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"Natimorto": articulação instável emperra conselho político de Bolsonaro

O Presidente Jair Bolsonaro conversa com o ministro da Casa Civil Onyx Lorenzoni durante solenidade no Palácio do Planalto - Andre Coelho/Folhapress
O Presidente Jair Bolsonaro conversa com o ministro da Casa Civil Onyx Lorenzoni durante solenidade no Palácio do Planalto Imagem: Andre Coelho/Folhapress
do UOL

Guilherme Mazieiro e Luciana Amaral

Do UOL, em Brasília

21/06/2019 13h25Atualizada em 21/06/2019 13h25

Em abril, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) anunciou a intenção de criar conselhos políticos com lideranças partidárias para viabilizar a formação da base aliada no Congresso Nacional. No entanto, a ideia nunca saiu do papel devido à articulação instável do governo desde o início da atual gestão, segundo parlamentares ouvidos pelo UOL.

Questionado hoje pela reportagem sobre como ficaria a iniciativa, o próprio presidente admitiu que o projeto já nasceu morto, mas isso só foi percebido após divulgarem publicamente a iniciativa.

"Natimorto. Não deu certo. Vimos depois do anúncio que iria apenas burocratizar e não daria certo", declarou Bolsonaro.

Força-tarefa e lideranças partidárias

Perto de completar cem dias de governo, Onyx Lorenzoni (ministro-chefe da Casa Civil) montou uma força-tarefa e ouviu lideranças de 11 partidos de centro e centro-direita junto a Bolsonaro. A intenção era montar dois grupos - um com presidentes partidários; outro com líderes do Congresso - e recebê-los a cada 15 dias para ouvir demandas e medir o clima do Congresso perante matérias de interesse do Planalto.

Embora políticos sejam recebidos no Palácio do Planalto com regularidade, a costura sonhada por Onyx não aconteceu nem agregou legendas à base do governo. Hoje a base só conta oficialmente com o PSL, partido do próprio presidente. Ainda assim, o governo não tem a garantia da totalidade de votos favoráveis do PSL às suas propostas.

As dificuldades na articulação se traduzem em derrotas de Bolsonaro no Congresso Nacional, como no caso do decreto da flexibilização do acesso às armas, barrada no Senado. A expectativa é que a medida também seja suspensa na Câmara dos Deputados.

"Faltou botar azeite e até hoje não tem base"

À reportagem, quatro líderes partidários - DEM, PRB, Podemos e Novo - e um ex-articulador da Casa Civil afirmaram que o conselho nunca saiu do papel por falta de disposição do governo em dialogar e dividir poder com os parlamentares.

Entre as reclamações de parlamentares quanto à relação com o governo estão o trato difícil de Onyx, os ciúmes deste para com o ex-ministro da Secretaria de Governo, general Santos Cruz, com quem dividia a tarefa, e brigas internas por disputa de poder no PSL.

O ex-deputado federal Carlos Manato (PSL-ES) atuava na intermediação do governo com o Congresso e foi demitido da Casa Civil na semana passada junto a outros ex-parlamentares convocados para a mesma função.

"O que poderia acontecer, não aconteceu. Os partidos não se sentiram à vontade. A relação com a liderança do governo também não foi boa. Faltou botar azeite e até hoje não tem base. Não evoluiu o conselho político", disse Manato.

"O presidente escuta três partidos: Flávio, Carlos e Eduardo", reclamou um dos líderes ouvidos pelo UOL em referência à influência que os filhos políticos de Bolsonaro exercem no governo.

Troca-troca para melhorar articulação

A fim de melhorar as conversas com os parlamentares, Bolsonaro exonerou Santos Cruz e tirou a articulação das mãos de Onyx, passando-a ao futuro ministro da Secretaria de Governo, general Luiz Eduardo Ramos. O general deve assumir as negociações após a votação da reforma da Previdência, prevista para julho, segundo o governo.

Em pronunciamento hoje para anunciar o novo ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Jorge Antonio de Oliveira Francisco, Bolsonaro reconheceu erros na articulação política com o Congresso Nacional por "inexperiência", mas disse que Onyx continua "até sua saúde assim o permitir".

"Ele vai continuar conosco aí até sua saúde assim o permitir. [...] Inexperiência nossa. Tivemos algumas mudanças nas funções de cada um, que não deu certo. Em grande parte, retornamos ao que era feito no governo anterior", disse o presidente.

Bolsonaro afirmou que, ao seu entender, Onyx está "fortalecido" apesar das mudanças e não há ministro "fraco ou forte" no governo, pois "todo mundo tem de jogar junto".

"Todo mundo diz, e é verdade, que tem três ministérios aqui dentro que são fusíveis. Para evitar queimar o presidente, eles se queimam. A função do Onyx é a mais complicada que tem aqui", declarou.

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