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Premiê italiano renuncia ao cargo depois de fazer um discurso duro contra Salvini

20/08/2019 12h03

A estratégia do populista Matteo Salvini, número dois do governo da Itália, para convocar eleições antecipadas em seu país caminha na direção traçada pelo líder de extrema direita: o primeiro-ministro Giuseppe Conte anunciou sua renúncia ao cargo nesta terça-feira (20). Depois de pronunciar um discurso duro contra Salvini no Senado, Conte declarou que vai entregar sua demissão ainda hoje ao presidente da República, Sergio Mattarella.

"Termino aqui essa experiência de governo. Quero concluir essa passagem institucional de forma coerente", disse Conte, logo após fazer um discurso extremamente duro contra Salvini, reforçando ainda mais a rivalidade entre a Liga e o Movimento 5 Estrelas.

Depois de formarem uma coalizão de governo durante 14 meses, a delicada aliança entre a Liga, o partido de extrema direita de Salvini, e o antissistema M5E rompeu-se de forma definitiva. No dia 8 de agosto, Salvini decidiu pedir eleições antecipadas.

Em seu discurso, Conte acusou Salvini de ter sido irresponsável ao provocar uma crise na coalizão em meio ao recesso parlamentar de verão. Ele assinalou que Salvini seguiu apenas seus próprios interesses e de seu partido, gerando graves riscos à Itália, sobretudo de levar o país a uma crise financeira. Conte também afirmou que a Itália está enfraquecida em suas negociações com a União Europeia devido às posições intransigentes de Salvini, sobretudo no tocante à imigração e ao orçamento.

Após o pronunciamento, as ações dos bancos italianos recuaram 2,1% na Bolsa de Milão, mas rapidamente reduziram as perdas para -0,9%. Conte declarou que irá permanecer no Parlamento até o final do debate iniciado às 15h (10h de Brasília), previsto para durar 3h45, antes de seguir para a sede da Presidência italiana.

Cenário incerto

A renúncia de Conte abre caminho para vários cenários. Um deles, apontado com frequência pelos analistas, é a possível formação de um novo governo com outra coalizão, da qual fariam parte o M5E, vencedor das eleições de 2018 com 32%, e o Partido Democrático (centro esquerda), que ficou em segundo, com 18%. A crise desencadeada pelo fim da aliança no poder não apenas gerou preocupação pela estabilidade econômica da Itália, terceira maior economia da zona do euro, como também acabou aproximando duas legendas até então rivais. Essa aliança pode conter o impressionante avanço de Salvini e de sua política de extrema direita.

O líder populista mudou sua atitude nos últimos dias, tentando se reconciliar com o M5E. "Meu celular está sempre ligado", disse ele, confiando nas divisões entre a ala esquerda do M5E e a ala direita, liderada por Luigi di Maio, atual líder e também vice-primeiro-ministro. Mas o fundador do movimento antissistema, o comediante Beppe Grillo, fechou as portas para uma reconciliação, acusando Salvini de ser um traidor.

Figura-chave

Conte, um advogado sem experiência política, tornou-se nos últimos dias a figura-chave para o futuro do país. Em uma carta aberta, o ex-advogado próximo à esquerda esclareceu sua posição, contrariando a política anti-imigração de Salvini e o fechamento de portos para navios humanitários.

Depois de receber o pedido de demissão de Conte, o presidente Mattarella, árbitro da situação, conforme previsto pela Constituição italiana e seu complexo sistema parlamentar, deverá examinar várias alternativas por meio de consultas com as forças políticas.

Vários líderes históricos da centro-esquerda de diferentes correntes consideram que a oportunidade deve ser aproveitada para formar um governo sólido e progressista, com o apoio da União Europeia, que ofereça uma resposta ao fenômeno da migração, ao desemprego dos jovens e à dívida pública.

Por outro lado, Salvini aposta em sua forte popularidade para enfrentar eleições antecipadas, eventualmente em outubro. Ele acredita que a Liga pode conquistar a maioria do Parlamento e, com isso, ele se veria livre para governar sozinho.

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