Topo
Notícias

Excelentíssimos influencers: quais os líderes mais tuiteiros do mundo?

Bolsonaro já postou mais de 600 vezes desde que virou presidente -  Reprodução/Instagram
Bolsonaro já postou mais de 600 vezes desde que virou presidente Imagem: Reprodução/Instagram
do UOL

Luísa Pessoa

Colaboração para o UOL, em São Paulo

23/04/2019 04h00

Resumo da notícia

  • Bolsonaro já tuitou mais de 600 vezes desde que foi eleito
  • Após polêmica com Maia, disse que "não leva mais de dez minutos" para publicar algo
  • Ainda bem, senão seriam 41 horas alimentando seu feed (uma semana por mês)
  • Ele não está sozinho! Outros disputam o posto de maior líder tuiteiro do mundo:
  • Trump (EUA), Duterte (Filipinas), Maduro (Venezuela) e Narendra Modi (Índia)

Eu tuíto, tu tuítas e o excelentíssimo senhor presidente da República também tuíta, assim como o senhor vice-presidente, os senhores ministros e os senhores deputados.

Dando continuidade a uma estratégia que favoreceu sua eleição, Jair Messias Bolsonaro (@jairbolsonaro, 4 milhões de seguidores no Twitter) já tuitou mais de 600 vezes desde que foi eleito, cerca de 100 dias atrás. São mensagens que vão de anúncios técnicos do governo a imagens explícitas de "golden shower".

Segundo o site SocialBearing, foram cerca de 6.500 tuítes desde a criação da conta, em 31 de março de 2010, o que baixa a média para dois tuítes por dia.

Recentemente, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (@RodrigoMaia, 97,5 mil seguidores), disse que Bolsonaro deveria gastar mais energia articulando a reforma da Previdência e "menos tempo cuidando do Twitter". O presidente respondeu que "não leva mais de dez minutos para subir uma matéria nas redes sociais".

Ainda bem que é menos do que isso, pois se realmente levasse dez minutos por cada tuíte de sua conta, só em março (foram 250 no total, sendo 143 tuítes, 56 respostas aos próprios tuítes, 28 respostas a outros tuítes, 19 retuítes e quatro retuítes com comentários), isso significaria que o presidente ficou 41 horas alimentando seu feed.

Ou seja, mais de uma semana inteira de trabalho.

Logo depois da polêmica com Maia, Bolsonaro disse que não é apenas ele que opera suas contas em redes sociais, mas que, ainda assim, sempre são pessoas de sua confiança. "No meu Twitter, a responsabilidade é minha. Quem tem minha senha tem minha confiança. Não sou eu que posto (algumas vezes), mas dou o aval", disse, segundo a Folha.

No Brasil, a estratégia do presidente para o Twitter ressoa parte do que outros líderes já ensinaram.

Assim como Donald Trump (EUA) e Nicolás Maduro (Venezuela), Bolsonaro usa suas redes para denunciar e contornar supostas mentiras da imprensa e de opositores. Como Rodrigo Duterte (Filipinas), tem um exército de apoiadores à disposição para assediar jornalistas que ousam expor seu governo, como foi o caso com as jornalistas Patrícia Campos Mello e Constanza Rezende. E como Narendra Modi (Índia), de tempos em tempos, busca amenizar sua imagem postando fotos amigáveis ao estilo "gente como a gente" (lembra do tuíte em que ele aparecia lavando a louça da casa?).

Para o brasileiro, foi uma estratégia de sucesso durante a campanha. Agora, no governo, talvez tenha que ser repensada.

Trump tuiteiro - Saul Loeb/AFP - Saul Loeb/AFP
Trump é o que mais tem seguidores e não me o que diz no Twitter
Imagem: Saul Loeb/AFP

Ele não está sozinho

Não é exclusividade nossa ter um presidente hiperativo e influente nas redes sociais. Segundo o estudo Twiplomacy 2018, feito pela agência de comunicação BCW's (Burson Cohn & Wolfe), 97% de todos os 193 estados membros da ONU têm uma presença oficial na plataforma --só ficam de fora Laos, Mauritânia, Nicarágua, Coreia do Norte, Suazilândia e Turquemenistão.

Foram identificadas 951 contas no Twitter, sendo 372 contas pessoais e 579 institucionais de chefes de Estado e de governo, além de ministros das Relações Exteriores de 187 países.

