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Poderoso: por que o Tiranossauro rex é a maior estrela do mundo científico

Tiranossauro rex vive no imaginário mundial como um dos grandes predadores que pisou na Terra - Kirsty Wigglesworth/AP
Tiranossauro rex vive no imaginário mundial como um dos grandes predadores que pisou na Terra Imagem: Kirsty Wigglesworth/AP

James Gorman

24/03/2019 04h00

O rei está morto. Vida longa ao rei!

O Tiranossauro rex continua sendo o maior e mais cruel predador terrestre de todos os tempos. Tinha o tamanho de um ônibus municipal, uma cabeça quase da mesma altura de Tom Cruise e um sorriso tão devastador quanto. Os cientistas estão tão encantados como o restante de nós.

Depois que o T. rex foi descrito pela primeira vez em 1905, o megafóssil mais carismático do mundo poderia ter se tornado apenas uma mera curiosidade. Não havia garantias de que se descobririam mais coisas e ninguém poderia prever como a história dele seria interessante. No entanto, por mais de 100 anos, o T. rex tem sido um presente extraordinário para o estudo dos dinossauros e talvez para a ciência em geral.

Recentemente, o ritmo das descobertas foi acelerado e muitas das revelações sobre o T. rex, os outros tiranossauros parentes dele e a vida pré-histórica que levaram serão celebrados com uma nova exposição, "T. Rex: The Ultimate Predator" (T. Rex: O Predador Definitivo), que será aberta no dia 11 de março no American Museum of Natural History (Museu Americano de História Natural), em Nova York. Em junho, o Smithsonian National Museum of Natural History (Museu Nacional de História Natural da Instituição Smithsoniana), em Washington, vai reinaugurar sua sala de fósseis, que será coroada em toda a sua glória com a presença do próprio T. rex em uma nova posição.

Os curadores da exposição de Nova York são dois pesquisadores com longa experiência em T. rex e outros dinossauros: Mark A. Norell, curador de fósseis de anfíbios, répteis e pássaros no museu, e Gregory M. Erickson, paleobiólogo na Universidade Estadual da Flórida. Em uma entrevista que deram juntos, eles insistiram que o T. rex é muito mais do que um rostinho bonito e terrivelmente assustador. Ele é uma conquista evolutiva extraordinária e uma estrela da ciência.

Norell disse que o T. rex tem ajudado a promover o estudo dos dinossauros por meio da paleontologia nos últimos 20 anos, o que fica evidente no número crescente de pesquisadores, novos fósseis e nas cada vez mais sofisticadas técnicas para estudar os achados. "Nos últimos 30 anos, o número de tiranossauros triplicou", afirmou. Em matéria de tecnologia, "é um mundo diferente". Erickson complementou: "A Era de Ouro da paleontologia é agora."

Outros pesquisadores, como Philip J. Currie, paleobiólogo que estuda dinossauros na Universidade de Alberta, no Canadá, concordaram que a área havia estourado. "Tem muito mais coisa acontecendo agora do que em qualquer outra época", declarou. Quando ele começou, nos anos 70, "provavelmente só havia seis de nós no mundo sendo pagos" especificamente para estudar dinossauros. Os outros davam aula sobre anatomia ou biologia dos vertebrados ou eram amadores dedicados. "Hoje em dia, talvez haja uns 150", disse, sem mencionar o "aumento colossal no número de trabalhos científicos".

Desde o momento em que foi descoberto, o T. rex virou uma sensação, atraindo tanto o grande público quanto pesquisadores. Cada novo esqueleto ou esqueleto parcial era comemorado. Alguns, como o esqueleto de T. rex batizado de Sue, e que agora está exposto no Museu Field de História Natural, em Chicago, atraíram a atenção internacional. Sue foi encontrada em 1990, o maior e mais completo esqueleto de T. rex já descoberto. O museu pagou 8,3 milhões de dólares (cerca de 30 milhões de reais) por ele.

A reconstrução de outro gigante encontrado pouco depois de Sue, conhecido como Scotty, será revelada no Royal Saskatchewan Museum (Museu Real Saskatchewan) em Regina, Saskatchewan, Canadá, em maio.

Talvez o nome da cidade vá provocar questionamentos, que já deveriam ter sido feitos, sobre o motivo de o grande dinossauro não ter sido chamado de Tyrannosaurus regina. Não é porque todos os exemplares encontrados até agora são machos. Não existe consenso quanto ao sexo deles, simplesmente por não ser tão fácil de ser identificado - especialmente quando tudo que se tem é um crânio ou uma coxa.

Poucos achados estão 90% intactos, como Sue estava (o nome é uma homenagem a Sue Hendrickson, responsável pelo descobrimento). Até agora, encontraram um T. rex que apresentava um tipo de osso que, supostamente, o identificaria claramente como fêmea. Mas mesmo esse resultado é controverso.

Nos bastidores das reconstruções do maior T. rex que os curadores podem encontrar, os paleontólogos estão reunindo uma abundância de novos conhecimentos sobre esses dinossauros. Os resultados são frequentemente conduzidos por descobertas de muitos fósseis de tiranossauros menores ao redor do mundo.

