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Leonid Volkov, o opositor que quer "machucar o Kremlin"

Roman Goncharenko (ca)

22/05/2019 16h04

Colaborador próximo do líder oposicionista Alexei Navalny é preso em Moscou. Ele está sendo acusado de incitação à desordem durante transmissão via internet de protestos contra elevação da idade de aposentadoria.Na manhã desta terça-feira (21/05), Leonid Volkov se encontrava num táxi a caminho do seu escritório em Moscou quando o carro foi parado e o político da oposição, detido pela polícia.

"Estávamos esperando por você há muito tempo", teria dito um dos policiais, segundo tuitou o principal líder da oposição russa, Alexei Navalny, sobre seu colaborador. Aparentemente, o policial estava se referindo à permanência de vários meses de Volkov no exterior.

Volkov, de 38 anos, é considerado um colaborador próximo e coordenador de campanha de Navalny. Além disso, ele é o gestor da Fundação Contra a Corrupção (FBK), uma ONG iniciada por Navalny e que atua cada vez mais como meio de comunicação, divulgando na internet vídeos reveladores e detalhadamente produzidos sobre a corrupção das elites russas.

A acusação atual da Justiça: organização de protestos em setembro de 2018 em Moscou. Naquela época, milhares tomaram as ruas da capital russa para protestar contra o aumento da idade de aposentadoria. Em termos concretos, Volkov foi acusado de incitação à desordem durante uma transmissão ao vivo dos protestos pela internet. Ele foi condenado a 20 dias de prisão.

Políticos europeus criticaram a prisão de Volkov. O eurodeputado Elmar Brok falou à DW sobre uma tentativa de "tirar o fôlego da oposição".

O coordenador para assuntos relativos à Rússia no Ministério do Exterior em Berlim, Dirk Wiese, afirmou: "A liberdade de reunião é um importante direito democrático. Parece desproporcional e incompreensível o fato de ter havido um grande número de prisões nos protestos pacíficos contra a reforma da previdência em setembro e esse número ter aumentado novamente meses depois."



De fundador do partido a coordenador de campanha

Volkov deve estar acostumado a tais acusações. Nos últimos anos, por diversas vezes, o opositor teve, assim como Navalny, de pagar multas por infrações em eventos de massa ou foi condenado a passar vários dias atrás das grades.

Numa ocasião, Volkov convocou através do YouTube para uma ação de campanha do autoproclamado candidato presidencial Navalny, na qual, entre outras coisas, havia a distribuição de panfletos. Em outra ocasião, Volkov organizou uma transmissão ao vivo de protestos da oposição e postou links nas redes sociais.

O filho de um professor universitário de Ecaterimburgo, nos Urais, é especialista em TI e político da oposição há mais de dez anos. Em 2009, Volkov foi eleito para o conselho municipal de sua cidade e se empenhou no movimento Solidariedade, do ex-vice-chefe de governo e líder oposicionista posteriormente assassinado Boris Nemtsov. Volkov está comprometido com questões de democracia digital e internet livre de censura.

Em 2012, Volkov foi um dos cofundadores e primeiro presidente do partido de oposição Aliança Popular, legenda próxima a Navalny para a qual as autoridades russas continuam negando registro, impedindo assim sua participação em eleições.

A Aliança Popular foi depois rebatizada de Partido Progressista e em 2018, de Rússia do Futuro. Em meados de maio, o partido de Navalny solicitou pela nona vez os documentos para registro no Ministério da Justiça. Uma decisão está sendo esperada para junho.

Volkov posicionou o Rússia do Futuro como partido "moderado de centro-direita", comparando-o com a CDU (União Democrata Cristã, partido da chanceler federal Angela Merkel) na Alemanha ou com o movimento iniciado pelo presidente Emmanuel Macron na França.

Segundo o político opositor, o objetivo do partido é uma "Rússia europeia" na qual haja "democracia, alternância de poder, eleições, concorrência política e liberdade de imprensa."

"Votação inteligente" contra partido de Putin?

Em 2013, Volkov já coordenava a central de campanha de Navalny na eleição para prefeito em Moscou. Naquela época, o político da oposição ficou em segundo lugar, obtendo por volta de 27% dos votos.

Em 2018, Volkov coordenou a campanha eleitoral presidencial de Navalny. O líder oposicionista não foi admitido como candidato devido a uma condenação internacionalmente criticada, mas usou a campanha para expandir sua rede de contatos no interior do país.

Entre outros projetos, Navalny vem coordenando o que chama de "votação inteligente". O projeto tem como objetivo promover o "voto tático" nas próximas eleições locais e regionais, a se realizar em setembro, apoiando promissores concorrentes do partido Rússia Unida, de Vladimir Putin, disse Volkov à DW. O objetivo estratégico seria "machucar o Kremlin".

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Autor: Roman Goncharenko (ca)

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