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Por que o 'Viagra feminino' é tão polêmico

21/07/2019 15h55

Vyleesi, medicamento para mulheres na pré-menopausa com baixo desejo sexual, foi aprovada pelo principal órgão de saúde pública dos Estados Unidos. Mas realmente funciona? E quais são as preocupações de saúde associadas a ele?

As mulheres nos Estados Unidos agora têm acesso a um novo remédio que promete estimular a libido, apelidado de novo "Viagra feminino".

Inicialmente, as notícias de que a agência reguladora de medicamentos dos EUA - Food and Drug Administration (FDA) - aprovou o comércio do produto foi recebida como uma vitória para a saúde sexual das mulheres.

Mas, nas semanas seguintes, cresceu o debate sobre qual deve ser o papel de remédios em questões tão complicadas quando o desejo sexual.

O composto é chamado bremelanotide - e Vyleesi é o nome da marca. Ele foi desenvolvido para mulheres que não estão passando pela perimenopausa ou menopausa, mas que sofrem da condição conhecida como transtorno do desejo sexual hipoativo (HSDD, na sigla em inglês).

Os médicos descrevem essa síndrome como uma falta de interesse frequente e persistente na atividade sexual. Estima-se que ela afete entre 6% e 10% das mulheres em idade fértil nos Estados Unidos.

Esta é a segunda vez que a indústria farmacêutica tenta criar um "Viagra feminino". A aprovação da FDA gerou controvérsia depois que os médicos expressaram dúvidas sobre a eficácia da droga e disseram que as mulheres corriam riscos ao consumir o medicamento.

Então, o bremelanotide realmente funciona? E quais são as preocupações de saúde associadas a ele?

Injeções ou comprimidos

Vyleesi - desenvolvido pela Palatin Technologies e licenciado para a Amag Pharmaceuticals - é administrado por meio de uma injeção autoaplicada.

O medicamento serve, segundo os responsáveis, para reduzir a ansiedade e melhorar o desejo sexual, ao controlar os níveis de dois neurotransmissores: aumenta a presença de dopamina e inibe a liberação de serotonina.

O novo medicamento competirá com Addyi - vendido pela Sprout Pharmaceuticals -, um comprimido diário aprovado pela FDA em 2015.

Na época, a decisão também se revelou controversa, já que alguns especialistas disseram que Addyi era "minimamente eficaz" e possivelmente inseguro para as mulheres.

Os fabricantes de Vyleesi dizem que as pacientes não precisam deixar de tomar bebidas alcoólicas enquanto usam o remédio - ao contrário das usuárias de Addyi, que inicialmente foram aconselhadas a fazer isso.

Eles também prometem efeitos colaterais mais leves e ação mais rápida, sem necessidade de uso diário.

Mas Madeleine Armstrong, uma jornalista que cobre a indústria farmacêutica, questiona essas garantias.

"As pacientes devem injetar Vyleesi pelo menos 45 minutos antes de fazer sexo, mas seus planos podem ser destruídos por náusea, que foi relatada por 40% delas, muitas vezes com ocorrência dentro de uma hora de dosagem."

Sofrimento silencioso

De acordo com um estudo de 2016, muitas das mulheres que sofrem com o transtorno do desejo sexual hipoativo nunca procuraram tratamento.

"Muitas dessas mulheres sofrem em silêncio, o que significa que não há realmente um mercado para este produto", diz William Heiden, diretor-executivo da Amag Pharmaceuticals.

"Além disso, a principal questão é se a HSDD feminina chega a ser considerada uma doença. Os analistas da Leerink estimam que cerca de 6 milhões de mulheres na pré-menopausa são afetadas, mas que 95% delas não sabem que têm uma condição médica".

Analistas do setor, contudo, estimam que o Vyleesi possa atingir vendas anuais de US$ 1 bilhão, o equivalente a R$ 3,7 bilhões.

O grupo de consultoria Bloomberg Intelligence diz que as prescrições de Addyi nos EUA cresceram mais de 400% em maio, em comparação com o mesmo mês do ano passado, atingindo um total de 3 mil.

Apesar do aumento, ainda não é comparável ao milhão de prescrições mensais do Viagra.

Controvérsia

A empresa Amag Pharmaceuticals diz que a maioria dos efeitos colaterais registrados durante os testes foram náusea moderada a grave, em cerca de 40% das usuárias. Outros efeitos colaterais relatados também incluem ondas de calor e dores de cabeça.

A FDA elogiou o novo medicamento por "dar às mulheres uma opção de tratamento" para o HSDD.

"Há mulheres que, sem razão conhecida, tiveram redução no desejo sexual, o que pode ser angustiante", disse o FDA. E agora, segundo a agência, elas "podem se beneficiar de um tratamento farmacológico seguro e eficaz".

"A aprovação de hoje oferece às mulheres outra opção de tratamento para essa condição", justificou a agência.

Mas a FDA também afirmou que não está claro como o Vyleesi atua no cérebro para alterar o desejo sexual ou a ansiedade.

Há também muito debate sobre se remédios são a melhor maneira de lidar com o distúrbio, já que os médicos dizem que um baixo desejo sexual pode ser resultado de fatores externos e psicológicos.

Houve críticas sobre o fato de que a maioria dos médicos que participaram do último painel da FDA sobre o transtorno estavam vinculados à Sprout Pharmaceuticals, a empresa por trás de Addyi.

Várias organizações de saúde das mulheres também disseram que a FDA não exigiu um exame mais profundo sobre os efeitos a longo prazo de Vyleesi.

"A boa notícia é que esse remédio [Vyleesi] não precisa ser tomado todos os dias, como Addyi", disse Diana Zuckerman, presidente do Centro Nacional de Pesquisa em Saúde, ao jornal Washington Post.

"E a má notícia é que o público não pode confiar na segurança do medicamento porque não temos acesso a informações de segurança de longo prazo sobre ele", concluiu Zuckerman.

Os estudos clínicos de Vyleesi ocorreram durante 24 semanas, envolvendo mais de 1.200 mulheres na pré-menopausa com HSDD.

A maioria das pacientes usou o medicamento de duas a três vezes por mês, mas nunca mais do que uma vez por semana.

Cerca de 25% delas disseram que experimentaram um aumento no desejo sexual - em comparação com um resultado de 17% entre as mulheres que tomaram um placebo.

No entanto, de acordo com o Centro de Pesquisas de Saúde da Mulher de Columbus - uma empresa privada de testes médicos que fez parte do estudo -, cerca de 20% das mulheres envolvidas desistiram da pesquisa, incluindo 8% que interromperam devido a náuseas.


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