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Em 1º dia, Mourão mostra atitude e opiniões diferentes de Bolsonaro

O presidente da República, Jair Bolsonaro, transmite o cargo ao vice-Presidente, general Hamilton Mourão - Alan Santos/PR
O presidente da República, Jair Bolsonaro, transmite o cargo ao vice-Presidente, general Hamilton Mourão Imagem: Alan Santos/PR
do UOL

Gustavo Maia e Luciana Amaral

Do UOL, em Brasília

21/01/2019 22h22

Antes mesmo de completar 24 horas no exercício da Presidência da República, o general Hamilton Mourão (PRTB) já externou nesta segunda-feira (21) estilo e pontos de vista diferentes dos do presidente Jair Bolsonaro (PSL) no posto.

Bolsonaro transmitiu o cargo interinamente ao vice-presidente na noite de domingo (20), quando embarcou rumo ao Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça. Horas depois, por volta das 9h10, Mourão chegou descontraído ao Palácio do Planalto e se deparou com repórteres que o aguardavam. Ao ser questionado sobre a expectativa para o primeiro dia como presidente em exercício, comemorou a vitória do time de coração, o Flamengo, na noite anterior.

"Só queria dizer o seguinte: é com extrema satisfação que o Flamengo venceu ontem e o Botafogo perdeu. Um abraço aí", brincou, para então entrar em seu gabinete no anexo da Vice-Presidência, de onde continuará a despachar enquanto Bolsonaro estiver na Europa.

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O comportamento do presidente no Planalto tem sido mais reservado, principalmente desde as mais recentes revelações sobre as investigações que envolveram seu filho, o deputado estadual e senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ).

Antes de ir trabalhar, Mourão usou o Twitter para "expressar a honra de estar no exercício da Presidência da República" e prometeu "manter a posição".

Também no início da manhã, ele deu uma entrevista por telefone de 20 minutos à Rádio Gaúcha, em que defendeu um aumento no tempo mínimo de serviço na ativa para militares para 35 anos.

Durante a campanha, Bolsonaro, que é capitão reformado do Exército, se manifestou contra mudanças nas normas para os militares. Desde que assumiu o cargo, no entanto, ainda não se manifestou sobre o tema --que inquieta as Forças Armadas, contrárias a mudanças nas regras. Atualmente, para irem para a reserva --semelhante a uma aposentadoria--, os integrantes da categoria têm que trabalhar por, pelo menos, 30 anos.

Na entrevista, Mourão defendeu ainda que o decreto editado na última segunda (14) por Bolsonaro para ampliar a possibilidade de posse de armas não foi uma medida de combate à violência, e sim o atendimento de uma promessa de campanha.

Na semana passada, Bolsonaro criticou o que chamou de "falácias" sobre o decreto e disse, nas redes sociais, que a pior delas é a de que a iniciativa não resolve o problema da segurança pública no país.

Relação com a imprensa

Nos 20 primeiros dias do seu mandato, Bolsonaro só participou de um "quebra-queixo", apelido dado por jornalistas a breves --e geralmente improvisadas-- entrevistas coletivas. A segunda conversa com a imprensa ocorreu nesta segunda, já em Davos, e foi compartilhada nas redes sociais do presidente.

Entre uma e outra, ele concedeu apenas duas entrevistas, ao SBT e a um programa de televisão da Itália, esta por videoconferência, após a extradição do terrorista Cesare Battisti.

O general Mourão, por sua vez, concede entrevistas quase diárias desde que tomou posse como vice-presidente.

Ele manteve o costume de almoçar no Palácio do Jaburu, residência oficial da Vice-Presidência, onde mora com a mulher, a cerca de cinco minutos de carro do Planalto. Na saída para casa, parou para falar com a imprensa que o aguardava e respondeu a todas as perguntas feitas.

Antes de entrar no carro rumo ao Jaburu, posou e acenou para as lentes dos fotógrafos do outro lado da rua no estacionamento interno do Planalto. Em determinado momento, pediu que um de seus seguranças se abaixasse para não atrapalhar os registros.

"Abaixa aí, abaixa aí, Flávio", falou, e seguiu fazendo gesto de joia com as mãos.

Na volta do almoço, ele se deparou novamente com fotógrafos e cinegrafistas de "plantão" no acesso do gabinete da Vice-Presidência e brincou com os repórteres. "O pessoal é resiliente, vou dizer uma coisa pra vocês", disse Mourão, sorrindo.

No início da noite, voltou a falar com a imprensa, sobre o discurso que Bolsonaro fará em Davos nesta terça, sobre o caso envolvendo Flávio Bolsonaro e sobre a reforma da previdência.

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Agendas

No início da manhã, o presidente em exercício recebeu o ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, que não constava inicialmente em sua agenda. À tarde, teve audiências com os embaixadores da Alemanha, que saiu do encontro dizendo que quer melhorar uma "reputação do Brasil que pode ser meio errada", e da Tailândia.

Nesta terça, Mourão viaja pela manhã ao Rio de Janeiro para participar da passagem de Comando do 2º Regimento de Cavalaria de Guarda, e volta para Brasília depois do almoço. À noite, ele é convidado de um evento da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base, a ser realizado em um hotel na capital federal.

O vice-presidente deve permanecer na Presidência interina até sexta (25), quando Bolsonaro voltará de Davos. Na semana que vem, porém, Mourão deve voltar a exercer o cargo, porque o presidente será submetido a uma cirurgia para retirada da bolsa de colostomia que ele usa desde que foi esfaqueado durante um ato de campanha eleitoral em setembro do ano passado.

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