RANKING DOS TUITEIROS

  • Bolsonaro - desde 31 de março de 2010 - 6464 tuítes - 1,96 por dia
  • Trump - desde 18 de março de 2009 - 41.118 tuítes - 11,21 por dia
  • Maduro - desde 8 de março de 2013 - 99.253 tuítes - 44,75 por dia
  • Modi - desde 10 de janeiro de 2009 - 22.870 tuítes - 6,12 por dia

Fonte: SocialBearing, em 5 de abril de 2019

O relatório aponta que, de todos os chefes de Estado, Trump (@realDonaldTrump) é o mais influente, por ter mais alcance. Com quase 60 milhões de seguidores, chegou a ter uma publicação retuitada mais de 327 mil vezes.

Era um GIF de um ringue de luta, em que Trump esmurrava um homem cuja cabeça havia sido substituída pelo logo da rede CNN, chamada por ele de Fraud News Network.


Em sua conta, o presidente não poupa ofensas a seus oponentes nem a líderes internacionais, já tendo chamado o ditador norte-coreano, Kim Jong-Un, de "Homenzinho do Foguete", e o presidente sírio, Bashar Assad, de "animal", retórica que complica negociações diplomáticas travadas pelos EUA.

Em média, seus tuítes recebem 20 mil retuítes. Mas ele ignora a conta oficial do governo (@POTUS), criada durante o governo Obama.

Modelo de conduta para o presidente Bolsonaro, Trump mencionou nominalmente o capitão reformado em apenas dois de seus tuítes, como é possível verificar pelo site Trump Twitter Archive. Um em 29 de outubro de 2018, em que parabenizava Bolsonaro pela eleição, e outro em 1º de janeiro de 2019, em que elogiava o discurso de inauguração do brasileiro.

Para efeitos de comparação, Bolsonaro já mencionou Trump 12 vezes no Twitter.

No país das redes sociais...

O indiano Modi chama a atenção pelo número de seguidores: possui 46,9 milhões de seguidores na sua conta pessoal (@narendramodi) e 28,8 milhões na conta oficial de primeiro-ministro (@PMOIndia). Fica atrás apenas de Trump e do papa Francisco (@Pontifex), que tem mais de 47 milhões de seguidores, somando as nove contas (cada uma em uma língua).

Em 2014, o "The New York Times" já chamava atenção à sua habilidade nas mídias sociais num país que ama WhatsApp, Facebook e Twitter tanto quando os brasileiros (ou mais).

Em sua conta pessoal, ele posta fotos da sua família, faz comentários sobre jogos de críquete (esporte muito popular no país), deseja feliz aniversário a amigos famosos. Ele, ao contrário dos outros, evita fazer ataques pessoais a oponentes.


O premiê que fez escola, no entanto, pode estar ficando para trás. O The Times of India mostrou no final do ano passado como os tuítes de Modi, ainda que com grande alcance, estavam recebendo menos engajamento (retuítes, likes e respostas) que um de seus principais opositores, o presidente do Congresso Rahul Gandhi.

Diferentemente de Modi, que usa uma estratégia amigável para as redes sociais, Rahul foca seus tuítes em assuntos políticos, criticando constantemente o premiê e denunciando o problema crônico de desemprego no país. Assim, neste ano, com as eleições gerais, a Índia poderá assistir a uma mudança substancial de estratégia política nas redes sociais.

erdogan twitter - Reuters/Murad Sezer - Reuters/Murad Sezer
Erdogan acha o Twitter "a maior ameaça à sociedade", mas tem uma das maiores contas
Imagem: Reuters/Murad Sezer

Relação dúbia

Já Recep Tayyip Erdogan (@RTErdogan, com mais de 13,5 milhões de seguidores), no poder na Turquia desde 2003 --inicialmente como primeiro-ministro, e desde 2014 como presidente-- tem uma relação dúbia com as redes sociais. Apesar de aparecer no ranking de mais seguido, em 2013, com os protestos do parque Gezi, chamou o Twitter de "a maior ameaça à sociedade".


No país, são comuns a interrupção dos serviços de internet e bloqueios das redes sociais durante períodos de crise. Em 2018, quando a moeda do país, a lira, sofreu uma forte desvalorização, o presidente culpou supostas fake news nas redes sociais. Vale lembrar que hoje, no país, a grande maioria dos meios de comunicação tradicionais, como canais de TV, rádios e jornais, é controlada pelo governo.

No entanto, na tentativa frustrada de golpe de Estado em 2016, Erdogan se voltou às mesmas redes sociais (após elas terem passado por um bloqueio de duas horas) para chamar a população a resistir, lançando mensagens em diferentes plataformas como Facebook, WhatsApp e Twitter.

