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Crivella nomeia réu em queda de ciclovia Tim Maia para cuidar de encostas

21.abr.2016 - Trecho da ciclovia Tim Maia, na avenida Niemeyer, na zona Sul do Rio, desabou matando duas pessoas - Fernando Frazão/Agência Brasil
21.abr.2016 - Trecho da ciclovia Tim Maia, na avenida Niemeyer, na zona Sul do Rio, desabou matando duas pessoas Imagem: Fernando Frazão/Agência Brasil
do UOL

Igor Mello

Do UOL, no Rio

15/07/2019 18h24

O prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella (PRB), nomeou hoje um dos réus no processo sobre a queda da Ciclovia Tim Maia, em 2016, como presidente da Geo-Rio (Fundação Instituto de Geotécnica do Município do Rio de Janeiro), órgão responsável por monitorar as encostas da cidade.

O engenheiro Ernesto Ferreira Mejido foi escolhido por Crivella para assumir o comando da Geo-Rio, substituindo Herbem da Silva Maia. Ele é um dos 14 réus na ação proposta pelo MP-RJ (Ministério Público do Rio) para apurar as responsabilidades sobre a queda da ciclovia. Assim como os demais acusados, Mejido responde por duplo homicídio culposo. O processo tramita em primeira instância e, até o momento, não teve uma decisão.

No dia 21 de abril de 2016, quatro meses depois da inauguração da obra, um trecho da Ciclovia Tim Maia, na avenida Niemeyer, desabou durante uma ressaca, matando Eduardo Marinho Albuquerque, 54, e Ronaldo Severino da Silva, 60. Na ocasião, ondas atingiram a ciclovia de baixo para cima e arremessando no mar parte da estrutura. Mejido foi um dos cinco engenheiros da Geo-Rio que integraram a comissão de vistoria responsável pela fiscalização da obra.

Ao aceitar a denúncia, a Justiça pontuou a responsabilidade dos réus na tragédia, entre eles, os engenheiros da Geo-Rio, destacando a possibilidade de terem agido com imprudência, negligencia ou imperícia.

"Os denunciados tiveram algum tipo de atuação na referida obra, seja na confecção do projeto básico, seja na confecção do projeto executivo ou na fiscalização da obra, cuja atuação ou omissão representariam a inobservância do cuidado objetivo manifestada através da imprudência, negligencia ou imperícia", escreveu o juiz Marcelo Oliveira da Silva ao aceitar a denúncia.

O prefeito Marcelo Crivella foi procurado, através de sua assessoria, para comentar a nomeação, mas ainda não retornou os contatos da reportagem.

Ciclovia Tim Maia: de legado olímpico a elefante branco

Construída na gestão Eduardo Paes (à época no MDB, atualmente no DEM) para ser um dos legados dos Jogos Olímpicos do Rio, em 2016, a ciclovia Tim Maia se tornou uma dor de cabeça para a Prefeitura do Rio desde a tragédia ocorrida em abril daquele ano.

15.fev.2018 - Um trecho da ciclovia Tim Maia, em São Conrado, desabou por causa da chuva. O solo cedeu e o local ainda não foi isolado. Segundo o Twitter Mobilidade Zero, a prefeitura pede que as pessoas não se aproximem do local - Marcos de Paula/Agência O Globo - Marcos de Paula/Agência O Globo
Imagem: Marcos de Paula/Agência O Globo

A obra, que tem 9 km de extensão, liga o Leblon à Barra da Tijuca pela orla, passando por algumas das paisagens mais bonitas da cidade. Porém, desde a inauguração, passou mais tempo interditada do que aberta ao público. Atualmente, uma decisão judicial impede a utilização da via.

Desde o primeiro desabamento, a ciclovia teve constantes interdições e passou por outras três quedas --em fevereiro de 2018, fevereiro e abril de 2019.

Após o primeiro acidente, a ciclovia foi interditada e passou por obras de reforço na estrutura. Em janeiro, Crivella chegou a gravar um vídeo para as redes sociais da prefeitura a bordo de um rolo compressor durante uma vistoria na obra. "Agora ela não cai mais", prometeu. Duas semanas depois, um novo desabamento atingiu a estrutura.

No fim de maio, Crivella foi alvo de críticas ao fazer uma piada com os desabamentos da ciclovia, comparando-a ao Vasco da Gama. "Acho que vou mudar o nome da ciclovia para Vasco da Gama, porque aquilo vive caindo", disse.

Em uma outra ação, a Justiça ordenou que a prefeitura mantenha cerca de 2 km da pista fechada. A decisão da Natascha Dazzi, da 9ª Vara de Fazenda Pública, determinou ainda que a pista seja demolida caso não seja atestada a segurança de sua utilização.

Os problemas na obra foram alvo de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) na Câmara dos Vereadores do Rio. O relatório final, aprovado por unanimidade em outubro de 2018, aponta que os responsáveis técnicos, entre eles, os engenheiros da Geo-Rio, deixaram de observar "os deveres de cuidado a que os profissionais da área de engenharia estão subordinados".

A ciclovia Tim Maia também enfrenta problemas de conservação. Corrimãos, parapeitos e outras estruturas metálicas foram furtadas, prejudicando a segurança dos ciclistas e pedestres.

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