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Sindicato acusa GM de "terrorismo com trabalhador", às vésperas de reunião

Funcionários da GM na linha da Chevrolet S10/Trailblazer, em São José dos Campos (SP) - Fabio Gonzalez/Divulgação
Funcionários da GM na linha da Chevrolet S10/Trailblazer, em São José dos Campos (SP)
Imagem: Fabio Gonzalez/Divulgação
do UOL

Alessandro Reis, Eugênio Augusto Brito

Colaboração para o UOL; do UOL, em São Paulo (SP)

21/01/2019 16h46

Entidade diz que montadora atrasou comunicado sobre situação da empresa no Brasil, gerando incerteza entre operários, fornecedores e concessionários; reunião com executivos será nesta terça-feira

UOL Carros conversou com Weller Pereira Gonçalves, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região, que afirmou estar aguardando "desde o ano passado" posicionamento oficial da presidência da General Motors sobre a situação da empresa no Brasil. Segundo o sindicalista, reestruturações já estão em curso desde 2018, mas a empresa não oficializou os planos, o que estaria gerando "incerteza e medo" entre trabalhadores, fornecedores e lojistas. Gonçalves usou termos pesados e classificou a situação como "terrorismo" e chantagem" por parte da empresa. 

No último final de semana, rumores sobre um comunicado enviado pela presidência da GM a funcionários ampliaram o clima ruim sobre o futuro da fabricante no Brasil. UOL Carros teve acesso ao texto do que seria o comunicado interno atribuído ao presidente da empresa para a América Latina, Carlos Zarlenga, e que teria um conteúdo "pessimista". 

A fabricante não se pronunciou oficialmente sobre o assunto. Procurada por UOL Carros, aliás, a comunicação da empresa informou, de forma direta, que "a GM não irá comentar [o assunto]".

De toda forma, há a informação de que reunião foi marcada para as 11h desta terça-feira (22) entre sindicatos de São José dos Campos e São Caetano do Sul, representantes das prefeituras das duas cidades paulistas e executivos da GM do Brasil. Essa agenda foi confirmada apenas pelos sindicalistas.

"A direção da GM não deu informação sobre qualquer plano de reestruturação que tenha sido feito localmente ou enviado a Detroit. Já é um anúncio que estamos aguardando desde o ano passado", afirmou Gonçalves.  

"[Essa situação] É um terrorismo praticado pela GM com o trabalhador, para que ele não vá à luta e, com isso, para que a empresa possa aumentar sua margem de lucro", disse o dirigente sindicalista, que faz referência a diferentes momentos da negociação com a empresa nos últimos cinco anos, não apenas ao quadro atual. 

"Já fizeram flexibilização [nas condições de produção] desde 2013, com demissões e também lay-off [as chamadas "férias coletivas" ou paralisações temporárias] em massa e agora temos essa situação. Isso prova que demitir trabalhador de um lado não garante emprego [de outro]".

Pereira faz referência à reestruturação da produção de São José dos Campos feita há pouco mais de cinco anos, quando a GM decidiu encerrar a produção do Classic na cidade. Além do sedã compacto, a unidade deixou de fazer também a minivan Zafira, ficando apenas com a linha S10/Trailblazer, que são veículos mais caros e com produção menor, levando a um processo produtivo mais enxuto.

Segundo o sindicato, foram 2 mil demissões nesse período, além da revisão de salários. Atualmente, a unidade do Vale do Paraíba tem 4.200 funcionários trabalhando em dois turnos, com o menor salário pago equivalente a R$ 2.200. "Mas há frequentes horas extras sendo feitas aos sábados".

"GM sempre atacou nosso sindicato, dizendo que somos radicais, ameaçando mover o que restou da produção aqui para São Caetano. Só que agora o próprio presidente do sindicato de São Caetano, que sempre atendeu a todos os pedidos da fabricante, admite ter incerteza sobre o futuro da empresa".

