem este ano 5,7 milhões de sacas de 60 quilos. Agora, no finalzinho da colheita, a Cooxupé registra 5,2 milhões de sacas, ou 8,8% menos que o projetado.

Mais desafios climáticos são esperados nos próximos meses, em meio às floradas. As chuvas devem ficar dentro da média histórica em outubro, novembro e dezembro, mas as temperaturas voltarão a ser mais altas que o normal, alertou o climatologista Francisco de Assis Diniz, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), durante sua apresentação na conferência.

"Temos visto aumento das temperaturas médias anuais nas últimas décadas", disse Diniz. Para janeiro, ele prevê seca prolongada e calor extremo.

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