Modelo chavista

Presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, e sua esposa Cilia Flores fazem transmissão ao vivo no Facebook - Reprodução - Reprodução
Nicolás Maduro e sua esposa Cilia Flores fazem transmissão ao vivo no Facebook
Imagem: Reprodução

Nicolás Maduro (@NicolasMaduro, 3,6 milhões de seguidores) pode não ter o mesmo volume de seguidores na Venezuela, mas herdou o modus operandi atento às redes sociais de seu predecessor, Hugo Chávez (@chavezcandanga, 4 milhões de seguidores).

Chávez foi um dos primeiros chefes de Estado a aderir ao Twitter, já em 2010, e se firmou na rede com uma linguagem acessível e próxima aos seus eleitores.

Vale lembrar que na Venezuela o Twitter é muito mais popular que o Facebook. Cerca de 80% dos internautas venezuelanos usam o Twitter, de acordo com o StatCounter, frente a apenas 10% adeptos ao Facebook.


Maduro enxerga nas redes sociais uma maneira de contornar a suposta campanha de difamação travada contra seu governo da mídia tradicional. Ainda assim, desde que assumiu poder, Maduro vem censurando e silenciando os órgãos de imprensa do país que não são controlados pelo Estado, o que levou muitos venezuelanos a irem às redes sociais em busca de notícias.

No entanto, o acesso à internet começa a se complicar no país. Em março deste ano, 91% da Venezuela chegou a ficar sem conexão à internet, segundo o site de monitoramento Netblocks.org, com vários apagões no sistema elétrico. Uma das interrupções no serviço de conexão da CANTV, servidora estatal de internet, ocorreu no mesmo intervalo de tempo em que o líder opositor Juan Guaidó fazia um discurso transmitido por livestream.

(O governo diz que os apagões foram provocados por atos de sabotagem do governo americano e de opositores. Já os críticos de Maduro dizem que a situação se deve à falta de manutenção e de investimento na rede elétrica.)

Rodrigo Duterte, presidente das Filipinas - Ezra Acayan/Reuters - Ezra Acayan/Reuters
Rodrigo Duterte, das Filipinas, é conhecido por suas declarações polêmicas
Imagem: Ezra Acayan/Reuters

Exército do presidente

Vale citar ainda Rodrigo Duterte, eleito em 2016 para a Presidência das Filipinas. Ele não conta com perfis oficiais, mas possui nas redes sociais, principalmente no Facebook, um exército de apoiadores - pagos, espontâneos e bots - que respondem agressivamente a qualquer crítica feita ao governo.

Este exército online é também conhecido como DDS (Duterte Die-Hard Supporters), a mesma sigla da Davao Death Squad, o Esquadrão da Morte de Davao. Segundo opositores do governo, o grupo de extermínio teria sido criado por Duterte quando ele era prefeito de Davao para eliminar traficantes e usuários de drogas, além de opositores políticos. Duterte nega as acusações.

Ainda assim, o presidente é conhecido pela retórica pró-violência policial e assassinatos extrajudiciais, defendendo a morte de "criminosos".

Jornalistas independentes são seu constante saco de pancadas. O maior exemplo é Maria Ressa, ex-repórter da CNN e fundadora do site de notícias Rappler, que já foi acusada de ser uma agente internacional infiltrada no país, sonegadora de impostas e traidora, além de ser alvo constante de ameaças: "Eu quero que Maria Ressa seja estuprada repetidamente até morrer", dizia uma das mensagens que recebeu. Em fevereiro, ela ficou detida por uma noite devido a um artigo de 2012 em que denunciava um caso de corrupção no Judiciário.

Falando para quem?

O que chama a atenção em todos os casos citados, com exceção da Venezuela, é a baixa presença da população na rede adotada pelos líderes.

  • No Brasil, 70% dos adultos usam internet, 53% usam redes sociais e 6,32% estão no Twitter
  • Nos EUA, 89% dos adultos usam internet, 69% usam redes sociais e 6,39% estão no Twitter
  • Nas Filipinas, 56% dos adultos usam internet, 49% usam redes sociais e 4,28% estão no Twitter
  • Na Venezuela, 72% dos adultos usam internet, 59% usam redes sociais e 78,98% estão no Twitter
  • Na Índia, 25% dos adultos usam internet, 20% usam redes sociais e 1,42% estão no Twitter

*Pew Research Center, 2018 ("adultos que usam a internet ao menos ocasionalmente ou possuem smartphone"). São considerados adultos maiores de 18 anos; **Statcounter, dados referentes a fevereiro de 2019

Amor de Bolsonaro pelas redes atrapalha a democracia

Leia mais

Notícias