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China tem comércio equilibrado, mas não resto do mundo, diz FMI

Jeff Kearns

18/07/2019 06h16

(Bloomberg) -- Os desequilíbrios decorrentes das tensões comerciais estão agora concentrados nos países ricos, e as tarifas não são suficientes para resolvê-los, segundo estudo do Fundo Monetário Internacional.

A China, que uma década atrás tinha o maior superávit em conta corrente do mundo, está agora perto de um comércio equilibrado, "alinhado aos fundamentos", segundo estudo anual do FMI sobre como as economias interagem umas com as outras. Países desenvolvidos como Alemanha e Estados Unidos agora mostram os maiores superávits e déficits.

Os dados colocam em cheque a insistência do governo Donald Trump de que a China distorce o comércio global - alegação muitas vezes usada para justificar a guerra comercial que alarma os mercados financeiros.

Essa disputa entre as duas maiores economias do mundo passa por uma trégua enquanto as negociações são retomadas. Mas os riscos permanecem.

Esta semana, a China divulgou que a economia cresceu no ritmo mais lento desde pelo menos 1992. Nos EUA, o Federal Reserve destacou as consequências da guerra comercial como a principal razão para reduzir as taxas de juros pela primeira vez em uma década.

'Sem impacto'

O FMI disse que lidar com os desequilíbrios comerciais taxando as importações prejudicam a economia global sem resolver o problema.

"As recentes ações de política comercial pesam sobre os fluxos de comércio global, investimento e crescimento", segundo o FMI. Essas ações não tiveram "nenhum impacto perceptível sobre os desequilíbrios externos até agora".

Mas o estudo do Fundo traz dados que de certa forma alimentam a campanha paralela de Trump contra a Europa.

O FMI mediu até que ponto as economias globais partem do comércio equilibrado, no qual as importações de um país são iguais às suas exportações. O estudo revelou que o número "caiu" para cerca de 3% do PIB global no ano passado - bem abaixo dos picos alcançados antes da crise financeira de 2008, embora ainda substancialmente maior do que na década de 1990.

O que mudou foi a geografia.

O superávit recorde da China praticamente desapareceu, e os maiores desequilíbrios desse tipo são agora encontrados em países desenvolvidos - como as economias voltadas à exportação da Alemanha e da Holanda, além da Coreia do Sul.

Trump culpou a Europa por manter sua moeda artificialmente fraca para impulsionar as exportações e ameaçou taxar carros importados da União Europeia.

Entre os países com déficits, o FMI apontou para os persistentes rombos comerciais dos EUA e Reino Unido.

"Uma maior urgência é necessária" para enfrentar os desequilíbrios, disse o FMI, mas não por meio do protecionismo: "É imperativo que todos os países evitem políticas que distorçam o comércio."

Em vez disso, o FMI recomenda que os países com déficits busquem uma combinação de medidas para melhorar a qualificação da mão de obra e tornar os mercados de trabalho mais flexíveis - enquanto países com superávits como a Alemanha deveriam investir mais dinheiro público em áreas como infraestrutura.

O FMI não recomenda que todos os países devam sempre aspirar a um comércio perfeitamente equilibrado. O estudo afirma que muitas vezes há boas razões pelas quais os países podem querer registrar déficits ou superávits.

Mas calcula que mais de um terço dos desequilíbrios existentes - o equivalente a cerca de 1,2% do PIB mundial - são qualificados como "excessivos", o que significa que são maiores do que o necessário para que a economia atinja seu potencial no longo prazo.

--Com a colaboração de Alex Tanzi.

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