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Da Aquarius a Sea Watch, a guerra de Salvini contra as ONGs

19/08/2019 10h55

ROMA, 19 AGO (ANSA) - Por Beatriz Farrugia - O drama do navio Open Arms é o episódio mais recente do "braço de ferro" entre o governo da Itália e as ONGs que atuam no resgate de imigrantes no Mar Mediterrâneo.   

Desde que assumiu os cargos de ministro do Interior e vice-premier da Itália, em junho de 2018, Matteo Salvini, expoente do partido nacionalista Liga Norte, decidiu dar um basta à política imigratória adotada pelo governo anterior de Matteo Renzi, do esquerdista Partido Democrático (PD).   

Renzi permitia que dezenas de imigrantes, a maioria proveniente de países com guerras e conflitos no norte da África e no Oriente Médio, desembarcassem diariamente na Itália, em nome da solidariedade e da dignidade humana. Essa política fez com que a Itália passasse a figurar entre os países europeus que mais recebiam imigrantes, além de tornar a ilha de Lampedusa símbolo da crise imigratória.   

Apesar de Renzi exigir o que ele mesmo chamava de "responsabilidade compartilhada" de outros países da União Europeia para a gestão da crise, a oposição italiana começou a criticar a política do governo, colocando em xeque os custos das operações de resgate e da manutenção de estruturas de acolhimento.   

Um dos principais críticos da imigração em massa à Itália, Salvini se apropriou de um discurso contra as ONGs, acusando-as de facilitarem a imigração ilegal e de favorecerem o tráfico, uma vez que resgatavam do mar pessoas que teriam pago pelos serviços ilegais de "coiotes".   

O líder da Liga Norte alega que, com medidas restritivas nos portos italianos, está "salvando os imigrantes", evitando que se lancem no mar na busca de um sonho europeu. Graças a dois decretos de segurança aprovados no intervalo de um ano, Salvini conseguiu amparar sua política na legislação italiana. Agora, as ONGs são impedidas de desembarcarem imigrantes na Itália sem autorização prévia e correm o risco de pagarem multas milionárias, terem seus navios apreendidos e seus capitães presos.   

Há 18 dias, o navio Open Arms, da ONG espanhola Proactiva, está à deriva esperando autorização para desembarque em um porto europeu. Após ser rejeitada por Malta, a embarcação seguiu para a Itália e também recebeu um "não" de Salvini. A entidade tinha resgatado 150 pessoas no Mediterrâneo. Hoje, 107 ainda estão a bordo - as outras foram levadas para hospitais de Lampedusa para tratamento médico -. Apesar dos apelos da Proactiva de que existe uma emergência sanitária dentro da embarcação, Salvini insiste em manter o bloqueio. "A ONG espanhola rejeitou a oferta da Espanha de desembarcar em um porto espanhol. É inacreditável e inaceitável. Organizam cruzeiros turísticos e decidem onde desembarcar? Eu não desisto.   

A Itália não é mais o campo de refugiados da Europa", disse em seu perfil no Twitter, referindo-se à oferta do governo espanhol que foi recusada pela Open Arms.   

O caso ocorre apenas dois meses depois de outro episódio que ganhou repercussão mundial. O navio Sea Watch 3, da ONG alemã de mesmo nome, ficou duas semanas esperando autorização da Itália para desembarcar cerca de 40 imigrantes resgatados na costa da Líbia.   

Com a negativa do governo, a capitã Carola Rackete decidiu violar a proibição e forçar a ancoragem do navio em Lampedusa.   

Ela foi presa pelas autoridades italianas e chegou a processar Salvini pelas criticas feitas pelo político nas redes sociais, nas quais a chamava de "traficante" e "criminosa". Outro caso emblemático foi o do navio Aquarius, operado pelas ONGs Médicos Sem Fronteiras (MSF) e SOS Méditerranée. A embarcação abandonou suas operações após perder seu registro no Panamá e não conseguir obter bandeira de nenhum outro país devido às pressões da Itália. De acordo com o Ministério do Interior italiano, desde 1 de janeiro, desembarcaram 4.399 imigrantes no país. No ano passado, no mesmo período, o número foi de 19.358 mil pessoas. Em 2017, de 97.878. Cerca de 25% dos imigrantes que chegaram por mar à Itália em 2019 são tunisianos (1.107 pessoas), seguidos por paquistaneses (673 pessoas). (ANSA)
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