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Escândalo em vila da Rússia provoca caos em mercado de petróleo

Jake Rudnitsky

20/05/2019 16h03

(Bloomberg) -- Os moradores de Nikolayevka não tinham muito sobre o que fofocar desde a morte do dono do museu da vodca, próximo ao Arco da Amizade do Povo, acabando com a única atração turística da cidade.

Mas, agora que essa vila de trabalho duro na Rússia emergiu como o epicentro de um escândalo internacional no setor de petróleo, os moradores dizem que sabiam o tempo todo que algo ruim estava prestes a acontecer.

É neste lugar, ao leste de uma curva no rio Volga, que autoridades dizem que cloretos corrosivos entraram na rede russa de oleodutos de 64 mil quilômetros, fechando pela primeira vez a principal artéria de exportação para a Europa. O presidente da Rússia, Vladimir Putin, foi rápido em atacar a operadora nacional Transneft, dizendo em 30 de abril que a crise estava causando danos "enormes". Oito dias depois, os investigadores culparam um grupo de comerciantes do mercado negro que trabalhavam em conjunto com uma empresa local com acesso ao sistema da Transneft por meio de linhas alimentadoras em Nikolayevka.

Do quintal da casinha azul na qual morou a vida toda, Valya Martinenko, de 72 anos, pode ver claramente o depósito onde supostamente ocorreu a contaminação. Ela disse que o tráfego de caminhões-tanque que costumava acordá-la dia e noite parou misteriosamente há mais de um mês.

"Não sinto falta deles", disse enquanto galinhas bicavam ao longo de uma estrada próxima. "Apenas levantavam poeira. E aquele lugar nunca contratava moradores locais."

O Comitê de Investigação da Rússia acusa o grupo de roubar pelo menos 1 milhão de rublos (US$ 15,4 mil) em petróleo para oleodutos, substituindo o produto por um volume semelhante, uma mistura líquida composta por petróleo bruto e cloretos orgânicos.

O esquema durou cerca de 10 dias e atingiu 5 milhões de toneladas de exportações por meio do oleoduto entre Druzhba e a Bielorrússia e outras áreas, afetando as refinarias em toda a Europa Oriental. Isso inclui pelo menos 1,6 milhão de toneladas embarcadas do terminal Ust-Luga, no Báltico, a maioria das quais ainda está no mar, segundo dados compilados pela Bloomberg.

O depósito em Nikolayevka, agora cena do crime, tinha capacidade para movimentar até 40 mil toneladas por mês, ou cerca de 1,3 mil toneladas por dia. Isso significa que cada tonelada de petróleo sujo pode ter contaminado quase 400 toneladas de petróleo que já está na rede.

"É uma história sobre ganância e fraude de pequeno porte colidindo com a incompetência e a falta de controle sobre o que acontece nos dutos", disse o estrategista de petróleo da Bloomberg, Julian Lee.

Um porta-voz da Transneft não quis comentar.

Pelo menos quatro dos seis suspeitos procurados pelo Comitê de Investigação foram detidos. Entre eles está uma mulher que é a proprietária nominal da empresa que controla o depósito em Nikolayevka.

O antigo proprietário da instalação, Roman Trushev, disse que vendeu o depósito no ano passado, segundo o jornal Kommersant. Trushev, que está sendo procurado pela polícia russa, disse ao jornal que estava na Alemanha quando o escândalo surgiu e que cancelou os planos de voltar a Moscou.

O presidente do conselho da Transneft, Nikolay Tokarev, que serviu na KGB com Putin em Dresden durante a Guerra Fria, disse em seu encontro com o presidente que a empresa tem cerca de 150 pontos de coleta em todo o país, semelhantes aos fornecidos por Nikolayevka. A maioria deles, disse ele, é administrada por grandes empresas de petróleo.

--Com a colaboração de Sherry Su, Olga Tanas e Dina Khrennikova.

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