11 momentos marcantes da carreira de Ricardo Boechat
Nesta segunda (11), o jornalista Ricardo Boechat morreu em um acidente aéreo na Rodovia Anhanguera, em São Paulo, aos 66 anos. Ele havia participado de um evento de um laboratório farmacêutico em Campinas e retornava para o heliponto da Band. O piloto do helicóptero, Ronaldo Quattrucci, também morreu no acidente.
Ao longo da carreira, sobretudo depois que começou a trabalhar como radialista na Band News FM, Ricardo Boechat ficou famoso por seus comentários diretos, muitas vezes sem papas na língua, e sua irreverência. Relembre a seguir:
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Saída da Rede Globo
Em 2001, Ricardo Boechat teve uma saída turbulenta das Organizações Globo, onde começou a trabalhar em 1983. O jornalista foi demitido após uma reportagem da revista Veja revelar que ele teria informado a um jornalista, por telefone, detalhes de uma matéria que seria publicada na edição do dia seguinte do jornal O Globo, sobre a briga entre os grupos TIW e Banco Opportunity para controlar duas empresas de telefonia móvel, Telemig e Tele Norte Celular. O jornalista em questão era Paulo Marinho, que assessorava Nelson Tanure, acionista majoritário do Jornal do Brasil e aliado da TIW na disputa empresarial. Avesso a entrevistas, Boechat preferiu não comentar a saída, à época. Somente em 2013, em uma entrevista ao blog Na Telinha, do UOL, o jornalista comentou o que sentiu ao ser dispensado pela Globo: "Aquilo me machucou absurdamente, me feriu, me ofendeu, me indignou, revoltou e conseguiu alguns anos de rancor. Claro que sim. Era meu ambiente, minha casa, meus amigos, minha vida. Mas hoje não tenho mais mágoas".
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Processado por Requião
Uma polêmica entre Ricardo Boechat e Roberto Requião, ex-senador e ex-governador do Paraná, rendeu ao jornalista uma condenação na Justiça. Em 2011, Requião tomou o gravador das mãos de um repórter da Rede Bandeirantes que o entrevistava a respeito de uma aposentadoria supostamente indevida. O político só devolveu o equipamento ao repórter após excluir os arquivos da entrevista. Em seu programa na Band News FM, Boechat acusou o então senador de corrupção e nepotismo. Requião processou o jornalista, que foi condenado a seis meses e 16 dias de prisão, mas a pena foi convertida em três meses de serviço comunitário.
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Sem papas na língua
Em 2014, a apresentadora Rachel Sheherazade, do SBT, ao comentar uma reportagem sobre um suposto assaltante que havia sido preso a um poste no Rio de Janeiro, afirmou que a atitude dos "justiceiros" era "compreensível". Em seu programa na Band News FM, Boechat defendeu o direito de a colega expressar seus pensamentos, mas classificou a opinião dela como "uma bosta", além de tê-la chamado de "fascista".
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Polêmica com Malafaia
Em 2015, Boechat se envolveu em uma polêmica com o pastor Silas Malafaia. Em seu programa de rádio na Band News FM, o jornalista disse que "pastores evangélicos incitam a intolerância religiosa". No Twitter, Malafaia respondeu: "Avisa ao jornalista Boechat que ele está falando asneira. Verdadeiro idiota. Desafio Boechat para um debate ao vivo. Falar asneira no programa de rádio sozinho é mole. Deixa de ser falastrão. Não incite o ódio". No dia seguinte, Boechat rebateu o pastor: "O Silas Malafaia me desafiou para um debate. Malafaia, vá procurar uma rola. Não me enche o saco. Você é um idiota. Um paspalhão. Pilantra. Tomador de grana de fiel. Explorador da fé alheia. E agora vai querer me processar pelas coisas que eu falei. Você é um tomador de grana. De novo, vá procurar uma rola, usando o português bem claro".
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Campanha de vacinação
Ainda em 2015, Ricardo Boechat compartilhou nas redes sociais um vídeo bastante humorado para incentivar seus seguidores a participarem da campanha de vacinação contra a gripe. No vídeo, depois de falar sobre a importância da vacina, o jornalista abre a camisa e exibe um sutiã. Em seguida, olha para a enfermeira e diz: "Espeta aí!".