Estudos que usam imagens de tomografia computadorizada, análises químicas e novas técnicas microscópicas foram também capazes de jogar luz sobre o comportamento, a evolução e as habilidades sensoriais do T. rex. Investigações sobre onde e como o músculo era acoplado ao crânio mostraram que a mandíbula do T. rex tinha uma força de mordida de mais de 3.500 quilos, o suficiente para fissurar os ossos de outros dinossauros gigantes. Os coprólitos, ou fezes conservadas naturalmente pela fossilização, indicaram a presença de ossos parcialmente digeridos, sugerindo que o T. rex tinha o suco gástrico apropriado para processá-los.

Erickson realizou estudos microscópicos dos anéis de crescimento dos ossos, que lhe permitiram determinar a idade de dinossauros individuais e com que rapidez cresciam. Aparentemente, o T. rex engordava cerca de dois quilos por dia durante os anos da adolescência. Ele viveu no máximo até os 30 anos. Foi, como Erickson descreveu, "o James Dean dos dinossauros: viva intensamente, morra jovem".

Durante um tempo, debateu-se vigorosamente se o T. rex seria mais parecido com um abutre do que com um falcão, com uma constituição extremamente inconveniente para perseguir e matar presas. Marcas de mordidas cicatrizadas nos fósseis de outros dinossauros e um dente de T. rex incrustado na cauda de um hadrossauro indicam que ele caçava outros dinossauros, apesar de, provavelmente, também procurar carniça, assim como a maioria dos predadores.

A julgar pelos seus parentes e pelas pegadas fossilizadas de um grupo de dinossauros reunidos, o T. rex era um animal social. Ele provavelmente caçava em bandos, decerto quando era mais jovem. O comportamento desses animais presumivelmente mudava à medida que crescia. Quando ele tinha apenas a metade do tamanho de um ônibus, o mais provável é que corresse muito mais rapidamente do que ao atingir seu tamanho completo.

O cérebro do dinossauro era grande mesmo para o tamanho dele, insinuando maior nível de inteligência do que em outros dinossauros. Possuía vista excelente, com globos oculares que despontavam para fora dos ossos da cabeça, o que lhe permitia uma ótima percepção de profundidade. As orelhas foram adaptadas para captar sons de baixa frequência. A caixa craniana indica que as habilidades de olfato do T. rex eram excepcionais, mesmo que fosse raro encontrar dinossauros com bom sentido olfativo.

E ele tinha penas, mais quando jovem, mas provavelmente uma cauda com plumas, pelo menos na idade adulta. Nenhum fóssil de T. rex encontrado mostra a presença de penas. Mas Norell argumentou que, considerando o que sabemos sobre outros tiranossauros, dinossauros relacionados e o curso evolutivo do dinossauro, "temos tanta evidência de que o T. rex tinha penas assim como sabemos que os neandertais tinham cabelo".

Como o T. rex surgiu e como eram seus parentes está no centro de ambas as exposições realizadas em Nova York e da ciência recente. O T. rex é apenas uma espécie entre muitas. A superfamília que contém os tiranossauros inclui mais de duas dúzias de outros dinossauros. Eles remontam a 100 milhões de anos antes de o T. rex ter vivido. "Levou muito tempo para que a evolução produzisse o T. rex", asseverou Stephen L. Brusatte, paleontólogo da Universidade de Edimburgo e autor de um livro recente sobre dinossauros.

A maioria dos primeiros tiranossauros era pequena, alguns tão pequenos quanto galinhas. Em geral, variavam entre o tamanho de um cachorro e o de um cervo. (Mês passado, um tiranossauro pequenino da América do Norte foi mencionado.) Esses primeiros tiranossauros não foram exímios predadores durante grande parte daqueles 100 milhões de anos. "A maior parte do tempo, eles foram predadores de segundo ou até mesmo de terceiro escalão. Ao longo da maior parte de sua história, os tiranossauros não eram assim tão especiais", esclareceu Brusatte.

Foi então que o T. rex surgiu, muito próximo do fim da Era dos Dinossauros, tornando-se o predador dominante na América do Norte. A origem do T. rex é uma lição sobre a maneira como a evolução funciona, explicou Brusatte: sem um plano preestabelecido. Muitos dinossauros predadores apareceram e desapareceram através dos milênios. Os tiranossauros obtiveram sucesso e evoluíram com o tempo.

Entretanto, se outros dinossauros de grandes dimensões, como os alossauros, não tivessem sido extintos, talvez não houvesse tido espaço no topo da cadeia alimentar para uma criatura como o T. rex. Poderíamos dizer que o T. rex teve sorte. Mas, então, ele dominou no exato momento, há 65 milhões de anos, em que todos os dinossauros nonavianos foram extintos.

A inveja sempre acompanha a realeza. E Brusatte diz que existiu algum ressentimento pelo fato de o T. rex ter chamado tanta atenção e tantos paleontólogos. "As pessoas que estudam os não dinossauros dizem que dinossauros recebem toda a atenção. As pessoas que estudam os dinossauros dizem que os terópodes recebem toda a atenção. As pessoas que estudam os terópodes dizem, ah, os tiranossauros recebem toda a atenção", disse.

E, entre os tiranossauros, há apenas uma estrela, o rei. Mas existe uma razão para que o T. rex receba tanta atenção. "Ele merece", assegurou Currie.

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