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Alemanha lembra 75° aniversário de atentado fracassado contra Hitler

19/07/2019 06h01

Elena Garuz.

Berlim, 19 jul (EFE).- A Alemanha homenageia neste sábado os heróis do atentado fracassado contra Adolf Hitler de 20 de julho de 1944, data simbólica para lembrar a resistência ao regime nazista.

A chamada "Operação Valquíria" tinha como objetivo derrubar o nazismo por meio do assassinato de Hitler, mas o executor do atentado, o coronel do Estado-Maior Claus Schenk von Stauffenberg, e seus aliados foram à época considerados como traidores.

Para Johannes Tuchel, diretor do centro de memória à resistência da Alemanha, atualmente ninguém duvida da legitimidade do atentado fracassado contra Hitler. O museu fica no Bendlerblock, atual sede do Ministério da Defesa. Stauffenberg foi fuzilado no pátio do edifício na mesma noite da operação.

Mas o coronel ainda divide opiniões no país. Para uns, Stauffenberg foi um terrorista. Para outros, um herói e um patriota.

"Foi um oficial alemão que viveu um processo: de defensor da política nacional-socialista a um firme adversário do nazismo. Por isso há uma fascinação com sua figura", ressaltou Tuchel.

"Ninguém diria hoje que ele era um democrata irrepreensível, nem que forneceu respostas claras, limpas e unívocas, mas foi sim um ser de seu tempo", disse o diretor do centro.

Stauffenberg participou das campanhas militares orquestradas por Hitler nos anos 1939 e 1940. No entanto, tornou-se um crítico do regime em 1941, sobretudo após a invasão nazista da União Soviética. No ano seguinte, o coronel tentou sem sucesso convencer o Estado-Maior sobre a necessidade de atuar contra o führer. E, na primavera de 1943, retornou à frente mantida na África.

O coronel acabou gravemente ferido - perdeu um olho, uma mão e dois dedos da outra. Ao voltar a Berlim, segundo Tuchel, Stauffenberg foi a "força motriz" da tentativa de derrubar Hitler do poder.

"Esta fixação por Stauffenberg acontece porque foi um personagem fascinante, carismático, um homem político e um oficial de grande talento. Aparentemente, todos temos a necessidade de figuras com as quais queremos nos identificar, embora sua conduta não fosse impoluta", analisou Tuchel.

Para Robert von Steinau-Steinrück, presidente da 20 de Julho, fundação criada para lembrar da data, embora os "esteriótipos sociais" representados pelos integrantes da resistência não fossem necessariamente compartilhados por todos, eles buscavam acabar com os crimes cometidos pelo nazismo.

"Eles estavam em situação desesperadora e pagaram com suas vidas por isso. Eles devem e podem ser vistos como exemplos", afirmou.

Em mensagem divulgada devido ao aniversário do atentado fracassado, a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, afirmou que os heróis de 20 de julho "agiram seguindo suas consciências" e determinaram assim uma parte da história do país, que estava "marcada pela escuridão do nazismo".

"Também hoje temos a obrigação de nos opor a todas as tendências que querem destruir a democracia", alertou Merkel, em mensagem direta aos partidos de extrema direita que ganham força na Alemanha.

Já o presidente da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, pediu em carta que o valor e o espírito de sacrifício da resistência ao nazismo sejam reconhecidos, sendo ainda mais contundente contra grupos políticos que tentam exaltar os tempos de Hitler.

"A resistência lutou contra o totalitarismo, o racismo e o genocídio. Os que hoje voltam a instigar o ódio, exaltam um novo nacionalismo e flertam com regimes autoritários não têm nenhum direito de se referir à resistência e aos seus símbolos", escreveu Steinmeier.

Von Steinau-Steinrück questiona o uso feito pela Alternativa para a Alemanha (AfD), principal partido de extrema direita do país, da história de Stauffenberg e seus companheiros para tentar se legitimar como "resistência à ditadura de Merkel".

No entanto, o diretor da fundação 20 de Julho lembrou que viver em um estado de direito implica em "aceitar os rivais democráticos".

Cerca de 800 descendentes dos integrantes do grupo participarão dos atos de lembrança aos heróis de 20 de Julho. Apesar da propaganda nazista da época dizer o contrário, eles chegaram a reunir 200 opositores ao regime. EFE

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