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Críticas a Gilmar
Em outubro de 2016, Ricardo Boechat comprou a briga da apresentadora Mônica Iozzi, que havia sido condenada a pagar indenização de R$ 30 mil após fazer uma crítica ao ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, em seu perfil no Instagram. Durante seu programa na Band News FM, Boechat fez uma crítica à postura do magistrado: "Isso é uma piada, é uma brincadeira que um ministro da mais alta corte do país se exponha ao ridículo de processar uma jornalista por um delito de opinião, ainda que na minha opinião não teve delito nenhum. Eu também não sei o que esperar de você, Gilmar. Vai me processar por divergir de você?", indagou o jornalista.
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Época de Bolsonaro deputado
Em 2016, na sessão que determinou a abertura do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, o então deputado Jair Bolsonaro dedicou seu voto a favor da investigação que culminaria no impedimento da petista ao coronel Carlos Alberto Brilhente Ustra, que chefiou o DOI-CODI, órgão de inteligência e repressão do período da ditadura militar (1964-1985), e foi acusado por vários presos durante o regime de ter praticado e comandado torturas. Em um comentário no Jornal da Band, Boechat disse: "Registre-se a infinita capacidade do deputado Jair Bolsonaro de atrair para si os holofotes falando barbaridades sucessivamente. [...] Torturadores não têm ideologia. Torturadores não têm lado. Não são contra ou pró-impeachment. Torturadores são apenas torturadores. É o tipo humano mais baixo que a natureza pode conceber. São covardes, são assassinos e não mereceriam, em momento algum, serem citados como exemplo. Muito menos numa casa Legislativa que carrega o apelido de casa do povo".
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Peruca
Boechat também ficou conhecido por frequentemente quebrar o clima de seriedade do Jornal da Band e fazer comentários bem-humorados após reportagens com tom descontraído. No dia 11 de maio de 2018, a última reportagem exibida pelo Jornal da Band tinha como tema a calvície. Após a matéria, Boechat fez o encerramento do programa usando uma peruca de cabelos castanhos. Apesar da brincadeira, o jornalista se manteve sério e nem chegou a sorrir enquanto disse suas tradicionais palavras de despedida. A repercussão do gracejo de Boechat foi, em sua maioria, positiva, mas algumas pessoas usaram as redes sociais para criticar a ousadia do jornalista.
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'Quantas pessoas morrem por dia?'
No dia 8 de outubro de 2018, o mestre capoeirista Moa do Katendê foi assassinado a facadas, em Salvador, após uma discussão sobre política, segundo concluiu inquérito da Polícia Civil da Bahia. Em seu programa na Band News FM, Boechat comentou a morte de Moa do Katendê: "Tem um capoeirista morto, mas somos 200 milhões de pessoas. Quantas pessoas morrem por dia? Temos 65 mil homicídios por ano. Aí cita uma morte como fenômeno de campanha? Aquilo é uma bobagem, minha gente. Temos 65 mil homicídios. Tivemos uma eleição sem incidentes. A vida seguiu e está seguindo", declarou o radialista. Nas redes sociais, houve muita reação negativa ao comentário, principalmente porque o jornalista usou a palavra "bobagem" para classificar a morte do mestre de capoeira.
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Visita da família
No primeiro dia de 2019, Boechat compartilhou nas redes sociais uma visita especial que recebeu no estúdio onde é gravado o Jornal da Band: sua esposa, Veruska Seibel Boechat, e as duas filhas mais novas, Valentina e Catarina. Boechat tinha outros quatro filhos: Bia, 40, Rafael, 38, Paula, 36, e Patricia, 29, frutos do casamento com Claudia Costa de Andrade.
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Saia-justa ao vivo
Uma saia-justa de Boechat aconteceu apenas quatro dias antes de sua morte. Na sexta-feira (8), o jornalista teve uma reação explosiva após um mal-entendido durante o programa que apresentava na Band News FM. Boechat conversaria com um oficial do Corpo de Bombeiros ao vivo, quando a ligação foi interrompida. "Por que botaram na minha mão então? Toma! Vou devolver esse papel e vocês, quando puderem me acionar adequadamente, me acionem", reclamou Boechat. Como o programa é transmitido em vídeo via internet, foi possível ver Boechat discutindo com a equipe fora dos microfones, nos bastidores.