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Os números que podem derrubar mitos e clichês sobre a migração ao redor do mundo

Barco com 47 imigrantes perto da Líbia - FEDERICO SCOPPA / AFP
Barco com 47 imigrantes perto da Líbia Imagem: FEDERICO SCOPPA / AFP

24/03/2019 06h30

Um novo estudo sobre migração mostra que mais pessoas estão se mudando entre países em desenvolvimento e que total de migrantes, no entanto, soma menos de 4% da população mundial.

A imigração é um dos tópicos mais controversos da nossa época. Mas alguns fatores do fluxo de pessoas ao redor do mundo podem surpreender você.

Você sabia, por exemplo, que menos de 4% da população mundial vive em um país diferente do local de nascimento original?

"Tem havido muito debate sobre uma explosão na imigração, mas os números mostram uma história diferente", disse à BBC o especialista francês em população Gilles Pison.

Pison, pesquisador do Instituto Nacional de Estudos Demográficos (Ined), com sede em Paris, é autor de um novo estudo sobre a migração global, que mostra que as percepções de imigração podem diferir muito das informações disponíveis sobre o tema.

Pison usa o exemplo do que tem sido chamado de crise da migração europeia de 2015, desencadeada pela instabilidade no Oriente Médio, principalmente devido à Guerra Civil na Síria.

"Apesar de sua grande escala, especialmente na Europa, os fluxos migratórios gerados desde 2015 por conflitos no Oriente Médio não alteraram significativamente o quadro global da migração internacional", diz Pison.

"A Organização das Nações Unidas (ONU) diz que havia cerca de 258 milhões de migrantes internacionais em 2017, apenas uma pequena minoria da população mundial (3,4%). E a proporção de imigrantes aumentou apenas ligeiramente nas últimas décadas - 30 anos atrás, em 1990, era de 2,9%, e em 1965 era de 2,3%. Provavelmente, só mudou levemente em cem anos", acrescentou.

Os Estados Unidos recebem a maior população imigrante do mundo: 49,8 milhões, com base em dados de 2015. Eles representam pouco mais de 15% da população do país.

Mas, quando é analisada apenas a relação de imigrantes em relação à população total de um país, a lista é encabeçada pelos Emirados Árabes Unidos - 8 milhões de imigrantes formam mais de 88% da população do país do Golfo Pérsico, rico em petróleo.

Os países com maior presença de imigrantes em sua população (Fonte: ONU, 2017)

Emirados Árabes Unidos

88,4%

Singapura

46%

Arábia Saudita

37%

Suíça

29,6%

Austrália

28.8%

Canadá

21,5%

Áustria

19%

Estados Unidos

15,1%

Alemanha

14,8%

Reino Unido

13,4%

Espanha

12,8%

Holanda

12,1%

Isso reflete a necessidade dos Emirados Árabes de mão de obra estrangeira, o que atrai estrangeiros.

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O estudo mostra ainda como a distribuição global de migrantes mudou na última década.

Nas décadas anteriores, o influxo do hemisfério norte para o mais pobre hemisfério sul foi mais comum. Atualmente, segundo Pison, o maior grupo é composto por movimentos sul-sul - pessoas nascidas em países em desenvolvimento que se mudam para outros países em desenvolvimento. Em 2017, esse número superou a quantidade de pessoas indo de países mais pobres para países mais ricos.

A Europa tem três países entre os dez com as maiores proporções de imigrantes: Suíça, Reino Unido e Espanha - este último é relativamente novo neste ranking.

"A Espanha era um país de emigração até o final da década de 1980, mas agora é uma nação com quase 13% de sua população composta de imigrantes, bastante semelhante aos Estados Unidos", destaca Pison.

Mas e quando aos países em que mais gente vai embora para tentar a sorte em outro lugar?

Em números absolutos, não será surpresa ver a Índia no topo da lista de emigração, com cerca de 16 milhões de cidadãos vivendo no exterior, ou pouco mais de 1% da população, seguida pelo México (12,5 milhões de pessoas, ou um a cada 10 mexicanos).

Países com a maior população emigrante (Fonte: ONU, 2017)

Índia

16,6 milhões

México

13 milhões

Rússia

10,6 milhões

China

10 milhões

Bangladesh

7,5 milhões

Síria

6,9 milhões

Paquistão

6 milhões

Ucrânia

5,9 milhões

Filipinas

5,7 milhões

Reino Unido

4,9 milhões

Afeganistão

4,8 milhões

No entanto, em termos de proporção, a classficação dos países fica diferente. O maior exportador de pessoas, por assim dizer, é a pequena Bósnia-Herzegovina - um país que tem mais de 45% dos seus 3,5 milhões de cidadãos vivendo no exterior. Cabo Verde e a Albânia também ficam no topo deste ranking.

"O objetivo do estudo não era dizer a qualquer país o que fazer com suas políticas de imigração, mas apresentar informações e dar um panorama maior, com diferentes perspectivas", diz o acadêmico francês.

"A imigração se tornou uma questão sensível em vários países, e há muito medo injustificado."

O estudo de Pison também destaca países que são "remetentes" e "receptores". Um dos exemplos é o Reino Unido, onde a imigração se tornou uma questão de alta prioridade na agenda política e desempenhou um papel importante na decisão do país de votar pela saída da União Europeia.

Com uma população de 8,4 milhões de imigrantes (12,9% do contingente geral), os britânicos também ocupam um lugar privilegiado na lista de países em população emigrada - 4,7 milhões, ou 7,2% da população da Grã-Bretanha vive no exterior.

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