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Entenda por que Donald Trump quer comprar a Groenlândia da Dinamarca

11.jul.2015 - Vista geral de Upernavik, na Groenlândia - Ritzau Scanpix/Linda Kastrup via Reuters
11.jul.2015 - Vista geral de Upernavik, na Groenlândia Imagem: Ritzau Scanpix/Linda Kastrup via Reuters

Em Kulusuk, Dinamarca

21/08/2019 11h10

Por que Donald Trump quer fazer da Groenlândia o 51º estado americano? À primeira vista, este imenso território gelado oferece poucos atrativos, mas seus recursos naturais e sua situação geográfica fazem dele uma peça importante para o futuro, diante do apetite de China e Rússia no Ártico.

Copenhague e o governo local rejeitaram de forma categórica a oferta de compra da possessão dinamarquesa autônoma feita pelo presidente americano. Em resposta, Trump cancelou uma visita que faria no início de setembro à Dinamarca, seu aliado na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).

"Terra verde"

A Groenlândia - "terra verde" em dinamarquês - tem verde apenas no nome. Com três quartos de sua superfície cercados pelas águas do oceano Ártico, esta ilha de quase dois milhões de quilômetros quadrados (quase quatro vezes o tamanho da França) é 85% recoberta de gelo.

A Groenlândia era uma colônia dinamarquesa até 1953, quando passou a fazer parte da "Comunidade do Reino" dinamarquês. Em 1979, a ilha ganhou status de "território autônomo", com uma economia que depende fortemente de subsídios de Copenhague.

Mais de 90% de seus 55 mil habitantes são inuits procedentes da Ásia Central. Cerca de 17 mil vivem na capital, Nuuk.

No centro do aquecimento global

Este imenso território se encontra na linha de frente do derretimento das geleiras árticas, região que se aquece duas vezes mais rápido do que o restante do planeta.

Segundo a Organização Meteorológica Mundial, o nível dos oceanos continua a subir em torno de 3,3 milímetros por ano, e o fenômeno parece se acelerar: o nível dos mares aumentou de 25% a 30% mais rápido entre 2004 e 2015, em relação ao intervalo de 1993 a 2004.

O derretimento da calota glacial da Groenlândia (inlandsis, ou manto de gelo) está na origem de 25% deste aumento, contra 5% há 20 anos, e corre o risco de se intensificar à medida que geleiras e calotas de gelo derretem.

Se vier a desaparecer totalmente, o território tem gelo suficiente para elevar em sete metros o nível dos oceanos.

Gemas e petróleo

Para além da exportação de pescado, é sobretudo por suas entranhas que a Groenlândia desperta tanto interesse das potências estrangeiras: seu subsolo esconde minerais preciosos (ouro, rubi, urânio, olivina) e reservas de gás e petróleo.

A China já tem uma licença para uma mina de terras-raras.

O derretimento das geleiras também deixa escapar uma espécie de poeira rochosa, rica em minerais que podem servir de fertilizante para solos exaustos e áridos, como na África, ou na América do Sul, por exemplo.

Rotas do Norte

No fim da Guerra Fria, Washington abandonou o Ártico, mas a situação mudou com as novas pretensões chinesas e com o intervencionismo da Rússia para além de suas fronteiras.

A China avançou uma presença que é, por enquanto, sobretudo econômica e científica. Ela se espalha para ganhar mercados e espera tirar proveito da rota do Norte, que reduz o trajeto entre os oceanos Pacífico e Atlântico.

Já a Rússia espera se tornar, no Ártico, primeira potência econômica e militar, também se beneficiando da rota do Norte e da abertura da passagem do Norte-Leste, que simplificará a entrega de hidrocarbonetos no Sudeste Asiático.

Uma velha ambição

Não é a primeira vez que os Estados Unidos tentam colocar as mãos na Groenlândia. Já em 1867, o Departamento de Estado havia manifestado seu interesse. Depois, em 1946, o presidente Harry S. Truman havia oferecido US$ 100 milhões no câmbio da época - em ouro - por essa ilha e por territórios do Alasca. Sem sucesso.

Os americanos conseguiram desenvolver sua base aérea de Thulé, no extremo norte-ocidental da Groenlândia. Com 600 homens, a base da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) opera sistemas de alerta para a detecção de mísseis balísticos e de vigilância por satélite.

Talvez Donald Trump tenha consultado um manual de História ao propor a compra da Groenlândia à Dinamarca. Em 1916, o reino escandinavo concordou com a venda, por US$ 25 milhões, das Índias Ocidentais Dinamarquesas, nas Antilhas, que se tornaram as Ilhas Virgens Americanas.

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