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Initiative Q manda convite pelo WhatsApp para investir; quais os riscos?

Getty Images/iStockphoto
Imagem: Getty Images/iStockphoto
do UOL

Vinicius Pereira

Colaboração para o UOL, em São Paulo

16/01/2019 04h00

Quem frequenta grupos de WhatsApp sabe que, de tempos em tempos, alguma proposta para ganhar dinheiro sem grande dificuldade ou segredo aparece por lá. Nos últimos meses, convites para ingressar em um projeto chamado Initiative Q, no qual você junta moedas virtuais que podem se valorizar no futuro, vem aparecendo em comunidades dentro do aplicativo de mensagens. Mas, afinal, do que se trata?

Apesar de parecer bem diferente, a Initiative Q é um projeto, iniciado em Israel, que pretende se transformar em um meio de pagamento eletrônico global em breve por meio das Qs —as moedas virtuais que serão utilizadas para pagar e receber produtos e serviços.

Como funciona?

Para você participar, é necessário receber um convite de alguém que já faz parte do projeto. Daí um dos mistérios. Os futuros clientes e portadoras das Qs não precisam desembolsar nada para adquiri-las. É necessário apenas se cadastrar com uma conta de email válida e, assim que o cadastro for aprovado, convidar mais pessoas. Quanto mais pessoas convidadas, mais Qs na conta o interessado receberá.

Nas poucas explicações sobre o funcionamento da companhia, a Initiative Q tenta esclarecer essa necessidade de colocar mais gente no novo negócio.

Segundo a empresa, o dever de expandir os convites ocorre pela situação do "ovo e da galinha": nenhum comprador entra em uma rede sem vendedores, e nenhum vendedor oferece o meio de pagamento que ninguém usa.

Assim, eles precisam de uma base sólida de clientes antes de lançar o novo meio de pagamento nos próximos três anos.

"Hoje, na padaria da esquina, você não consegue introduzir esse meio de pagamento sem clientes. Por isso eles estão começando a espalhar a moeda antes e começar a crescer o valor para ela se tornar viável", disse Marcelo Succi, professor da Faap (Faculdade Armando Álvares Penteado).

Dessa forma, a demanda dessas pessoas em estabelecimentos criaria um valor à moeda virtual como meio de pagamento e, caso a ideia dê certo, os que entrarem no projeto antes do lançamento poderiam desfrutar de uma boa valorização nas Qs que receber.

Mas, obviamente, nem tudo são flores. Apesar das explicações iniciais, ainda há muitas lacunas sobre a companhia.

A empresa explica que a Initiative Q foi iniciada por Saar Wilf, um executivo que vendeu sua empresa anterior para o eBay e também trabalhou no Paypal. Nada além disso, no entanto, é informado, como por exemplo se há outros sócios, funcionários ou quais as funções de outros cargos. O UOL tentou entrevistar o fundador, mas não obteve resposta.

Também não há disponível ao público a informação de quantas Qs você receberá, quantas pessoas já participam ou quando realmente as moedas serão lançadas, além de ser impossível afirmar com certeza qual será seu valor futuro —apesar de a empresa projetar atualmente que cada Q valha US$ 1 logo— fato sem possibilidade de comprovação.

Novo bitcoin?

Algumas mensagens nos grupos de WhatsApp tratam o Initiative Q como o novo bitcoin --a criptomoeda que alcançou preços estratosféricos em poucos anos, mas que também deixou muita gente na mão depois de certa desvalorização desde o ano passado.

Apesar de ambiciosa, a comparação, entretanto, não passa de marketing. Na realidade, as duas têm pouco em comum, já que o bitcoin ainda não se transformou em meio de pagamento real e é descentralizado, o oposto das Qs.

"O bitcoin funciona com base em um protocolo que são regras. Todos os computadores executam os softwares sem nenhuma autoridade central controlando isso. É baseado no voluntarismo. Embora à primeira vista pode ser visto como falta de segurança, é na verdade uma fonte de robustez no sistema", disse Fernando Ulrich, da XDEX corretora de criptomoedas.

Para ele, não há como garantir que o projeto seja um sucesso futuro ou mesmo que saia do papel. "Parece que [as moedas] terão reservas em dólar, segundo eles. Isso chama a atenção, mas ainda desperta mais desconfiança do que confiança mesmo", afirmou.

Pirâmide?

O fato de o convite para novos interessados ser basicamente o motor desse novo projeto faz com que a desconfiança acerca de uma pirâmide financeira seja real. Mas, apesar dessa característica semelhante, especialistas ouvidos pelo UOL descartam essa possibilidade inicialmente.

"Sempre pode ser [uma pirâmide]. Obviamente, vamos dar aos idealizadores do projeto o benefício da dúvida, pois o produto ainda não existe, é apenas uma ideia. Mas, nada impede que, em tese, produtos como esse que sejam usados por pessoas inescrupulosas como chamariz para fraudes financeiras", disse Jair Jaloreto, advogado especialista em fraudes.

Para ele, apesar da utilização desses convites, há diferenças entre esse tipo de marketing e esquemas fraudulentos.

"É importante diferenciar as pirâmides financeiras de ações de marketing sofisticadas, pois muito se confunde. A pirâmide foi feita para quebrar, ela é concebida para causar prejuízo. Já a ação de marketing é sustentável em regra. Ela é um meio para se chegar ao fim que é a venda dos produtos", disse.

Isso, porém, não quer dizer que a operação não traga riscos. "O risco é que esses dados sejam consolidados e comercializados para marketing na internet, uso de email marketing, essas coisas. Mais do que isso, por enquanto, eu não acredito", afirmou.

Além disso, ele deixa claro que, caso a plataforma venha a pedir contribuições em dinheiro, o interessado deve estudar bem para ver se o projeto não está se transformando em algo ilegal.

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