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Policiais do Rio mataram 194 pessoas em julho, maior índice desde 1998

Polícia Militar realiza operação no Morro do Fallet no Rio de Janeiro (RJ), nesta sexta-feira (8); durante operação, 14 pessoas foram mortas - BETINHO CASAS NOVAS/ESTADÃO CONTEÚDO
Polícia Militar realiza operação no Morro do Fallet no Rio de Janeiro (RJ), nesta sexta-feira (8); durante operação, 14 pessoas foram mortas Imagem: BETINHO CASAS NOVAS/ESTADÃO CONTEÚDO
do UOL

Alex Tajra e Igor Mello*

Do UOL, em São Paulo e no Rio

21/08/2019 17h23Atualizada em 21/08/2019 20h34

O mês de julho registrou um aumento de 49% nas mortes causadas por agentes do estado no Rio de Janeiro em relação ao mesmo período do ano passado. Ao todo, foram 194 mortes, segundo dados divulgados hoje pelo ISP (Instituto de Segurança Pública).

De acordo com o órgão, esse é o mais alto índice de letalidade policial desde que teve início a medição, em 1998 --o antigo recorde foi registrado em agosto de 2018, quando 176 pessoas foram mortas por policiais no Rio.

O número não contabiliza os seis assassinatos de jovens por armas de fogo em comunidades da cidade na última semana. A despeito de não haver confirmação de que essas mortes ocorreram por intervenção policial, parte delas se deu durante operações da PM nos respectivos bairros.

Também não foi contabilizada a morte de Willian Augusto da Silva, 20, que sequestrou um ônibus na ponte Rio-Niterói ontem e foi alvejado por um atirador de elite.

Segundo os números do ISP, julho consolidou-se como o sétimo mês seguido de aumento de mortes por intervenção policial, quando comparado aos mesmos períodos do ano passado.

De acordo com o ISP, nos últimos três meses, houve aumento de 20% no número de mortes em relação ao mesmo período do último ano.

As mortes em confronto nunca representaram uma parcela tão grandes da letalidade violenta no Rio. No mês passado, 37,5% de todos os homicídios registrados foram cometidos por policiais.

Neste ano, a ação policial já deixou 1.075 vítimas, um aumento de 19,6% em relação ao mesmo período de 2018, quando houve 899 mortes. Na última década, apenas um ano completo teve tantas mortes quanto as registradas nos sete primeiros meses de 2019 --foi 2018, quando houve 1.534 homicídios por intervenção policial entre janeiro e dezembro.

Mais de 92% dos assassinatos ligados à ação da polícia neste ano ocorreram na região metropolitana do Rio --991 dos 1075 casos.

O aumento no número de mortes coincide com a chegada de Wilson Witzel (PSC) ao Palácio Guanabara. Desde que venceu a eleição, o governador vem defendendo o "abate" de criminosos que portem armas de uso restrito, como fuzis.

No governo de Witzel, o Rio tem sido palco de operações policiais com alta letalidade. Em fevereiro, 15 pessoas foram mortas nas comunidades do Fallet e Fogueteiro, em Santa Teresa. Já em maio, uma ação da Core (Coordenadoria de Recursos Especiais), força de elite da Polícia Civil, deixou oito mortos no Complexo da Maré.

Em ambos os casos, moradores denunciaram à Defensoria Pública do Estado, à Defensoria Pública da União e ao Ministério Público do Rio que policiais mataram vítimas já rendidas. Também houve relatos de ações abusivas dos agentes, como invasão de casas sem mandado judicial, agressões, furtos e prisões sem nenhuma suspeita concreta.

Nesta terça, durante coletiva para tratar do sequestro de um ônibus na ponte Rio-Niterói, o governador voltou a atacar a oposição e os defensores de direitos humanos. Ele afirmou que não mudará as diretrizes das operações policiais. "Quando a oposição se levanta e diz que eu não valorizo a vida do favelado é um discurso absolutamente desprovido de bom senso e de razão. Se tem algo que eu me preocupo e que nosso governo está preocupado é com a vida do favelado", disse.

Nós nos preocupamos, sim, com os favelados, com as pessoas pobres e mais humildes. E queremos preservar vidas. Mas enquanto eles desfilarem em bailes funk , desafiando a sociedade com armas de guerra, estaremos chorando vítimas e recebendo na Delegacia de Homicídios todos os meses

Wilson Witzel, governador do Rio de Janeiro

Ontem, o UOL mostrou que, em seis meses, as polícias do Rio mataram 881 pessoas --nenhuma delas em áreas dominadas pelas milícias. O conjunto de operações aponta que a política de "abate", defendida pelo governador Wilson Witzel (PSC), se concentrou exclusivamente em áreas sob domínio de facções criminosas ligadas ao tráfico de drogas.

A constatação é resultado do cruzamento de dados estatísticos do ISP com pesquisas do Observatório de Segurança RJ, do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes, e ainda relatos de moradores e entrevistas com especialistas em Segurança Pública.

Número de homicídios dolosos segue tendência nacional e cai no estado

Os números do ISP também revelam que houve 309 homicídios dolosos (quando há intenção de matar) no último mês, menor número de vítimas desde 2015.

No acumulado do ano, 2.392 pessoas foram mortas, com queda de 23% em relação ao mesmo período de 2018. A redução nos homicídios no Rio acompanha um padrão registrado em todo o Brasil desde meados de 2018. Segundo especialistas, a queda tem relação com uma reacomodação da divisão de forças entre as principais facções criminosas do país..

Ainda segundo o instituto, roubos de veículo e de carga também registraram redução em comparação a 2018:

  • Homicídios dolosos caíram de 410 para 309 (-25%)
  • Roubos de carga caíram de 731 para 691 (-5%)
  • Roubos de veículo caíram de 3.518 para 3.198 (-9%)

*Com reportagem de Sérgio Ramalho, colaboração para o UOL no Rio

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