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Vaca Muerta finalmente produz petróleo, 100 anos após descoberta

Jonathan Gilbert

25/06/2019 15h28

(Bloomberg) -- Ao longo do lado oeste da Patagônia, na Argentina, em uma estepe árida encravada contra a Cordilheira dos Andes, há uma formação de xisto conhecida como Vaca Muerta. E, desde que engenheiros confirmaram o que um geólogo americano suspeitava há um século - que Vaca Muerta possui enormes quantidades de petróleo e gás -, deu-se início a uma corrida para replicar o boom do fraturamento hidráulico dos Estados Unidos.

Primeiro vieram a YPF, a gigante petrolífera local, e a Chevron. Em seguida, Total e Royal Dutch Shell. Juntas, investiram cerca de US$ 13 bilhões em exploração nos últimos oito anos. No entanto, nenhuma delas teve muito o que mostrar. Obstáculos continuavam aparecendo e a produção era marginal.

Até agora. Nas últimas semanas, duas empresas exportaram dois pequenos carregamentos da formação, um de petróleo leve e outro de gás natural liquefeito, prenunciando o que autoridades do setor dizem que será um fluxo constante de embarques até o fim do ano. É muito cedo para declarar vitória - as barreiras logísticas e econômicas permanecem. Mas é o primeiro sinal de que todo o dinheiro e tempo investido podem realmente ser compensados, devolvendo à Argentina seu lugar de fornecedor global de energia que ocupava há uma década.

"O sistema vai mudar da importação de petróleo e derivados para a exportação", disse Sean Rooney, responsável da Shell na Argentina. "E isso vai aumentar com o tempo. Serão algumas centenas de milhares de barris por dia."

A Shell anunciou em dezembro uma ampliação das operações e, em um selo de aprovação para a primeira perfuração intensiva de xisto fora da América do Norte, a Exxon Mobil assumiu compromisso semelhante este mês. Os embarques de petróleo leve da Argentina são estimados em 70 mil barris por dia no ano que vem.

Há um longo caminho a percorrer para se igualar - ou para pelo menos chegar perto - à referência da produção de xisto, a Bacia do Permiano no Texas e no Novo México, onde os embarques da Costa do Golfo somam cerca de 2,5 milhões de barris por dia. Projetos de infraestrutura, como estradas e dutos de coleta, estão aquém dos avanços em perfuração. Produtores também querem que o governo argentino, que está adotando políticas menos protecionistas, finalmente libere as exportações. Isso significa pôr fim ao direito de preferência das refinarias domésticas e cumprir a promessa de eliminar os impostos de exportação no fim de 2020.

"Se os agentes do setor e o governo adotarem isso e apoiarem as políticas de energia para facilitar as exportações, teremos uma excelente oportunidade pela frente", disse Miguel Galuccio, que liderou as primeiras incursões da YPF em Vaca Muerta e agora comanda a Vista Oil & Gas, que exportou o recente carregamento de petróleo leve.

As empresas também devem levar em conta o lado político. A maioria gostaria de ver o presidente pró-mercado Mauricio Macri ser reeleito em outubro, principalmente porque vai enfrentar a ex-presidente Cristina Kirchner, cujas medidas de controle de capital afugentaram investidores estrangeiros.

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