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"Acordo com UE estará pronto para ir aos parlamentos em dois meses", diz chanceler argentino, Jorge Faurie

16/07/2019 17h59

O ministro argentino das Relações Exteriores, Jorge Faurie, acredita que o acordo de integração União Europeia-Mercosul coloca o bloco sul-americano num patamar superior, dando credibilidade para Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai fecharem negociações em curso e iniciarem novas negociações com outros países e blocos. "Atingimos a nossa maioridade perante o mundo", definiu o representante de Buenos Aires em entrevista à RFI durante a reunião de Cúpula do Mercosul que se realiza na cidade argentina de Santa Fé.

Enviado especial a Santa Fé

Um dos maiores artífices para a concretização de um entendimento com a Europa, depois de 20 anos de negociações, Jorge Faurie calcula que, em setembro, o Mercosul também fechará um acordo com outro bloco europeu, o EFTA (Islândia, Noruega, Suíça e Liechtenstein). O ministro sugere ainda que o presidente norte-americano Donald Trump possa visitar em breve à Argentina e minimiza a resistência francesa ao acordo entre Mercosul e União Europeia.  

RFI - Poderíamos dizer que esta Cúpula do Mercosul é a mais importante desde a criação da União Alfandegária do bloco há 24 anos?

Jorge Faurie - O acordo UE-Mercosul dá um valor extraordinário ao encontro porque prova a nossa capacidade de concretização. E essa concretização nos dá uma perspectiva de futuro para encarar o que vem pela frente como os acordos em negociação com EFTA, Canadá, Singapura e Coreia do Sul. O Mercosul passa a ser percebido como atraente e com grande potencial. O acordo com a UE é um desses momentos cruciais que os processos de vida têm, como se tivéssemos atingido agora a nossa maioridade. Com este resultado, muito parceiros passam a levar-nos a sério. Respeitam-nos pelo que conseguimos.

O Mercosul quer aplicar uma cláusula de vigência bilateral para o texto avançar mais rapidamente, permitindo que cada país entre no acordo individualmente à medida que cada Parlamento aprovar o texto. Como isso será implementado?

Estamos trabalhando nisso para chegarmos a um acordo que seja favorável aos quatro países. Ainda temos algum prazo porque, dentro de dois meses, o acordo estará pronto para começar a circular pelos parlamentos. E depois virá todo o debate parlamentar.

O acordo com o EFTA já está muito encaminhado. Os negociadores dão a entender que pode acontecer em agosto. O senhor concorda com essa previsão?

Respeito os negociadores, mas, em agosto, na Europa, é muito difícil encontrar alguém que trabalhe. Setembro é um mês chave. Setembro ou outubro será o momento do acordo com o EFTA. E, no final deste ano ou no começo do ano que vem, o Canadá. Depois, Singapura e Coreia.

O presidente Donald Trump manifestou ao presidente Jair Bolsonaro o interesse de reunir-se com os países sul-americanos. Nesta semana, o secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, vem a Buenos Aires. Esse encontro com o Trump aconteceria na Argentina?

Veremos. Vamos conversar agora com o secretário Mike Pompeo quem nos dará mais detalhes sobre essa ideia, mas é muito positivo e bem-vindo.

Mas Trump poderia vir à Argentina?

Veremos. Vamos aguardar.

Se, na Argentina, houver uma mudança política nas próximas eleições de outubro, com um candidato da oposição (Alberto Fernández, quem lidera as sondagens) quem anuncia que vai rever o acordo, o compromisso estaria em risco?

Eu acredito que essas declarações têm a ver com o momento eleitoral. A leitura tem de ser eleitoral. É muito difícil que algum político do Mercosul possa andar pela região a explicar por que eles não aceitaram os benefícios do mercado europeu, simplesmente por uma questão eleitoral.

As dúvidas na França abrem quais perspectivas para o futuro do acordo?

Eu pediria que prestássemos atenção às declarações do ministro francês da Economia, Bruno Le Maire, quem também falou como ex-ministro da Agricultura da França. Ele pontuou que a única forma para que a agricultura francesa seja competitiva é abrindo-se ao mundo. A sociedade francesa está debatendo e a contraposição política faz parte dessa discussão. Isso forma parte das sociedades, mas, no final, eu acredito que todos os franceses, assim como o conjunto da sociedade europeia, reconhecerão as vantagens que este acordo trará.

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