Topo
Notícias

Seis países da UE aceitam receber migrantes resgatados por ONG espanhola

15/08/2019 20h23

Roma, 15 Ago 2019 (AFP) - Seis países da União Europeia mostraram-se dispostos a receber parte dos 147 migrantes do barco humanitário da ONG espanhola Open Arms, que se encontra perto da ilha italiana de Lampedusa.

"França, Alemanha, Romênia, Portugal, Espanha e Luxemburgo acabam de informar que estão dispostos a receber migrantes", escreveu o primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte, em uma carta aberta dirigida ao ministro italiano do Interior, Matteo Salvini.

"Mais uma vez, meus colegas europeus estendem a mão", agradeceu Conte, ao mesmo tempo que criticou a postura de Salvini contrária aos migrantes.

Criticando a "atenção obsessiva" de Salvini sobre este tema da imigração "reduzida à fórmula 'portas fechadas'", o acusou de "colaboração injusta".

Conte escreveu na quarta-feira ao ministro pedindo-lhe para autorizar o desembarque dos 32 menores a bordo dos "Open Arms". Mas ele acusou Salvini de ter deturpado suas palavras.

O chefe do governo italiano disse que lutou com ele por "um mecanismo europeu" que seria "quase automático" para redistribuir migrantes entre todos os países europeus.

"Comigo os portos são e continuarão a ser fechados para os traficantes e seus cúmplices estrangeiros", respondeu Salvini. "E é claro que, sem essa firmeza, a União Europeia nunca teria movido um dedo, deixando a Itália e os italianos em paz", afirmou.

O poder de Matteo Salvini, líder do partido Liga (extrema-direita) e atualmente vice-premier, passa por momentos de fragilidade desde que ele decidiu, semana passada, dinamitar a aliança governamental, formada há apenas 14 meses entre sua formação e o Movimento Cinco Estrelas (M5S, antissistema). O caso da Open Arms evidenciou suas dificuldades.

O ministro do Interior, que exige um rodízio europeu de portos de desembarque, assinou no início do mês um decreto que proibia a entrada de barcos humanitários em águas territoriais italianas sem autorização.

Na quarta-feira, um tribunal administrativo suspendeu a aplicação do primeiro decreto, contra o qual a própria "Open Arms" havia apresentado um recurso.

Salvini assinou então um novo decreto para impedir a entrada do barco, mas este deveria ser validado pela ministra da Defesa, Elisabetta Trenta.

Integrante do M5S, Trenta se negou a referendar a decisão de Salvini: "Decidi não assinar o novo decreto do ministro do Interior destinado a impedir a entrada, trânsito e parada nas águas territoriais do barco da ONG Open Arms".

- "Humanidade" - "A política não deve perder nunca de vista a humanidade", explicou Elisabetta Trenta em um comunicado divulgado nesta quinta-feira.

"Humanidade não significa ajudar os traficantes e as ONGs", rebateu Salvini nas redes sociais. "É graças a este suposto conceito de 'humanidade' que nos anos de governo (do Partido) Democrático a Itália se tornou o campo de refugiados da Europa".

Salvini, que tem atualmente 36-38% das intenções de voto, baseia sua popularidade na linha dura contra a migração ilegal. Nos últimos dias parece ter sido formada uma inesperada frente política de oposição à Liga, formada pela aliança entre o M5S e o Partido Democrático (centro-esquerda).

A Open Arms garantiu na quarta-feira que não pretendia atracar pela força.

Na noite de quinta-feira, a ONG anunciou no Twitter que só tinha sido autorizada a desembarcar em Lampedusa "cinco pessoas por razões psicológicas, juntamente com os seus acompanhantes", sem especificar o número total de imigrantes envolvidos.

O Ocean Viking, navio humanitário das ONGs Médicos Sem Fronteiras e SOS Méditerranée ainda busca um local para atracar com seus mais de 350 imigrantes a bordo. Na quinta-feira o barco se dirigia para o norte, longe de Lampedusa e Malta.

cm/avz/aoc-bc/mb/lca

Notícias