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"Não vamos brincar de quem é o mais idiota": tensão aumenta entre Itália e França

04.nov.2018 -- Matteo Salvini, ministro do Interior italiano, e Marine Le Pen, líder do partido de extrema-direita francês Rassemblement National, deram vida no início de outubro à Frente da Liberdade, uma aliança eleitoral em vista das próximas eleições europeias - Alberto Pizzoli/AFP
04.nov.2018 -- Matteo Salvini, ministro do Interior italiano, e Marine Le Pen, líder do partido de extrema-direita francês Rassemblement National, deram vida no início de outubro à Frente da Liberdade, uma aliança eleitoral em vista das próximas eleições europeias Imagem: Alberto Pizzoli/AFP

23/01/2019 14h35

A ministra francesa das Relações Europeias, Nathalie Loiseau, disse nesta quarta-feira (23) que não quer brincar de "quem é o mais idiota" com as autoridades italianas, após mais um episódio de críticas contra a França. "Quando as declarações são excessivas, pelo tom e pelo número de vezes que são repetidas, tornam-se insignificantes", afirmou.

Entretanto, apesar da vontade de trabalhar junto com Roma, Nathalie Loiseau ressaltou que será difícil continuar a enviar ministros à Itália dentro desse contexto. "Eu mesma irei quando o clima estiver mais calmo", disse.

O ministro do Interior italiano, Matteo Salvini, que quer fazer uma frente europeia de extrema-direita, não economizou palavras ao expressar uma violência raramente vista contra o presidente francês, Emmanuel Macron. O líder da Liga disse, na terça-feira (22), esperar que o povo francês se libere de um "péssimo presidente".

"Essas declarações são úteis ao povo italiano, contribuem ao seu bem-estar? Não acredito", destacou Nathalie Loiseau. "Isso muda alguma coisa para a situação política francesa? Também acho que não. São palavras inúteis e de inimizade", finalizou.

Luigi di Maio exigiu sanções contra a França "por empobrecer a África"

Já no domingo (20), o vice-primeiro-ministro italiano, Luigi di Maio, que também é líder do partido antissistema Movimento 5 Estrelas (M5S), aliado da Liga, disse que quer sanções da União Europeia contra a França. Segundo ele, as antigas colônias francesas permitiram que o país se enriquecesse, ao mesmo tempo em que empobreceu a África, o que provocou, a longo termo, a crise migratória atual.

"A União Europeia deveria sancionar a França e todos os países que, como ela, empobrecem a África e fazem com que essas pessoas [migrantes] partam, porque o lugar dos africanos é na África e não no fundo do mar Mediterrâneo", declarou Luigi di Maio.

"Se atualmente há pessoas que migram, é porque certos países europeus, a França na liderança, nunca pararam de colonizar dezenas de nações africanas", ressaltou o chefe do M5S. Luigi Di Maio, que também é ministro do Desenvolvimento Econômico, afirmou que "há vários países africanos onde a França impõe uma moeda, o 'franco das colônias', e com isso financia a dívida pública francesa."

Ele também afirmou que, "se a França não tivesse colônias africanas, já que é dessa forma que devemos chamá-las, ela seria a 15ª economia mundial, mas ela está entre as primeiras por causa do que faz na África". O ministro anunciou, por fim, uma iniciativa parlamentar do M5S nas próximas semanas para pressionar o governo e as instituições europeias a sancionar todos os países que "não descolonizarem a África".

Em resposta, a embaixadora da Itália na França foi convocada na segunda-feira (21), para justificar as declarações, julgadas "inaceitáveis e sem propósito" pelo governo francês.

Relações diplomáticas em crise

A animosidade entre a França e a Itália, ou mais precisamente entre o presidente francês Emmanuel Macron e o ministro do Interior italiano, Matteo Salvini, foi manchete do jornal conservador Le Figaro de sexta-feira (18).

"Entre os dois países vizinhos, tão próximos culturalmente, nada vai bem", destaca a publicação, citando a situação dos migrantes, o navio de resgate Aquarius, os incidentes de fronteira e os desacordos sobre o orçamento, entre outros. Mas a principal crise parece ser política. Enquanto Macron quer se afirmar como um líder do campo progressista, na Europa, Salvini seria a personificação do populismo.

Ao mesmo tempo em que as empresas italianas são massivamente compradas pelo capital francês, os italianos não suportam mais ouvir declarações de um Macron que denuncia constantemente a "lepra nacionalista" que corrói o país vizinho, sublinhou Le Figaro.

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