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'O motorista quer nos matar': 1 hora de pânico em ônibus escolar na Itália

Policiais forenses e membros do corpo de bombeiro trabalham nos restos de um ônibus escolar incendiado nesta quinta (21). O veículo transportava 50 crianças, que se salvaram. Segundo testemunhas o motorista planejava mata-las - AFP
Policiais forenses e membros do corpo de bombeiro trabalham nos restos de um ônibus escolar incendiado nesta quinta (21). O veículo transportava 50 crianças, que se salvaram. Segundo testemunhas o motorista planejava mata-las Imagem: AFP

A viagem do centro esportivo para a escola costuma levar 10 minutos, mas na quarta-feira (20) se transformou em um pesadelo para os 51 adolescentes que um motorista de ônibus tentou queimar vivos para vingar os migrantes mortos no Mediterrâneo.

"Ele nos fez subir e imediatamente nos tomou como refém", contou à AFPTV Tiziana Magarini, a inspetora que acompanhou as crianças com dois professores e que ainda tem olhos vermelhos e uma voz embargada de emoção.

Ele conhecia Ousseynou Sy, o motorista italiano de origem senegalesa, "alguém muito educado e normal", lembrou ele.

Mas naquele dia, ele pegou uma faca e, de acordo com várias testemunhas, também tinha uma pistola.

Depois de amarrar os dois professores às portas do ônibus, ele pediu à inspetora de 53 anos que amarrasse os jovens aos assentos do veículo com cabos.

Ela obedeceu a ordem, mas evitou amarrá-los completamente para que eles pudessem se libertar, conta.

Ele também fingiu retirar os telefones celulares dos alunos e fez as crianças entenderem que era para esconder os aparelhos.

"Com gestos consegui fazer algumas crianças entenderem que era melhor tê-los consigo", lembra.

Dois latões de gasolina

O motorista então ordenou que ela jogasse o conteúdo de dois latões de gasolina nos assentos e cortinas do ônibus, o que assustou muito os adolescentes.

"Eles gritavam, choravam, eu não conseguia acalmá-los", lembra.

Ousseynou Sy estava muito agitado e gritava cosas estranhas, algumas inexplicáveis, falava do aeroporto de Milão-Linate, dizia que não queria ter pena deles e depois passava às ameaças.

"Daqui ninguém sai vivo!", gritou várias vezes, como lembram alguns estudantes.

"Ele continuava dizendo que as pessoas na África morrem", conta uma jovem. "Sim, é verdade que ele falava das crianças que morrem no Mediterrâneo", confirmou a inspetora.

O motorista freiou e reiniciou várias vezes seu percurso, momento em que as crianças aproveitaram para pedir ajuda pelo celular. Um deles contou que primeiro ligou o número de emergências sem conseguir que entendessem o que estava acontecendo. Depois disso, ligou para seu pai.

Como nos filmes

Outro ligou para a mãe: "Mãe, nós estamos em um ônibus, estão nos levando para um lugar desconhecido (...) O motorista quer nos matar, ele tem uma arma, chama a polícia!", disse.

Magarini também discou discretamente o número da central telefônica da escola, então um colega ouviu os gritos de pânico das crianças.

Vários agentes dos carabineiros tentaram bloquear o ônibus. "As crianças batiam nas janelas, pediam ajuda", contou Roberto Manucci, um dos primeiros a intervir.

O motorista evitou uma primeira barreira para o que acabou colidindo com um carro, antes de ser bloqueado por outros carros contra as grades de proteção.

Enquanto os agentes o distraíam pela frente, outros colegas quebraram a porta dos fundos do veículo, bem como as vidraças com cassetetes, para que as crianças escapasssem antes que o veículo explodisse em chamas.

"Eu ouvi algo como uma bomba na janela de trás e em dois segundos uma equipe formidável de agentes levou todo mundo para fora", lembra Magarini.

Em um vídeo amador, as crianças podem ser vistas correndo, gritando e chorando. Armado com um isqueiro, Ousseynou Sy ateou fogo ao veículo pouco antes de ser neutralizado.

A inspetora foi a última a sair. "Foi um segundo, eu corria o risco de morrer", Magarini admite, com as costas completamente arranhadas por ter sido arrastada pelo chão por vários metros pelo agente que salvou sua vida.

O corpo especializado dos "carabinieri" realizou uma operação "como as que você vê nos filmes", comentou o procurador de Milão, Francesco Greco.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do que foi informado, quarta-feira foi dia 20 de março. A informação foi corrigida.

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