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Piquet, 70 anos: do tricampeonato na Fórmula 1 às polêmicas fora das pistas

Brasileiro conquistou três vezes o título da categoria e acumulou desafetos em sua trajetória no esporte - Paul-Henri Cahier/Getty Images
Brasileiro conquistou três vezes o título da categoria e acumulou desafetos em sua trajetória no esporte Imagem: Paul-Henri Cahier/Getty Images
do UOL

Do UOL, em São Paulo

17/08/2022 04h00

Nelson Piquet Souto Maior, brasileiro considerado um dos nomes mais icônicos da história da Fórmula 1, completa 70 anos hoje.

Filho de Estácio Gonçalves Souto Maior (ex-ministro da Saúde) e Clotilde Piquet, o carioca, que passou grande parte de sua juventude em Brasília, atuou na categoria entre 1978 e 1991.

O ex-piloto é dono de três dos oito títulos do país na F1, levantando o troféu nas temporadas de 1981, 1983 e 1987. Ele está empatado com Ayrton Senna (1988, 1990 e 1991) e à frente de Emerson Fittipaldi (1972 e 1974), que completam a lista de conquistas nacionais.

Além da habilidade nas pistas e da fama de "arrumador" de carros, Piquet colecionou polêmicas dentro e fora do automobilismo.

O UOL Esporte destaca, abaixo, momentos em que o esportista, hoje empresário, ganhou os holofotes — tanto no esporte quanto fora dele.

1981: o primeiro título

Ainda em 1978, ao final de sua 1ª temporada na F1, o brasileiro assinou contrato com a Brabham para formar dupla com o então bicampeão Niki Lauda no ano seguinte — o resultado foi modesto: ele somou apenas três pontos.

Em 1980, já com a Ford substituindo a Alfa Romeo nos motores da equipe e sem a presença do austríaco como companheiro, Piquet "bateu na trave" e ficou com o vice-campeonato daquela temporada.

O tão esperado título veio no ano seguinte: o piloto desbancou o argentino Carlos Reutemann por apenas um ponto — com direito a vitória no GP realizado dentro do país do adversário.

Nelson Piquet a bordo da Brabham em 1981, ano em que o brasileiro faturou seu 1° título da F1 - Bernard Cahier/Getty Images - Bernard Cahier/Getty Images
Nelson Piquet a bordo da Brabham em 1981, ano em que o brasileiro faturou seu 1° título da F1
Imagem: Bernard Cahier/Getty Images

Fama de "arrumador" de carros veio com o bi

Na temporada que sucedeu a conquista até então inédita, a Brabham fez uma parceria com a BMW para desenvolvimento de motores a turbo. Nas pistas, o resultado ficou aquém do esperado, e o brasileiro acabou apenas na 11ª colocação.

O ano de 1983 chegou, e o carioca conseguiu se adaptar de maneira surpreendente às novidades: foram oito pódios (três deles com vitória) em 15 corridas, em desempenho que deu a Piquet o bicampeonato mundial com 59 pontos, dois acima do francês Alain Prost.

Foi nesta temporada em que o brasileiro se destacou pela adaptação e evolução que conseguiu a bordo de sua Brabham a turbo — a título de comparação, Riccardo Patrese, seu companheiro de equipe na ocasião, abandonou mais da metade das provas e terminou o ano apenas na 9ª posição geral.

Piquet ao lado de seu carro, a Brabham com motor turbo, durante GP do Brasil de 1983; piloto venceu a corrida em questão - Hoch Zwei/Corbis via Getty Images - Hoch Zwei/Corbis via Getty Images
Piquet ao lado de seu carro, a Brabham com motor turbo, durante GP do Brasil de 1983; piloto venceu a corrida em questão
Imagem: Hoch Zwei/Corbis via Getty Images

1987: o tri com a Williams

Já com o compatriota e então jovem Ayrton Senna ganhando espaço na F1, Piquet trocou a Brabham pela Williams em 1986.

Em sua temporada de estreia com a nova escuderia, ele, que formou dupla com Nigel Mansell, garantiu o 3° lugar na tabela em um ano marcado por rixas com o companheiro de equipe.

Foi em 1987 que o título parou pela 3ª vez nas mãos do carioca. Mesmo vencendo menos provas que o inglês (6 a 3 para Mansell), o brasileiro se mostrou mais regular durante a temporada (com sete vices, por exemplo) e conquistou 73 pontos, ante os 61 do companheiro.

Foi praticamente o fim de uma era: Piquet ainda correu pela Lotus e pela Benetton antes de se aposentar aos 39 anos, já em 1991.

Nigel Mansell e Nelson Piquet lado a lado em foto de 1987, quando defenderam a Williams -  GPLibrary/Universal Images Group via Getty Images -  GPLibrary/Universal Images Group via Getty Images
Nigel Mansell e Nelson Piquet lado a lado em foto de 1987, quando defenderam a Williams
Imagem: GPLibrary/Universal Images Group via Getty Images

Desafetos da época

Um dos grandes rivais de Piquet foi justamente um brasileiro: Ayrton Senna, que morreu em acidente de corrida em 1994.

Em meio às disputas por pontos e da troca de farpas na época em que competiam (entre 1984 e 1991), os dois, apesar de simbolizarem o Brasil no automobilismo, não mantinham uma relação de amizade.

Ayrton Senna e Nelson Piquet lado a lado após o GP da Alemanha de 1986 - Paul-Henri Cahier/Getty Images - Paul-Henri Cahier/Getty Images
Ayrton Senna e Nelson Piquet lado a lado após o GP da Alemanha de 1986
Imagem: Paul-Henri Cahier/Getty Images

Piquet, aliás, já falou mais de uma vez sobre a desavença com o outro tricampeão — mesmo após a morte do compatriota.

