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Representante da ONU na Líbia diz que grandes potências divergem sobre futuro do país

20/04/2019 18h10

As forças leais ao governo de união nacional (GNA) liderado por Fayez el-Sarraj, instalado em Trípoli, anunciaram neste sábado (20) o início de uma ofensiva contra as tropas chefiadas pelo marechal Khalifa Haftar, que saíram da região leste do país há duas semanas dispostas a conquistar a capital líbia. Os combates se intensificaram na zona sul de Trípoli.

Marie-Pierre Olphand, da RFI

De vários bairros da capital líbia era possível ouvir os disparos intensos de foguetes e obuses, após vários dias de combates que não permitiram a nenhum dos dois lados avançar. "Nossas forças lançaram grandes operações ofensivas", sobretudo, nas frentes de Wadi Rabi, Al Sawani e Ain Zara, na periferia sul da capital, afirmou o porta-voz do governo de união nacional, Rida Issa.

O coronel Mohamad Gnunu, das forças do GNA, anunciou que "fará um balanço das operações no fim do dia". Gnunu afirmou que foram lançados sete ataques aéreos contra as posições do Exército Nacional Líbio (ANL) de Haftar, em particular ao sul de Gharian, assim como contra a base área de Al Wotya.

Já o ANL disse que estava "assumindo o controle de várias posições novas na frente de batalha em Trípoli". "Nossas forças estão avançando à medida que as milícias do GNA se retiram de todas as frentes", declarou em sua página oficial do Facebook. "Chegaram reforços para as frentes - brigadas militares, batalhões do Exército - para (ganhar) a batalha o quanto antes", acrescentou o ANL.

Desde o início de sua ofensiva em 4 de abril, as forças de Haftar estão estacionadas ao sul da capital, apesar do anúncio de avanços diários.

Os combates deixaram pelo menos 213 mortos e mais de mil feridos em duas semanas, segundo o mais recente balanço da Organização Mundial de Saúde (OMS).

Ninguém se entende sobre trégua na Líbia, diz diplomata da ONU

A RFI entrevistou o representante especial da ONU para a Líbia, Ghassan Salamé, após a revelação de uma conversa telefônica entre o presidente americano, Donald Trump, e o marechal Haftar. Salame disse estar preocupado com as divisões internas entre os países que formam o Conselho de Segurança sobre a situação na Líbia.

Salamé declarou não ter ficado surpreso com as conversas entre Trump e o marechal Haftar. "Estávamos conscientes de que tinha havido contato prévio com o conselheiro de segurança nacional americano e de outros contatos de representantes do contra-terrorismo", explicou o diplomata. A ONU apoia o governo no poder em Trípoli. 

Salamé não quis comentar a declaração de Trump, que afirmou compartilhar com o marechal Haftar, homem forte em Benghazi (leste), sua visão sobre um futuro democrático para a Líbia.

O representante das Nações Unidas afirmou apenas estar preocupado com a extrema divisão no interior do Conselho de Segurança. Ele relatou que em uma reunião ocorrida na quinta-feira (18), em uma sessão a portas fechadas, foi impossível obter um cessar-fogo ou pelo menos uma trégua humanitária no país totalmente fragmentado desde a queda de Muammar Kadhafi.

Segundo Salamé, os Estados Unidos rejeitaram um projeto apresentado pelo Reino Unido, a Rússia também, e nem três países africanos presentes quiseram ser citados como participantes das discussões. "Em suma, o Conselho de Segurança estava completamente dividido e isso é o mais preocupante", destacou.

"A divisão da comunidade internacional, se é que ela existe, me deixa tão preocupado quanto os combates", salientou o diplomata. Salamé ressaltou que a Alemanha fez tudo para ajudá-lo, insistindo sobre a necessidade de uma trégua humanitária na Líbia, mas a maioria dos demais países não quer um cessar-fogo.

Sobre a posição da França, que oficialmente apoia os esforços da ONU ao lado do governo de Trípoli, mas é suspeita de desempenhar um jogo duplo nas costas da ONU, o emissário das Nações Unidas disse não dispor de meios para ver o que está acontecendo no terreno. "É verdade que o ministro do Interior do governo de Trípoli está enfurecido com a França, e ele deve ter suas razões", comentou o diplomata. "Eu acredito que a maioria dos países, no caso da Líbia, não são totalmente transparentes", concluiu.

Com agências internacionais

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