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Após morte de pastor, Flordelis fecha um templo e vê filhos deixarem igreja

17.jun.2019 - A deputada federal Flordelis (PSD-RJ) durante o enterro do marido, o pastor Anderson do Carmo - Wilton Junior/Estadão Conteúdo
17.jun.2019 - A deputada federal Flordelis (PSD-RJ) durante o enterro do marido, o pastor Anderson do Carmo Imagem: Wilton Junior/Estadão Conteúdo
do UOL

Marina Lang

Colaboração para o UOL, no Rio

24/07/2019 04h00

Embora evitem falar em um rompimento direto com a mãe, a deputada federal Flordelis (PSD-RJ), ao menos três dos 55 filhos dela com o pastor Anderson do Carmo deixaram a igreja Ministério de Flordelis após o assassinato dele, em 16 de junho. Após o crime, a parlamentar também viu fiéis deixarem a igreja e fechou as portas de um dos templos em razão do afastamento de dirigentes.

Dos 55 filhos, um é biológico do casal, três são de relacionamentos anteriores da parlamentar e 51, adotivos. Dois deles foram presos por suspeita de envolvimento no crime.

O último a romper com a mãe e sair de casa na semana passada foi o músico Daniel dos Santos de Souza, 21, único filho biológico de Carmo e Flordelis. "Não consigo nem falar. Dói muito, pois ela é minha mãe", afirmou Souza em ato organizado em memória do pastor no último domingo (21) no bairro de Laranjal, em São Gonçalo, na região metropolitana do Rio.

"Acabaram de destruir esse sonho que ele tinha [construir a igreja]. Estamos aqui lutando por ele, e por ele vamos lutar por justiça", disse o músico durante a homenagem, realizada diante de um templo em construção que, segundo os filhos dissidentes, teve as obras paralisadas após o crime. Já assessoria da deputada diz que as obras continuam.

Além de Daniel, outros dois irmãos adotivos deixaram oficialmente o Ministério de Flordelis, congregação evangélica fundada pelo casal em 1999 que conta com seis templos em São Gonçalo, Niterói, Maricá e Itaboraí, municípios da Grande Rio-- um deles foi fechado após o crime e o sétimo, de Laranjal, ainda não foi finalizado. Procurada, a parlamentar não comentou o afastamento dos três filhos.

Pouco mais de dez dias após o assassinato, Alexander Felipe Matos Mendes, também conhecido como pastor Luan, foi o primeiro a deixar a congregação. Em postagem nas suas redes sociais, Luan pediu por "verdade" e "justiça" ao fazer o anúncio.

"Venho por meio desta, comunicar a minha saída do MINISTÉRIO FLORDELIS, local onde me entreguei a obra do SENHOR, de todo o meu coração ... onde cresci e amadureci muito. Mas infelizmente não consigo prosseguir no ministério mediante o ocorrido com o nosso Pr. Presidente .", escreveu.

Vagner de Andrade Pimenta, conhecido como vereador Misael (ele tem mandato na Câmara de São Gonçalo), também deixou a congregação. Ele ajudava Carmo, que era presidente do Ministério Flordelis, na gestão administrativa dos templos da igreja.

Os filhos dissidentes dizem que só se manifestarão após a conclusão do inquérito a fim de não atrapalhar as investigações.

No começo deste mês, após o desligamento de Luan e Misael, Flordelis decidiu fechar uma das filiais da congregação em Pendotiba, bairro de Niterói onde também fica a residência do casal. Em nota, a assessoria da parlamentar disse que o fechamento é temporário.

"Em razão do impacto emocional da morte do Pastor Anderson do Carmo, os dirigentes do Ministério no local afastaram-se e não há, no momento, alguém para conduzir os cultos. O conselho, contudo, colocou à disposição dos fiéis de Pendotiba, condução para que eles compareçam aos cultos no Ministério de Piratininga", diz o comunicado.

Ato em memória do pastor assassinado em Niterói (RJ) - Marina Lang/UOL - Marina Lang/UOL
21.jul.2019 - Ato pede justiça para o caso e questiona o desaparecimento do celular do pastor Anderson do Carmo
Imagem: Marina Lang/UOL

Dissidência também acontece entre fiéis

Uma fiel que preferiu não se identificar disse ao UOL ter deixado de frequentar o Ministério Flordelis após a morte do pastor. "Perdeu credibilidade. Ele era um excelente pastor, falava muito bem, cuidava de tudo. Depois do que aconteceu, não vou mais", justificou.

Uma ex-funcionária da igreja que atuou próxima à família por mais de dez anos e se afastou após o homicídio afirmou à reportagem que "houve, sim, um racha, e eu fiquei do lado de quem quer justiça de verdade".

A assessoria de imprensa da deputada federal disse, por meio de nota, que as declarações das ex-fiéis "mostram que a missão da igreja está esquecida, porque uns querem ser seguidores do Pastor Anderson e outros da Pastora Flordelis, como se isso fosse possível".

"O Ministério não é do Pastor Anderson e não é da Pastora Flordelis. É de Cristo com o objetivo de levar o Evangelho da redenção. Para a Pastora, ocasionalmente, deputada, o momento é de dor, mas de compreensão, porque assim lhe ensinou o Evangelho", diz a assessoria de comunicação da parlamentar.

Flordelis se casou com Carmo em 1993, um ano após se conhecerem em culto que a mãe da deputada organizava no Complexo do Jacarezinho, na zona norte carioca. Juntos, fundaram oficialmente a Comunidade Evangélica Ministério Flordelis seis anos depois.

De acordo com o site oficial da igreja, a atual sede, localizada em São Gonçalo, conta com capacidade para abrigar 5.000 fiéis. A página do Ministério Flordelis no Facebook agrega cerca de 350 mil fãs.

Flordelis não compareceu à manifestação do último domingo, organizada pelos filhos dissidentes.

"Eu só não fui lá pessoalmente porque estão explorando demais a minha imagem e a minha dor. Mas eu creio que a justiça será feita e eu também clamo por justiça", disse a deputada em um vídeo postado nas redes sociais.

Procurada pela reportagem, a assessoria de Flordelis disse que o posicionamento oficial da deputada consta na gravação acima.

Relembre o caso

Flávio dos Santos Rodrigues, 38, e Lucas dos Santos, 18, estão presos temporariamente pela morte na Divisão de Homicídios de Niterói e São Gonçalo, região metropolitana do Rio. Segundo a polícia, Flávio confessou ter dado seis tiros no pastor. A defesa do suspeito nega a confissão.

Segundo os investigadores, Lucas teria providenciado a compra da arma. O revólver calibre 9 mm foi achado em cima de um armário no quarto usado por Flávio dentro da casa de Flordelis. Duas perícias conduzidas pela polícia comprovaram que se trata da arma usada no crime.

Os vídeos divulgados pela polícia colocam ambos os filhos presos na cena do crime.

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