Em 2013, em participação no programa "Linha de Chegada", do SporTV, disse ter sido questionado certa vez sobre quem seria melhor, ele ou Senna: "Eu, estou vivo!", disse ele. Nigel Mansell, que estava ao lado de Piquet no programa, completou com "que crueldade". O apresentador Tiago Maranhão chegou a rir. (assista abaixo)

Nelson Piquet insinuou mais de uma vez que Senna seria gay. Ele chegou a ser processado em 1987 por injúria. Anos depois, em 2020, Piquet relembrou a história e voltou a fazer insinuações em relação a Senna, na entrevista concedida a Junior Coimbra, no YouTube. Ele acabou sendo rebatido pela ex-esposa do paulista.

Piquet ao lado de Nigell Mansell depois do GP da Europa de 1983 -  Daily Express/Hulton Archive/Getty Images) -  Daily Express/Hulton Archive/Getty Images)
Piquet ao lado de Nigell Mansell depois do GP da Europa de 1983
Imagem: Daily Express/Hulton Archive/Getty Images)

A falta de afinidade também foi evidente com Mansell — dentro e fora das pistas. "Ele gostava de se fazer de vítima. Eu sacaneava ele de tudo que é jeito. Eu devo ser o calo inflamado no pé dele", relembrou Piquet em entrevista à jornalista Mariana Becker, hoje na Band.

"Eu falava: 'como ele consegue viver com uma mulher tão feia?'. Coisas assim, de baixo nível", prosseguiu o brasileiro, que já classificou o britânico como "um idiota veloz".

Piquet também já teve atritos com diferentes personagens durante sua trajetória na F1, como Gilles Villeneuve (ex-piloto), Patrick Head (cofundador da Williams), Gerárd Ducarouge (engenheiro da Lotus) e Tom Walkinshaw (dirigente Benetton).

Ofensas a Hamilton

No ano passado, o ex-piloto voltou aos holofotes do esporte após usar termo racista e expressão homofóbica para falar de Lewis Hamilton, atual astro da categoria.

Em vídeo de entrevista ao jornalista Ricardo Oliveira, em novembro de 2021, ele chamou, por mais de uma vez, o atual piloto da Mercedes de "neguinho" ao comparar um acidente de Senna e Prost com o ocorrido entre Hamilton e Max Verstappen em Silverstone.

"O neguinho meteu o carro e não deixou (Verstappen desviar). O neguinho deixou o carro porque não tinha como passar dois carros naquela curva. Ele fez de sacanagem", afirmou Piquet, que é sogro de Verstappen.

Nelson Piquet em foto de 2014; ex-piloto coleciona desafetos na Fórmula 1 - Mark Thompson/Getty Images - Mark Thompson/Getty Images
Nelson Piquet em foto de 2014; ex-piloto coleciona desafetos na Fórmula 1
Imagem: Mark Thompson/Getty Images

Apesar de a publicação do vídeo datar do último ano, a fala veio à tona somente no último mês de junho, gerando grande repercussão nas redes sociais.

Hamilton se manifestou nas redes sociais — com direito a texto em português — e também falou sobre o assunto em entrevistas, dizendo que essas são "mentalidades arcaicas" e que precisam ser mudadas.

Diante de tudo o que ocorreu, Piquet se manifestou por meio de um comunicado pedindo desculpas, afirmando que o "termo é um daqueles largamente e historicamente usados de forma coloquial no português brasileiro como sinônimo de 'cara' ou 'pessoa'".

"Bolsonaro até a morte"

Nos últimos anos, Piquet, que tornou-se nome forte em Brasília após carreira nas pistas, se aproximou do presidente Jair Bolsonaro (PL).

Em entrevista concedida à RedeTV!, ele detalhou a aproximação com o político e não escondeu o seu apoio aos atos do agora amigo.

"Fiquei fã dele. Eu o conheci, ele me convidou para almoçar e a gente se deu bem. Nunca me envolvi em política na vida, hoje sou Bolsonaro até a morte. Se a gente não ajudar ele, se o povo não ajudar ele... eu acho que ele é a salvação do Brasil", disse o tricampeão mundial.

A admiração fez com que Piquet virasse chofer de Bolsonaro por um dia. A cena aconteceu no Dia da Independência, em 7 de setembro de 2021. O ex-piloto dirigiu o Rolls-Royce presidencial na chegada do presidente à cerimônia de hasteamento da Bandeira Nacional.

Jair Bolsonaro chega para a cerimônia de hasteamento da bandeira em Rolls Royce dirigido por Nelson Piquet - FÁTIMA MEIRA/ESTADÃO CONTEÚDO - FÁTIMA MEIRA/ESTADÃO CONTEÚDO
Jair Bolsonaro chega para a cerimônia de hasteamento da bandeira em Rolls Royce dirigido por Nelson Piquet
Imagem: FÁTIMA MEIRA/ESTADÃO CONTEÚDO

O Rolls-Royce conduzido por Piquet é o Silver Wraith de 1952, mantido pelo Ministério da Defesa. O modelo é usado por presidentes em ocasiões especiais, como a posse. O carro chegou ao Brasil ordenado por Getúlio Vargas.

Piquet também já participou em comícios do atual presidente. Em um deles, no ano passado, o ex-piloto pediu a palavra ao político para criticar a TV Globo, chamando a emissora de "Globolixo".

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