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Barco que resgata migrantes entra em águas italianas sem permissão

26/06/2019 15h47

Roma, 26 Jun 2019 (AFP) - O barco humanitário Sea-Watch anunciou nesta quarta-feira (26) que forçou o bloqueio das águas territoriais italianas em frente à ilha de Lampedusa para desembarcar os 42 migrantes a bordo há 14 dias, em um desafio ao ministro do Interior italiano, Matteo Salvini.

"Decidi entrar no porto de Lampedusa. Sei o que estou arriscando, mas os 42 náufragos a bordo estão esgotados. Estou levando o grupo para um lugar seguro", declarou no Twitter a capitã alemã da embarcação, Carola Rackete, de 31 anos.

Em sites de tráfego marítimo, os dados da embarcação de bandeira holandesa mostram claramente que, depois de navegar margeando as águas italianas por cerca de dez dias, dirigiu-se ao meio-dia para o porto de Lampedusa.

"Faremos uso de todos os meios democráticos para bloquear este insulto à lei", reagiu o ministro de extrema direita Salvini em um vídeo no Facebook.

Ele denunciou o "joguinho político desprezível" das ONGs, mas também a indiferença mostrada por Holanda e Alemanha, o país da ONG.

Os governos de Berlim e Haia "responderão por isso", ameaçou Salvini.

A capitã e responsável pelo Sea-Watch agora enfrenta um processo por ajudar a imigração ilegal, bem como a apreensão do navio e uma multa de 50.000 euros, de acordo com um novo decreto de Salvini.

Na terça-feira, o Tribunal Europeu de Direitos Humanos rejeitou uma intervenção de emergência e pediu à Itália que "continue a fornecer a assistência necessária" para as pessoas vulneráveis a bordo.

"Em 14 dias, nenhuma solução política, ou jurídica, foi possível. A Europa nos abandonou", acrescentou a Sea-Watch, a ONG alemã, cujo navio tem bandeira holandesa.

Em vez disso, uma embarcação da Polícia Aduaneira e Financeira se aproximou do Sea-Watch, mas o barco seguiu sua rota.

Segundo estatísticas do Ministério do Interior, mais de 400 migrantes desembarcaram na Itália nas últimas duas semanas. Entre eles, muitas chegaram em pequenos barcos a Lampedusa.

- 'Pelo fim da criminalização das ONGs' -Dos 53 migrantes resgatados em 12 de junho pela Sea-Watch em águas líbias, a Itália já aceitou o desembarque de 11 pessoas vulneráveis, como crianças, mulheres e doentes.

Dezenas de cidades alemãs se disseram dispostas a receber migrantes, enquanto, na segunda-feira, o bispo de Turim (norte da Itália), Cesare Noviglia, anunciou que sua diocese poderia acolher o grupo.

Há vários dias, o vigário de Lampedusa, Carmelo La Magra, esteve no pátio de sua igreja para reivindicar o desembarque dos migrantes. Durante as eleições europeias de maio, a Liga de Salvini obteve 45% dos votos nesta ilha.

Desde a chegada do governo populista ao poder na Itália em junho de 2018, as crises se sucederam em relação aos migrantes que permaneciam a bordo desses barcos de resgate. Um acordo de distribuição foi assinado entre vários países europeus, e os migrantes puderam desembarcar.

Em janeiro, 32 migrantes resgatados pela Sea-Watch ficaram bloqueados por um período recorde de 18 dias a bordo, antes de poderem desembarcar em Malta.

"É grave que a capitã não tenha outra opção a não ser honrar seu senso de responsabilidade pagando o preço de consequências pessoais", disse a porta-voz do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) na Itália, Carlotta Sami.

"O Acnur pede uma revisão do decreto de segurança e a organização de um sistema de salvamento e desembarque. É necessário que se ponha um fim à criminalização das ONGs", acrescentou Carlotta.

Nos últimos dias, as organizações internacionais reiteraram que não era possível reenviar os migrantes para o caos líbio.

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