As histórias por trás de fotos e séries de Sebastião Salgado
"Você não fotografa com sua máquina. Você fotografa com toda sua cultura". A colocação feita por Sebastião Salgado é uma máxima que se reflete em todo o seu trabalho. Único filho homem entre nove mulheres, o mineiro fez doutorado em Economia, mas tornou-se célebre ao seguir a carreira como fotógrafo. O renomado brasileiro, considerado um dos profissionais mais expressivos da fotografia, opta por fazer imagens apenas em preto e branco por uma razão: por meio da ausência de cor, a objetiva se concentra não nos demais elementos, mas na situação em si, no contexto da foto, em seu impacto. Nesta sexta-feira (8/2/2019), Tião completa 75 anos de vida. Veja alguns trabalhos icônicos dele.
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Consumidos pelas chamas
Nas imagens reunidas no livro "Kuwait - Um Deserto Em Chamas", como a foto acima, escolhida como capa da publicação, Sebastião Salgado mostra o retrato do Kuwait em 1991, depois que a Guerra do Golfo tinha acabado e as tropas de coalizão internacional haviam expulsado as forças iraquianas que ocupavam o território. Os registros mostram o esforço das equipes que trabalharam para apagar o fogo dos poços de petróleo queimados por ordem de Saddam Hussein. Antes de serem lançadas em um livro, parte das fotos já haviam sido publicadas pelo New York Times
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Confinamentos
A imagem faz parte da exposição "Êxodos", que foi dividida em cinco temas - "África", "Luta Pela Terra", "Refugiados e Migrados", "Megacidades" e "Retratos de Crianças". Militante esquerdista, o fotógrafo foi perseguido pela ditadura militar e obrigado a deixar o Brasil. Sensível com a realidade daqueles que precisam abandonar a própria pátria, ele dedicou seis anos de trabalho e visitou mais de 40 países para retratar o fluxo migratório no mundo, mostrando pessoas que foram obrigadas a deixar seus países de origem
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O olhar que encara a lente
A imagem feita em 1994 que mostra crianças em um orfanato no Zaire, pertence à seção "África" da exposição "Êxodos". Essa parte do trabalho do fotógrafo retrata também povos de outras nações como Moçambique, Angola e Sudão
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Aqueles que ficam
Ainda que o objetivo geral do trabalho de Sebastião Salgado em "Êxodos" fosse mostrar o movimento migratório no mundo, aqueles que se recusaram a entrar nesse movimento e deixar para trás as suas moradias também ganharam um destaque especial sob o olhar do fotógrafo, que mostrou essas pessoas - como as da foto - na parte que chamou de "Luta Pela Terra"
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Marcas de guerra
Na parte da mostra "Êxodos" intitulada "Refugiados e Migrados", Sebastião Salgado fez questão de contar, por meio de suas lentes, as histórias daqueles que foram obrigados a deixar os seus lares por conta de guerras. É o caso das mulheres de Kosovo na fronteira com a Albânia, que marcam uma das fotos mais icônicas do profissional
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Pequenas vítimas
Na extensão de "Êxodos", o trabalho "Crianças" é dedicado às vítimas mais fracas de toda essa situação de crise do movimento migratório. Frágeis e fisicamente mais fracas, elas estão mais propensas a sucumbirem diante da fome, das doenças e da desidratação. Ainda assim, muitos dos retratos conseguem transmitir o paradoxo de que são justamente as crianças aquelas que mantêm a capacidade de sorrir apesar das circunstâncias, mantendo entusiasmo diante das situações adversas
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Beleza natural
A exposição "Gênesis" é fruto de oito anos de trabalho do fotógrafo. "Terminei 'Êxodos' muito marcado pela violência, pela brutalidade total do que eu vi. Terminei muito mal. Ia parar. Não tinha mais como fotografar", ponderou Sebastião Salgado em coletiva de imprensa. Na tentativa de focar o olhar na beleza exuberante do que ainda se pode salvar, renasceu sua vontade de fotografar, o que resultou nas fotos reunidas no trabalho seguinte. Em "Gênesis", ele retrata locais do planeta em que o ser humano se tornou o principal agente da vida e da paisagem, conectando-se completamente com a natureza. Da mesma forma, os animais aparecem em conexão profunda com o seu habitat, como esses leões marinhos da Geórgia do Sul, clicados em 2009
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A luz e o sentimento perfeitos
A imagem, que mostra um grupo de indígenas Waurá pescando na lagoa Piyulaga, perto da aldeia, na região da Bacia do Xingu, no Mato Grosso, faz parte de "Gênesis". "Jamais cheguei a uma comunidade e ataquei a fotografia. Eu tive que me explicar. Tive que viver, que passar o tempo com as pessoas para poder compreender o que estava se passando e para as pessoas me compreenderem também e me darem de retorno à fotografia. Na verdade, eu fiz muito pouco nas fotografias, eu as recebi de presente. Ficava uma semana, dez dias, sozinho, para aprender a conhecer o planeta, para ter autorização para fotografar. Saber que determinadas luzes iriam se formar, que o vento iria agir com determinada força e modular de uma certa forma a vegetação", contou o fotógrafo na coletiva de imprensa sobre esse trabalho, revelando o processo para fazer seus registros
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Força e trabalho
A foto foi feita em Serra Pelada, no Pará, em 1986, e está presente no livro "Trabalhadores". A obra é resultado de seis anos de fotografias feitas por 26 países para documentar os mais diversos tipos de trabalho manual. Os garimpeiros brasileiros aparecem ao lado de pescadores da Sicília, por exemplo. Nos registros também aparecem a colheita da cana-de-açúcar em Cuba, o cotidiano de uma mina de enxofre na Indonésia, entre outras situações que refletem o espírito de resistência do homem
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A outra face da América
Entre 1977 e 1984, Sebastião Salgado viajou por Brasil, Chile, Equador, Bolívia, Peru, Guatemala e México. O resultado de suas aventuras ficou registrado na exposição e no livro "Outras Américas", que traz as realidades de comunidades camponesas e indígenas pela América Latina. A imagem acima é uma das que fazem parte da série e foi feita no Equador, em 1982
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O aroma da foto
Em "Perfume de Sonho - Uma Viagem ao Mundo do Café", Sebastião Salgado expõe o fruto de dez anos de trabalho, que contou com a visita a dez diferentes países. Na série, ele retrata e exalta a atividade humana daqueles que dedicam a vida ao grão cujo aroma é tão marcante em nossas vidas
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Luta silenciosa
A série de fotos "O Fim da Pólio" retrata os esforços de milhões de voluntários da Organização Mundial de Saúde e da Unicef para erradicar a poliomielite no mundo. Em 2001, o fotógrafo deu início ao trabalho que mostra campanhas de vacinação na Somália, no Sudão, na Índia, na República Democrática do Congo e no Paquistão. A ideia foi colocar o seu senso de estética já conhecido a favor da meta das duas entidades para combater a doença