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Após feira cancelar presença de Miriam Leitão, ABI critica 'radicalização'

Miriam Leitão, que teve participação cancelada em feira de livros após campanha nas redes sociais - Divulgação/TV Globo
Miriam Leitão, que teve participação cancelada em feira de livros após campanha nas redes sociais Imagem: Divulgação/TV Globo
do UOL

Do UOL, em São Paulo

17/07/2019 20h32Atualizada em 17/07/2019 22h36

A ABI (Associação Brasileira de Imprensa) divulgou nota nesta quarta-feira (17) em que condena a radicalização de grupos político-ideológicos e pede que a sociedade civil se una para enfrentar ameaças e intimidações contra jornalistas.

"A radicalização de grupos político-ideológicos, que se caracterizam pelo desprezo ao conhecimento e pela rejeição à diversidade, representa um retrocesso civilizatório inaceitável para a democracia brasileira", diz a nota assinada pelo presidente da ABI, Paulo Jeronimo de Sousa, que chama os episódios de ofensa e intimidação de "atentados à liberdade de reunião e de expressão".

A manifestação da entidade acontece um dia após os organizadores da 13ª Feira do Livro de Jaraguá do Sul (SC) decidir cancelar a participação da jornalista Miriam Leitão no evento. O sociólogo Sérgio Abranches também foi excluído da programação.

A retirada dos profissionais da lista de convidados foi uma resposta da comissão organizadora do evento a uma campanha nas redes sociais. Miriam Leitão é vista como oposicionista ao governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL), que conquistou nas últimas eleições 83% dos votos válidos na cidade.

"Para evitar que o evento fosse descontinuado, a gente optou por cancelar a vinda dela, infelizmente. Também pela segurança do evento e dela, sobretudo", afirmou o organizador da feira de livros ao jornal Folha de S.Paulo.

ABI também cita os jornalistas Glenn Greenwald, alvo de protestos na semana passada em Paraty, e Paulo Henrique Amorim (morto no último dia 10), afastado da Record em abril.

"No momento em que crescem ameaças a jornalistas como Glenn Greenwald, Miriam Leitão e Sérgio Abranches, a Associação Brasileira de Imprensa conclama a sociedade a se unir aos profissionais de imprensa na garantia do Estado Democrático de Direito. A ABI exige que o Estado defenda os princípios fundamentais da democracia e aplique a lei contra os que intimidam reuniões pacíficas", diz a nota da entidade.

Ontem (16), o jornalista Chico Pinheiro, colega de Miriam Leitão na Globo, saiu em defesa dela.

"Eu dizia que estávamos entrando na Idade Média. Quando 7% dos brasileiros (quase 15 milhões) acreditam que a Terra é plana (Datafolha), não se pode esperar que o exercício intelectual seja tolerado. O livro é arma perigosa, Miriam", escreveu Chico em mensagem direcionada à jornalista.

Leia a íntegra da nota intitulada "Unidade contra ameaças e intimidações" e assinada pelo presidente da ABI, Paulo Jeronimo de Sousa:

Nota da ABI

"Neste momento, em que crescem as ameaças e intimidações aos jornalistas e outros brasileiros, tendo como principais exemplos as sofridas por Glenn Greenwald, Miriam Leitão e Sérgio Abranches, acompanhadas de demissões e afastamento de profissionais, promovidas por veículos de comunicação, como as que ocorreu com Paulo Henrique Amorim, a ABI conclama os jornalistas, os democratas e as entidade da sociedade civil a se unirem para garantimos o Estado Democrático de Direito.

A radicalização de grupos político-ideológicos, que se caracterizam, basicamente, pelo desprezo ao conhecimento e pela rejeição à diversidade, representa um retrocesso civilizatório inaceitável para a democracia brasileira.

É cada dia mais preocupante o crescimento da ousadias destes grupos, na maior parte das vezes, escondido pelo anonimato das redes sociais. Agora, no entanto, decidiram sair das ofensas para a intimidação direta, com ameaças e ações públicas, como em Paraty.

Para a Casa do Jornalista, a utilização da Constituição federal e dos demais instrumentos legais deve ser a forma de enfrentamento a estes atentados à liberdade de reunião e de expressão."

A ABI, juntamente com as demais entidade democráticas da sociedade civil, exige que o Estado brasileiro aja em defesa dos princípios fundamentais da nossa democracia, investigando e aplicando a lei contra os que ameaçam e intimidam participantes de reuniões pacíficas."

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