Situação 'explosiva' no 'Open Arms', barrado na costa de Lampedusa
Roma, 16 Ago 2019 (AFP) - O capitão do navio da ONG espanhola Open Arms, ancorado nesta sexta-feira a algumas centenas de metros do porto italiano de Lampedusa, descreveu a situação a bordo como "explosiva" pela revolta dos migrantes impedidos de desembarcar.
Após a evacuação de uma dezena de pessoas por motivos médicos na noite de quinta-feira, ainda restavam 134 pessoas à bordo do navio, onde algumas se encontram há duas semanas.
"Todo mundo está psicologicamente destruído. Não podemos aguentar mais esta situação. Cada segundo que passa, a bomba-relógio corre um segundo. Ou alguém corta o cabo vermelho e desativa esta bomba agora ou o Open Arms vai explodir", declarou o capitão Marc Reig à televisão estatal espanhola TVE.
"É desumano. Estamos perto da terra e as pessoas poderiam ir nadando. Querem se jogar na água. É insustentável. Não aguentam mais", insistiu Reig.
No Twitter, Open Arms explicou que tinham ameaças de suicídio à bordo e exigiu o desembarque por "urgência humanitária".
"Não cederei", advertiu na tarde desta sexta-feira o ministro do Interior italiano, Matteo Salvini, ao considerar que a ONG espanhola "ri do mundo pela enésima vez".
Comentando a situação de saúde de 13 migrantes evacuados emergencialmente do barco, assegurou que todos estavam bem, exceto uma pessoa, com otite.
Para Salvini, o navio humanitário "fez piruetas no Mediterrâneo durante dias com a única finalidade de recolher o maior número possível de pessoas para levá-las sempre e exclusivamente à Itália".
"Durante todo esse tempo, teria ido e voltado três vezes de um porto espanhol", ironizou. "Essa ONG, definitivamente, só luta batalhas políticas, sobre os ombros dos migrantes e contra nosso país", acrescentou.
- Acordo de seis países -Na quinta-feira, seis países da UE se mostraram dispostos a acolher uma parte dos migrantes do Open Arms.
"A Comissão manteve contatos intensivos durante essa semana e estamos muito agradecidos pela cooperação de França, Alemanha, Luxemburgo, Portugal, Romênia e Espanha", declarou na sexta-feira a porta-voz Vanesa Mock.
"A situação em que as pessoas estão abandonadas no mar durante dias e semanas resulta insustentável", advertiu.
Esse é o enésimo caso de uma embarcação humanitária à deriva no Mediterrâneo à espera de que o governo italiano e seu ministro do Interior autorizem o desembarque.
Em uma mudança evidente de discurso, o primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte, criticou a "obsessão" de Salvini pela questão migratória e por manter "fechados os portos".
"Está claro que sem minha resolução a União Europeia nunca teria movido um dedo e teria deixado a Itália e os italianos à própria sorte, como fez durante anos", afirmou Salvini em uma mensagem no Facebook.
- Roma no centro da crise -Após romper a coalizão de governo na semana passada, Salvini havia apresentado uma moção de censura, mas seus planos de forçar uma convocatória imediata de eleições antecipadas foram frustrados.
Uma aliança imprevista entre o M5E e o Partido Democrata (centro-esquerda) permitiu adiar, sem uma data estabelecida, a votação da moção. No entanto, o primeiro-ministro Conte deverá enfrentar em 20 de agosto o voto de uma moção de confiança no Senado.
Em plena crise institucional, o caso do "Open Arms" é um tema de disputa entre os diferentes atores da política romana.
As tentativas de Salvini de impedir a entrada dos imigrantes em portos italianos com dois decretos consecutivos foram derrubadas primeiro pela justiça italiana e depois pela própria ministra da Defesa, antiga sócia e atual adversária política, que se negou a assinar o segundo deles argumentando razões humanitárias.
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