Expectativa negativa

Segundo Pereira, anúncios "ruins" sobre a situação da empresa no Brasil estariam próximos e seriam aguardados, de fato, já que fazem parte de um movimento já iniciado de esvaziamento de estruturas no Brasil. Segundo informações colhidas por UOL Carros, o Centro Tecnológico de São Caetano do Sul, por exemplo, teria sido uma das áreas estratégicas da GM do Brasil fechadas em 2018.

Foi este centro que deu origem a modelos como o Agile ("projeto Viva") e o próprio Onix/Prisma, entre outros modelos.

Teoricamente, um centro de desenvolvimento de produtos não seria necessário neste momento, uma vez que a matriz da GM, em Detroit, decidiu mudar o centro de decisão sobre novos carros de passeio para a China. Será de lá, por exemplo, que virá uma nova plataforma global que dará origem à nova geração de modelos compactos da marca.

Novas gerações de Chevrolet Onix e Prisma (este já flagrado rodando em São Paulo), bem como o substituto do Tracker, serão os primeiros modelos desenvolvidos na China a chegaram ao Brasil. Hatch e sedã serão lançados ainda em 2019, com o SUV pequeno chegando em 2020.

Também devem vir do Oriente, num prazo maior, os planos para novos modelos familiares (substituto de Spin) e médios (substituto da linha Cruze, fabricada na Argentina). No total, o novo comando da GM na China está desenvolvendo e lançará 20 modelos inéditos ou remodelações. 

Com menor poder de decisão na América do Sul, cresce a possibilidade de que estruturas sejam reduzidas também, com possível corte de vagas.

Gonçalves, aliás, acredita que um plano de fechamento de unidades já em execução na América do Norte estaria quase certo também para duas unidades "importantes" na América do Sul. "Já é sabido que serão quatro fábricas fechadas nos EUA e uma no Canadá, mas também há a informação de que haverá mais um fechamento, que acreditamos que terá impacto ou na Argentina ou no Brasil", afirmou o sindicalista.

Uma unidade produtora de componentes da GM foi fechada no fim de 2018 na Colômbia, mas Gonçalves considera que esta unidade não pode ser colocada na conta, por ter um porte menor. "[O fechamento] Será no Brasil ou na Argentina. Rosário [ARG] anunciou recentemente o fechamento do setor de TI, pode ser uma indicação".

Reestruturação

O plano citado é o de reestruturação da GM nos EUA, que inclui aposentadoria de veículos de passeio: Cruze, Malibu e Impala deixariam de ser produzidos, assim como modelos equivalentes das marcas Buick e Cadillac, para dar lugar a modelos "mais lucrativos", como picapes, SUVs e elétricos.

Com esta aposentadoria de modelos "pouco lucrativos", a matriz da GM estaria decidida a fechar cinco unidades nos EUA e Canadá (cortando mais de 6 mil vagas de executivos e engenheiros, além de 2 mil vagas de operários). Por outro lado, deve ampliar a produção no México, inclusive com proposta de recontratar boa parte dos funcionários por lá.

A expectativa da GM é de ter aumento na lucratividade para 2019 e para os anos seguintes -- os dados de 2018 ainda não foram divulgados pela empresa, mas segundo a imprensa norte-americana seriam bem positivos.

Quanto à América do Sul, a presidente global da GM, Mary Barra, teria dito em evento público sobre metas, no começo de janeiro, noticiado pela imprensa local, que a GM segue vendo Argentina e Brasil como um "desafio contínuo" e que estaria trabalhando com "investidores-chave" na região para tomar todas as medidas necessárias para melhorar a operação ou para "considerar outras opções". 

A frase mais forte atribuída à presidente da GM sobre a América do Sul teria sido: "Não vamos seguir investindo capital para perder dinheiro".

Ainda assim, segundo a própria imprensa americana, a GM América do Sul teria reforçado sua posição financeira no último ano, com o chamado "ponto de equilíbrio financeiro" melhorado em 40%. O Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região fala em melhora na margem de 30%.

UOL Carros lembra que a GM tem o carro mais vendido do país há quatro anos seguidos, o Onix. Além disso, o hatch também é o modelo mais vendido em toda a América do Sul, ainda que seja um carro de menor custo agregado e, portanto, baixa lucratividade.

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