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Suicídio de García se torna arma política para enfraquecer Lava Jato no Peru

20/04/2019 17h57

Mercedes Palomino.

Lima, 20 abr (EFE).- O suicídio do ex-presidente peruano Alan García, acusado de corrupção, se transformou na principal justificativa de diversos políticos para tentar enfraquecer a luta anticorrupção de promotores e juízes no Peru, em uma semana crucial para a investigação do caso Odebrecht no país.

A investigação, que envolve os últimos quatro ex-presidentes peruanos, entre os quais estava García, terá nesta semana, entre 23 e 26 de abril, novos nomes e confissões dos pagamentos ilegais que a construtora brasileira fez no Peru, quando o ex-superintendente da Odebrecht no país, Jorge Barata, prestar depoimento no Brasil diante dos promotores peruanos.

O que Barata revelar pode comprometer e ampliar a lista de investigados do Ministério Público peruano no caso Lava Jato, algo que preferem evitar alguns políticos que reduziram nos últimos dias o trabalho dos promotores a um "ódio visceral" ou a uma "perseguição fascista", tal como afirmou o congressista Mauricio Mulder, do Partido Aprista Peruano (PAP), que García liderou por mais de 30 anos.

O luto por García reconfigurou também a postura do partido fujimorista Força Popular, que, após ter combatido o ex-presidente Pedro Pablo Kuczynski no ano passado no Congresso, até conseguir sua renúncia, agora se mostra indignado diante da recente medida que determinou sua prisão preventiva por três anos por suposta corrupção vinculada ao caso Odebrecht.

O porta-voz do Força Popular, Carlos Tubino, declarou à imprensa local estar "surpreendido e indignado" com a medida ditada contra Kuczynski.

Uma posição similar foi expressada por sua colega fujimorista Rosa Bartra, que presidiu uma comissão investigadora que concluiu que existiam evidências de vínculos de Kuczynski com o caso Odebrecht, mas agora considerou que isso não justifica a prisão preventiva.

"Isso me preocupa, mas realmente existem os elementos de perigo processual ou obstrução à Justiça que determinam uma prisão preventiva? Eu acredito que não", declarou.

A comissão do Congresso que averiguou o caso Lava Jato no Peru incriminou os ex-presidentes Kuczynski, Alejandro Toledo e Ollanta Humala, mas excluiu Alan García e a líder do seu partido, Keiko Fujimori, que cumpre três anos de prisão preventiva enquanto é investigada por suposta lavagem de dinheiro, também pelo caso Odebrecht.

Nesse sentido, Bartra disse que "é necessário repensar o que é que está acontecendo com a prisão preventiva e a detenção preliminar" no seu país, e considerou que deve haver uma sanção para os que sejam culpados pelo caso Odebrecht, mas com respeito ao "devido processo".

De maneira bem diferente se manifesteram representantes da esquerda, como o congressista Marco Arana e a ex-candidata presidencial Verónika Mendoza, líder do agrupamento Novo Peru.

"A luta contra a corrupção não deve deter-se. Lamentamos que o suicídio do senhor García tenha acontecido quando o Sistema de Justiça cercava o entorno de corrupção que ele teria conseguido construir por décadas", afirmou Arana nas suas redes sociais.

Já Mendoza disse, por meio de um comunicado, que não se pode permitir a utilização política de uma tragédia para "deslegitimar a luta contra a corrupção".

A defesa do trabalho dos promotores e juízes peruanos também foi respaldada pelo escritor Mario Vargas Llosa, que declarou que "seria trágico" que "na compreensível emoção pelo suicídio de García" se sabote o trabalho do Judiciário.

Nesse sentido, prêmio Nobel de Literatura de 2010 enfatizou que um grupo de promotores e juízes peruanos "surpreendeu o mundo pela coragem com a qual vieram atuando para combater a corrupção". EFE

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