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Em CPI, ex-chanceler paraguaio tenta se desvincular de acordo com o Brasil

19/08/2019 20h42

Assunção, 19 ago (EFE).- O ex-ministro das Relações Exteriores do Paraguai Luis Alberto Castiglioni prestou depoimento à Comissão Bicameral de Investigação do Congresso do país sobre o acordo para a compra de energia de Itaipu firmado com o Brasil e voltou a afirmar que desconhecia o conteúdo das negociações entre os dois países.

O documento provocou a maior crise do governo de Mario Abdo Benítez e fez a oposição protocolar um pedido de impeachment contra o presidente e o vice, Hugo Velázquez. A solicitação está na Câmara dos Deputados e pode ser votada na quarta-feira, mas, por enquanto, os opositores não têm votos suficientes para fazer o processo avançar ao Senado.

Castiglioni falou por mais de uma hora antes de responder às perguntas dos parlamentares. O ex-ministro deu detalhes sobre a evolução das negociações, a assinatura do acordo no dia 24 de maio e as semanas que antecederam o vazamento do documento, que ocorreu em julho.

O ex-chanceler repetiu na comissão o que já tinha dito aos promotores que investigam o caso na semana passada. Na audiência, Castiglioni disse que deu aos negociadores instruções para evitar qualquer aumento das tarifas de energia no Paraguai, para manter o privilégio do país de comprar energia excedente da usina e para atuar com rigor em relação às discussões sobre o anexo C do Tratado de Itaipu, que deve ser renegociado até 2023.

Para o ex-ministro, a assinatura da ata bilateral com um cronograma para a compra de energia até 2022 tinha como objetivo regularizar a situação do Paraguai com o Brasil, dando ao país capacidade de negociar de igual para igual o anexo C do tratado no ano seguinte.

No entanto, Castiglioni tentou se desvincular das negociações, disse que não sabe detalhes do que ocorreu em Brasília porque não participou das reuniões e que só teve conhecimento do que foi relatado a ele nos relatórios escritos pela equipe paraguaia.

"Não houve nenhum sigilo ou entrega da nossa soberania, mas eu nunca soube algo sobre as negociações paralelas. (...) Desde o início deste processo, na minha função como chanceler, cumpri estritamente o que a lei estabelece", afirmou o ex-chanceler.

Castiglioni citou pela primeira vez a possível existência de "negociações paralelas" entre os dois países na última quarta-feira, quando foi ouvido pelos promotores responsáveis por investigar o caso no Paraguai.

A "negociação paralela" seria sobre uma cláusula que permitia ao Paraguai vender energia para empresas brasileiras e que foi retirada do acordo por pressão do advogado José Rodríguez González, que dizia ser representante de Velázquez.

"Posso ver claramente que houve uma negociação paralela, sem dúvida alguma", disse Castiglioni após o depoimento ao Ministério Público.

No Congresso, o ex-ministro também falou sobre a decisão de renunciar ao cargo. Segundo ele, sua saída ocorreu para ajudar Abdo Benítez a manter o controle da situação e contornar a maior crise de seu governo desde que assumiu o poder em 2018. EFE

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