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Greve de caminhoneiros agora teria efeito pior que em 2018, diz consultoria

do UOL

Vladimir Goitia

Colaboração para o UOL, em São Paulo

27/03/2019 12h25

Uma nova greve de caminhoneiros neste ano teria impactos potencialmente maiores na economia que os provocados pela paralisação de maio de 2018, estima a consultoria Austin Rating.

"O impacto de uma paralisação num momento em que o governo se encontra fragilizado seria desastroso. É difícil no momento dimensionar quanto. Isso porque não sabemos a intensidade nem a duração de uma eventual paralisação", disse Alex Agostini, economista-chefe da consultoria.

No ano passado, após dez dias de greve dos caminhoneiros, o desempenho do setor de serviços caiu 3,8%, a produção industrial despencou 10,9%, as vendas no comércio recuaram 0,6%, e a inflação disparou de 0,4% em maio para 1,26% em junho.

"Além das perdas significativas, a retomada da economia depois de uma paralisação como aquela do ano passado leva de três a quatro meses", disse Pedro Francisco Moreira, presidente da Abralog (Associação Brasileira de Logística).

Segundo Agostini, poderiam se somar também paralisações de outras categorias, como servidores públicos, contrários à reforma da Previdência.

O que vem sendo feito para evitar uma greve?

O governo informou que vem acompanhando de perto a movimentação dos caminhoneiros e, de alguma forma, já fez algumas sinalizações para apaziguar os ânimos da categoria.

A Petrobras, por exemplo, anunciou que o reajuste do diesel nas refinarias terá intervalos de pelo menos 15 dias. A BR Distribuidora anunciou a criação do "Cartão Caminhoneiro", que deve entrar em operação em 90 dias e permitirá comprar diesel a preço fixo em postos com bandeira BR.

A medida é positiva, mas o ideal seria tornar os reajustes mensais, segundo Diumar Bueno, presidente da CNTA (Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos). Sobre o cartão, fez críticas: "Se trata de outra medida ilusória porque não garante nenhum valor menor de mercado, só estipula uma regra para sua rede praticar o mesmo valor."

Para Moreira, da Abralog, o governo está receptivo a encontrar soluções para o segmento. Segundo ele, isso foi expressado há cerca de um mês pelo ministro de Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, em reunião com representantes da associação, em Brasília.

Em comunicado, tanto a CNTA como a Abcam (Associação Brasileira dos Caminhoneiros) afirmaram, entretanto, estarem insatisfeitas com a falta de fiscalização do governo para fazer cumprir a tabela de preços de frete, que estabelece valores mínimos a serem pagos aos motoristas.

Ameaça é 'manobra política', dizem empresários

A constante ameaça de uma nova greve nacional por parte de caminhoneiros autônomos é considerada "manobra política", segundo empresários do setor de transporte de carga. Eles avaliam que a mobilização da categoria por meio de redes sociais, mesmo que pontual, como ocorreu nos últimos dias, tem componente político para "fragilizar ainda mais o já fragilizado governo Bolsonaro".

"Não há necessidade disso. Precisamos de cautela e de diálogo para evitar perdas de R$ 25 bilhões para economia como essas que ocorreram no ano passado", disse o presidente da Abralog.

A CNTA disse ao UOL que a decretação de uma greve legítima teria de passar primeiro por votação de seus afiliados em assembleia extraordinária. Afirmou, ainda, que as informações que correm nas redes sociais "são boatos isolados puramente políticos de pessoas que não representam a CNTA". A entidade congrega hoje 140 sindicatos e oito federações.

Procurado, José Fonseca Lopes, presidente da Abcam, disse que não faria comentários.

A Associação Brasileira de Logística e Transporte de Carga (ABTC) afirmou que não apoia qualquer tipo paralisação, e nem apoiou a do ano passado, principalmente pelo ônus que isso acarreta ao segmento.

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