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Trump afirma que cancelou ataque ao Irã momentos antes do início

21/06/2019 19h07

Teerã, 21 Jun 2019 (AFP) - O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, garantiu nesta sexta-feira que cancelou no último momento um ataque contra o Irã, para evitar um saldo dramático de mortes, apesar de manter as ameaças contra Teerã por ter derrubado um drone americano.

Em uma série de tuítes matinais, Trump detalhou a operação que estava planejada para a noite de quinta-feira, descrevendo de forma inédita como foi o processo para decidir sobre um assunto com muitas implicações militares e estratégicas.

"Estávamos em posição e prontos para responder ontem à noite em três locais diferentes quando perguntei quantos morreriam", escreveu. "150 pessoas, senhor, foi a resposta de um general. 10 minutos antes do ataque, eu cancelei, era desproporcional em comparação com um ataque a um avião não tripulado".

Numa entrevista à NBC, o presidente garantiu que os aviões americanos ainda não tinham decolado quando tomou a decisão. "Mas eles estariam (no ar) rapidamente. E as coisas chegariam a um ponto (...) que não haveria como voltar atrás".

O presidente se referiu ao drone Global Hawk abatido na quinta-feira pelo Irã por, supostamente, ter entrado em seu espaço aéreo, uma versão que os Estados Unidos negam.

Este incidente provocou uma escalada entre os dois países inimigos. O governo Trump mantem uma política de "máxima pressão" para forçar o Irã a reduzir suas ambições nucleares e limitar sua influência regional.

"Não tenho pressa, nosso Exército (...) está pronto e é de longe o melhor do mundo", acrescentou Trump no Twitter. "O Irã não pode ter NUNCA armas nucleares, nem contra os Estados Unidos, nem contra o MUNDO!".

- Bola de fogo - Trump entrou em contato com o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohamed bin Salman, cujo país é ferrenho adversário do Irã. Os Estados Unidos pediram a realização de uma reunião, na segunda-feira, do Conselho de Segurança da ONU sobre os últimos fatos relacionados ao Irã, segundo fontes diplomáticas.

Nesta sexta-feira, o vice-ministro iraniano das Relações Exteriores, Abbas Araghchi, enviou uma mensagem "urgente" a Washington via Suíça, dizendo que seu país "não está buscando a guerra", mas que "defenderá resolutamente seu território contra qualquer agressão". A embaixada da Suíça em Teerã representa os interesses americanos na ausência de relações diplomáticas entre os dois países desde 1980.

Trump teria aprovado ataques de retaliação contra "um punhado de alvos iranianos, como radares e baterias de mísseis", segundo o jornal New York Times, que citou uma autoridade do governo.

"A primeira fase da operação tinha começado quando foi cancelada", acrescentou o jornal. "Os aviões estavam no ar e os navios em posição, mas ainda não tinham disparado mísseis quando a ordem de parar chegou". A Casa Branca se recusou a comentar.

Em Washington, a influente legisladora democrata Nancy Pelosi, presidente da Câmara de Representantes, advertiu para a "situação extremamente perigosa e delicada", e se disse "absolutamente" aliviada com a decisão de Trump de cancelar o ataque.

- Advertências -Diante de escalada, as companhias aéreas KLM, Qantas, Singapore Airlines, Malaysia Airlines e Lufthansa acompanharam as empresas americanas optando por evitar voar sobre o Golfo de Omã e o Estreito de Ormuz, um ponto de passagem estratégico para o fornecimento global de petróleo na região do Golfo.

Nesta sexta, a televisão estatal iraniana exibiu imagens apresentadas como aquelas dos destroços do drone Global Hawk.

"Os destroços flutuantes foram recuperados pelas forças navais e transferidos para Teerã", disse o general de brigada Amirali Hajizadeh. Outras peças do dispositivo afundaram.

De acordo com o chefe da força aeroespacial da Guarda Revolucionária, o exército ideológico do país, o Irã emitiu dois alertas antes de abater o drone.

A televisão estatal também exibiu o trecho de um vídeo apresentado como a interceptação o drone por um míssil "3-Khordad", mas sua autenticidade não pode ser imediatamente comprovada.

As imagens mostram um míssil disparado de uma bateria móvel durante a noite. Depois de um corte, vemos uma explosão e uma bola de fogo descendo verticalmente.

Trump primeiro chamou de "grande erro" o disparo iraniano, antes de evocar a possibilidade de um erro da parte iraniana cometido por alguém "estúpido".

Em visita à Arábia Saudita, país aliado dos Estados Unidos e grande rival regional da República Islâmica, o enviado especial americano para o Irã, Brian Hook, acusou Teerã de ser responsável por "agravar as tensões e de continuar a rejeitar as aberturas diplomáticas americanas".

Neste contexto, a Rússia alertou contra um possível uso dos Estados Unidos da força contra o Irã, dizendo que isso seria "um desastre".

Por outro lado, Israel pediu à comunidade internacional para apoiar os Estados Unidos contra o Irã.

As tensões não pararam de aumentar desde a retirada americana, em maio de 2018, do acordo internacional sobre a energia nuclear do Irã, seguida pela reintrodução das sanções contra o Irã.

A situação piorou com ataques a petroleiros na região do Golfo em maio e junho, e dos quais Washington acusa Teerã, que nega.

Em paralelo, o Grupo de Ação Financeira Internacional(GAFI), que está sob a presidência americana, vai solicitar ao Irã que tome medidas contra a lavagem de dinheiro e dará um prazo para isso. Caso nada seja feito, serão impostas sanções, disse uma autoridade do governo na sexta-feira.

Numa postagem no Twitter, Trump afirmou: "As sanções são fortes e outras agregadas pela noite".

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