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HRW denuncia "barbárie nunca antes vista" contra crianças migrantes nos EUA

26/06/2019 13h32

Pedro Pablo Cortés.

Madri, 26 jun (EFE).- As crianças migrantes vivem uma "barbárie nunca antes vista" nos Estados Unidos devido à política "deliberada" do presidente Donald Trump para dissuadir a imigração de centro-americanos, denunciou nesta quarta-feira José Miguel Vivanco, diretor da divisão das Américas da Human Rights Watch (HRW).

Em entrevista à Agência Efe em Madri, Vivanco considerou que os funcionários americanos devem "prestar contas" pelas condições dos centros de detenção para os menores de idade centro-americanos e por dividir famílias ao "arrancar" as crianças dos braços dos seus pais imigrantes ilegais.

"A situação das crianças que estão em detenção nos Estados Unidos é uma situação que facilmente pode ser caracterizada como cruel, como desumana, como indigna, como violatória dos padrões nacionais e internacionais", comentou Vivanco.

O advogado chileno destacou que a HRW documentou casos de separação forçada de famílias, de "muitas crianças que ainda estão separadas" dos seus pais e de centro-americanos que são deportados sem serem informados sobre onde estão seus filhos.

Ao argumentar que Trump está implementando estas medidas para agradar sua base de simpatizantes e conseguir a reeleição em 2020, Vivanco classificou estas políticas como "uma vulgaridade extrema".

"Não só pelo grotesco, mas também porque representa uma ruptura fundamental com princípios básicos de convivência e que está fundada no oportunismo eleitoral, onde o que guarda no fundo é uma concepção racista", opinou.

Vivanco também acusou o presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, de "fazer o trabalho sujo" para Trump por "militarizar" a fronteira em um acordo alcançado este mês para evitar a imposição de tarifas sobre produtos mexicanos.

Nesse sentido, considerou como "um grave erro" utilizar 6.000 membros da Guarda Nacional para deter o fluxo de migrantes da América Central por serem provenientes de corpos de segurança que estão acusados de violar direitos humanos.

"Militares, com preparação militar, que são chamados de Guarda Nacional, mas são as mesmas pessoas com distintivo diferente. Esses militares hoje em dia têm tarefas como a de reprimir ou deter ou conter a migração de mulheres e crianças", lamentou.

O representante da HRW ainda tachou de "absurda" e "insólita" a decisão de Washington de cortar os fundos para o desenvolvimento de Guatemala, Honduras e El Salvador, uma vez que isso "exacerbará" o problema.

"Trump não está interessado em conseguir resultados. Isto simplesmente faz parte do que é sua agenda eleitoral, com esse tipo de discursos ou ameaças a cidadãos centro-americanos ou mexicanos, o que ele busca é melhorar suas possibilidades eleitorais", enfatizou.

Por outro lado, Vivanco disse que a América Latina tem uma crise de refugiados "sem precedentes", originada pela emergência humanitária na Venezuela e exacerbada pelo aumento da emigração da América Central e pela crise política da Nicarágua.

Ao destacar que a região respondeu de forma "mais construtiva e positiva" que a Europa diante da crise dos refugiados de 2015, lembrou que desde esse mesmo ano as nações latino-americanas acolheram a maioria dos quatro milhões de exilados que saíram da Venezuela, segundo a ONU.

"Esse é um fenômeno que não tínhamos visto nunca antes na América Latina, nunca. Não há precedentes de uma saída maciça, de um êxodo, produto das maciças violações a direitos humanos, da inflação e da corrupção, e também da insegurança na Venezuela", ressaltou.

Vivanco reconheceu que países como Chile e Peru estão "no seu direito" de pedir "vistos humanitárias" aos venezuelanos, como começaram a fazer recentemente, mas pediu aos governos da região que adotem critérios comuns.

Sua organização, segundo acrescentou, sugere que seja criado um status de proteção temporário aos venezuelanos que ingressem nos países que formam o Grupo de Lima, como Brasil, Argentina, Chile, Colômbia, Costa Rica e México.

"Com todas as dificuldades que têm as economias latino-americanas, que não estão realmente no seu melhor momento, houve espaço para receber famílias venezuelanas", destacou. EFE

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