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Legisladora democrata chama Trump de 'fascista' após comício republicano

18/07/2019 20h24

Washington, 18 Jul 2019 (AFP) - A legisladora americana Ilhan Omar chamou o presidente Donald Trump de "fascista" nesta quinta-feira (18), enquanto o presidente tentou se distanciar da polêmica gerada pelos gritos de "Mande-a de volta!", proferidos por seus apoiadores durante um comício, contra a democrata nascida na Somália.

"Dissemos que este presidente é racista, condenamos seus comentários racistas", disse a jornalistas Omar, uma das duas mulheres muçulmanas no Congresso. "Eu creio que é um fascista", acrescentou.

Os gritos de "Mande-a de volta!" surgiram na noite de terça-feira num comício de Trump "Make America Great Again", em Greenville, na Carolina do Norte, em resposta a uma furiosa campanha do presidente contra Omar e outras três congressistas pertencentes a minorias.

Em declarações à imprensa na Sala Oval, Trump disse que desaprovava o que aconteceu. "Eu diria que não fiquei feliz com aquilo. Eu discordo daquilo. Mas, de novo, não fui eu quem gritou - foram eles. E eu discordei", garantiu.

Quando perguntado por que ele não fez nada para silenciá-los, em vez de parar enquanto a multidão gritava repetidamente "Mande-a de volta!", Trump respondeu: "Acho que fiz sim, comecei a falar muito rápido".

Imagens da televisão mostraram que Trump deixou os gritos continuarem por pelo menos 13 segundos antes de voltar a falar.

- "Avanço do socialismo" -Trump foi repreendido na terça-feira pela Câmara dos Representantes, dominada por democratas, por seus "comentários racistas" contra as quatro legisladoras, conhecidas como "O Esquadrão". Nesses comentários, O presidente destacou que elas deveriam "voltar" a seus países de origem se não estivessem felizes nos Estados Unidos.

As legisladoras Alexandria Ocasio-Cortez (Nova York), Ilhan Omar (Minnesota), Ayanna Pressley (Massachusetts) e Rashida Tlaib (Michigan), que chegaram ao Congresso após as eleições de meio de mandato ("midterms") de novembro passado, se identificam como "mulheres de cor" por sua ascendência hispânica, árabe, somali e afro-americana. A única a que não nasceu nos Estados Unidos é Omar, que veio da Somália quando criança e que obteve refúgio nos Estados Unidos. Anos depois ela conquistou a cidadania americana.

Mas no comício o presidente deixou claro que planeja colocar seus ataques incendiários contra Omar e as outras três congressistas democratas de esquerda no centro de sua estratégia para a reeleição em 2020.

Após a resolução condenatória da Câmara, Trump voltou à ofensiva em Greenville. Para o deleite de seus milhares de apoiadores, descreveu Omar e as outras democratas como "ideólogas de esquerda" que estão nos Estados Unidos "como uma força do mal".

"Um voto para qualquer democrata em 2020 é um voto para o avanço do socialismo radical e a destruição do sonho americano e destruição do nosso país", disse o presidente.

O coro "Mande-a de volta!" relembra os gritos "Prendam-na" que os seguidores de Trump dirigiam contra a democrata Hillary Clinton, adversária nas eleições de 2016.

Alguns republicanos pediram a Trump que suavizasse a retórica, mas o presidente está convencido de que sua estratégia está ganhando, apesar do risco de inflamar as tensões raciais e ampliar a divisão do partido.

- "Estratégia cínica" -Segundo especialistas, Donald Trump tirou proveito de uma onda de inquietação entre os americanos brancos da classe trabalhadora e rural para vencer de forma apertada as eleições presidenciais de 2016. E espera fazer o mesmo para seguir na presidência dos Estados Unidos após 2020.

"Está reunindo sua base", disse Wendy Schiller, professora de ciências políticas da Universidade de Brown. "Sua estratégia eleitoral é dividir e conquistar".

"Necessita que todos aqueles que votaram nele em 2016 façam isso novamente", disse Schiller. "Então é uma estratégia inteligente para ele fazer dessas quatro mulheres o rosto do Partido Democrata", acrescentou.

Trump obteve 57% de apoio dos eleitores brancos em 2016, contra 37% da adversária democrata Hillary Clinton. Para o próximo ano acredita-se que 70% do eleitorado será composto por brancos. Os afro-americanos, hispânicos e outras minorias tendem a votar pelos democratas.

Para Larry Sabato, diretor do Centro de Políticas da Universidade da Virgínia, a mensagem de Trump é claramente dirigida aos eleitores brancos que o levaram à Casa Branca, pois sua estratégia é "associar o Partido Democrata à imagem de quatro mulheres de cor".

"O cálculo de Trump é 'Se posso aumentar o voto dos brancos por um ponto ou dois e conseguir que muitos dos brancos sem educação universitária que não votaram em 2016 votem em mim, vou ganhar'. É uma estratégia cínica", destacou.

"A maioria dos presidentes não faria isso porque eles não gostariam de entrar para a história como racistas. Mas Donald Trump não se importa com isso", acrescentou Sabato ".

- "Vil" -Vários candidatos presidenciais democratas condenaram os comentários de Trump.

"É vil. É covarde. É xenófobo. É racista ", disse a senadora californiana Kamala Harris." É hora de tirar Trump do cargo e unir o país".

"Esses membros do Congresso, filhos de imigrantes, como muitos de nós, são um exemplo do que torna os Estados Unidos grandes ", disse o ex-vice-presidente Joe Biden.

A legisladora Ocasio-Cortez, também alvo das críticas do presidente, disse que a retórica de Trump "está colocando em risco muitas pessoas" e "criando um ambiente volátil".

A reação republicana foi mais tranquila, mas alguns falaram.

"Os gritos foram ofensivos e estou contente que o presidente os tenha rejeitado", disse o senador Mitt Romney, um ex-candidato presidencial republicano.

"Eu discordo profundamente da extrema-esquerda e reprovo o tom dele", disse o representante Adam Kinzinger, de Illinois, acrescentando que "Isso deve terminar."

"Hoje eu acordei com desgosto: gritos como como "Mande-a de volta!" são feios, são errados, e dariam calafrios nos espíritos dos nosso pais Fundadores. Isto deve terminar, ou vamos colocar em risco a nossa grande união", afirmou.

O primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, e o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, também criticaram os comentários de Trump, sem nomeá-lo, chamando-os de "totalmente inaceitáveis" e "ofensivos".

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