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Juiz da Lava Jato abre ação contra garçom acusado de tentar dar golpe em Bendine

Julia Affonso

São Paulo

15/07/2019 21h07

O juiz Luiz Antonio Bonat, da 13ª Vara Federal em Curitiba, recebeu a denúncia da Operação Lava Jato contra o garçom Alexandre Inácio da Silva.

A acusação formal do Ministério Público Federal aponta que o homem tentou dar um golpe de R$ 700 mil em Aldemir Bendine, ex-presidente da Petrobras e do Banco do Brasil. Bendine foi condenado em março de 2018 pelo então juiz federal Sergio Moro a 11 anos de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro.

O magistrado marcou para o dia 3 de setembro, às 14h, uma audiência para decidir sobre a proposta do Ministério Público Federal para suspensão condicional do processo, mediante cumprimento das seguintes condições: a) proibição de ausentar-se da comarca onde reside, sem autorização do juiz; b) comparecimento pessoal e obrigatório a juízo, mensalmente, para informar e justificar suas atividades; c) pagamento de dez salários mínimos, que poderá ser parcelado, em até cinco vezes".

Entenda o caso

A denúncia da Lava Jato aponta que em 2 de agosto de 2017, dias após a prisão de Bendine, o garçom "tentou obter, para si ou para outrem, em prejuízo alheio, vantagem ilícita, no valor de R$ 700 mil".

Segundo a Procuradoria da República, Alexandre Inácio da Silva enviou um email à Amanda Bendine, filha do ex-presidente das estatais, por meio de um "endereço eletrônico de falsa titularidade, induzindo-a em erro".

Bendine foi preso em 27 de julho daquele ano --e solto em abril deste ano pelo Supremo. O ex-presidente da Petrobras foi acusado de receber R$ 3 milhões da Odebrecht em supostas propinas em 2015. A Lava Jato afirma que, no dia da prisão de Bendine, o garçom "criou a conta de email aldemirbendine63@bol.com.br".

"Por meio do endereço eletrônico de falsa titularidade e identificando-se como Aldemir Bendine, no dia 2 de agosto de 2017, Alexandre Inácio encaminhou email a Amanda Bendine solicitando-lhe a realização de transferência bancária no valor de R$ 700 mil, para a conta-corrente nº 3933-0, agência 1257-2, do Banco do Brasil, sob a dissimulada justificativa de garantir, junto a terceira pessoa, a concessão de ordem em habeas corpus, perante o Supremo Tribunal Federal", narram os procuradores.

De acordo com os investigadores, ao criar a conta do email, o garçom cadastrou um endereço no bairro do Pechincha, no Rio, ligado a ele próprio.

O Ministério Público Federal relata que, no dia em que a mensagem com o pedido de R$ 700 mil foi enviada à Amanda, a conta de email foi acessada por um IP --identificação única de cada computador conectado à rede de internet-- vinculado a um endereço no Conjunto Cezarão, onde mora Alexandre Inácio, no bairro de Santa Cruz, na capital fluminense.

"A assinatura do serviço de internet utilizado para o encaminhamento da mensagem estava registrada em nome do próprio acusado e foi desativada em 22 de setembro de 2017", diz a Lava Jato.

"A conta bancária indicada no email fraudulento para o recebimento da quantia foi aberta em 5 de dezembro de 2016, também em nome de Alexandre Inácio, através de dispositivo móvel."

O Ministério Público Federal informou à Justiça que "nos protocolos de assinatura da conta foram cadastrados dois endereços que são vinculados ao garçom".

Segundo a Procuradoria, um dos endereços "foi o mesmo utilizado para a criação do endereço eletrônico e de onde se identificou ter sido encaminhado o e-mail com a solicitação dos valores".

Amanda Bendine não transferiu o dinheiro solicitado no email. Em 4 de agosto, dois dias depois de ter enviado a mensagem, a filha do ex-presidente da Petrobras recebeu um novo email do endereço eletrônico "aldemirbendine63@bol.com.br", com o assunto "Desculpa".

"Desculpa pela brincadeira. Eu achei esses telefones e documentos e fiz essa brincadeira. Minha mãe está brigando comigo por isso", registrou a mensagem.

O que diz Alexandre Inácio?

O garçom prestou depoimento em 10 de setembro do ano passado à Polícia Federal no Rio. Ele confirmou que a conta indicada no email enviado à Amanda é sua e os endereços descobertos pela Lava Jato também, mas negou que tenha criado a conta de e-mail.

"Disse que não está entendendo nada a respeito, e que não foi o autor das mensagens", afirmou. "Não teria razão para encaminhar tal email."

Alexandre Inácio disse à PF que "perdeu um aparelho celular Positivo, do qual não se recorda o número da linha, entre março e abril de 2017, no centro de Santa Cruz, o qual se encontrava numa capa que continha, além do aparelho, o cartão da conta do Banco do Brasil, e a senha da referida conta num pedaço de papel".

"No aparelho perdido, também havia fotos de seus documentos pessoais, tais como identidade e CPF", contou. "Não efetuou o registro à época do extravio do aparelho celular nem cancelou a linha telefônica que usava no aparelho, nem da conta fácil do BB."

Ao ser intimado pela Justiça em 10 de julho, Alexandre Inácio da Silva "manifestou desejo de assistência pela Defensoria Pública da União".

A reportagem não conseguiu contato com números ligados a ele. O espaço está aberto para manifestação.

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