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Ex-Corinthians diz que Willian acertou em deixar o clube e vê VP ameaçado

Atacante Ewerthon se desvencilha da marcação durante primeira final entre Corinthians e Botafogo-SP, no Paulistão de 2001 - Márcio Fernandes/Folhapress
Atacante Ewerthon se desvencilha da marcação durante primeira final entre Corinthians e Botafogo-SP, no Paulistão de 2001 Imagem: Márcio Fernandes/Folhapress
do UOL

Augusto Zaupa e Vanderlei Lima

Do UOL, em São Paulo

13/08/2022 04h00

Com a experiência de quase uma década de ter atuado na Europa, Ewerthon não tem dúvidas ao afirmar que Willian acertou ao pedir a rescisão contratual com o Corinthians para voltar ao futebol do Velho Continente. Revelado pelo Alvinegro na década de 1990, o ex-atacante de 41 anos foi ainda mais enfático ao declarar que Willian nem deveria ter retornado para atuar no país.

"Ele nem deveria ter voltado ao Brasil, o cara já estava adaptado, morava na Inglaterra, um dos melhores países do mundo. A carreira que ele tem, chega aqui e ele sofre tudo isso, a família dele vê tudo isso [ameaças de torcedores], dentro do clube de coração dele, é uma coisa triste, lamentável", disse em entrevista ao UOL Esporte.

"O Willian é um jogador que já está com 34 anos, ele retornou para o time de coração, quis vir realmente para o Corinthians. Todos os jogadores que são nascidos no Corinthians, cria do Corinthians, têm esse sonho de voltar. Mas, infelizmente, aqui a gente encontra um problema social e um problema de educação. Esses episódios são coisas muito tristes, são coisas que fogem do esporte, fogem das quatro linhas, futebol é só futebol, as pessoas confundem muito a questão racial, a questão familiar do jogador e acha que o jogador tem que render e ganhar todos os jogos. O que estão fazendo com esses jogadores hoje é desumano, os caras estão jogando de três em três dias, são três decisões, são três, quatro competições (...). O Willian se contundiu muito, chega aqui no Brasil e, até entrar no ritmo, pegar o ritmo brasileiro, o clima...", completou.

Ewerthon, no Borussia Dortmund - Getty Images - Getty Images
Ewerthon em ação pelo Borussia Dortmund
Imagem: Getty Images

Atualmente atuando no ramo de construção civil em Goiânia — é dono de uma construtora com o seu pai —, Ewerthon teve boa passagem pelo Corinthians e chegou a conquistar dois títulos do Brasileirão (1998 e 1999), um Mundial de Clubes (2000) e uma Copinha (1999). O desempenho com a camisa corintiana chamou a atenção do Borussia Dormund, em setembro de 2001. À época, o clube alemão pagou US$ 34 milhões para contratar o jovem de atacante, com então 20 anos.

Por também ter atuado na Espanha, no Zaragoza — entrou na história do clube ao fazer dois gols na goleada por 6 a 1 sobre o Real Madrid, em 2006 —, por cinco anos, Ewerthon ressaltou que a decisão de Willian foi acertada por causa do bem-estar da sua família.

"Mexer com família é complicado. As pessoas que viveram na Europa sabem que essa segurança lá fora você tem o tempo inteiro. O torcedor pode reclamar, pode ir no estádio e xingar, mas você não vê ameaça com a sua família e nem ameaça com o jogador. Isso aqui dentro do Brasil é uma coisa que é inadmissível. A gente vê aqui cada clube tem seis, sete, oito torcedores, que para mim, não são torcedores e ameaçam os jogadores. A gente não vê esses caras irem para trabalhar. É engraçado e principalmente a nossa imprensa dá ênfase para isso. O torcedor aqui não tem educação e respeito com o jogador porque acha que ele é um nada", desabafou.

VP ameaçado no cargo

Depois de ter construído uma carreira de destaque na Europa, Ewerthon retornou ao Brasil em 2010 para defender o Palmeiras e trabalhar ao lado de Muricy Ramalho. O ex-jogador entende muito bem o peso de um Dérbi, visto que uma derrota pode ocasionar a demissão do treinador. E é justamente nesta situação que Vítor Pereira está no momento, segundo o ex-atacante.

Ewerthon atuou com a camisa do Palmeiras em 2010 - Thiago Bernardes/UOL - Thiago Bernardes/UOL
Ewerthon atuou pelo Palmeiras em 2010 após pedido do então técnico Muricy Ramalho
Imagem: Thiago Bernardes/UOL

Após a queda na Copa Libertadores diante do Flamengo, na última terça-feira (9), o Corinthians precisa se reerguer para o clássico com o Palmeiras, hoje (13), às 19h (de Brasília), na Neo Química Arena, pela 22ª rodada do Brasileirão. O jogo coloca frente a frente líder e segundo colocado do campeonato.

"Conhecendo o futebol brasileiro, a gente sabe que, se ele perde o clássico e na sequência for eliminado na Copa do Brasil [contra o Atlético-GO], ele vai balançar. Penso que a cultura do futebol brasileiro tem que mudar, o treinador precisa de tempo. O treinador [VP] vem de fora, os trabalhos dele foram muito bom, a filosofia que ele trabalha é boa, só que ele chegou num clube o qual trouxe alguns jogadores, jogadores com uma idade um pouco aí acima dos 30 anos e tem jogadores que ele tem que conhecer trabalhando. O cara também precisa se adaptar e pega um Corinthians na fase que está", comentou.

"Isso aconteceu até com o Tite no clube e depois o Corinthians acabou ganhando tudo. Essa coisa de um treinador perder uma competição ou outra e mandar ele embora, penso que isso aí é só trocar seis por meia dúzia. Tem lesões, não só do Renato [Augusto, que voltou após quase dois meses por causa de problemas musculares], tem o próprio Paulinho, que chegou e não deu tempo nem de ele ficar bem fisicamente para jogar e entrar no esquema. O próprio Willian também. Muitos jogadores vieram e se machucaram. A gente sabe que Corinthians é pressão, é um time de massa é um time que está acostumado a ganhar", acrescentou.

Outros trechos da entrevista com Ewerthon

Eliminação corintiana para o Flamengo

"O Flamengo hoje voltou a jogar bem, está com elenco fortíssimo, jogadores que chegaram. E, com a chegada do Dorival Júnior, o Flamengo cresceu muito, recuperou o seu futebol e principalmente a moral, veio forte e eliminou o Corinthians. Time por time, o Flamengo tem mais e agora tem o clássico contra o Palmeiras, que para o Corinthians é muito importante. Para os dois é importante, claro. O Palmeiras vem aí de uma decisão [contra o Atlético-MG, pelas quartas da Libertadores], de um esforço, jogou com menos dois jogadores, uma superação tremenda. Corinthians e Palmeiras é sempre aquele clássico que não tem jeito, é repercussão, é jogo difícil, é jogo de detalhes e o torcedor corintiano vai lotar a Arena e vai querer a vitória. O Corinthians precisa muito dessa vitória para chegar com moral na Copa do Brasil, porque perdeu por 2 a 0 para o Atlético-GO e vai ser já na próxima semana [quarta-feira]. A gente sabe como é a história no Corinthians, vai ser um sufoco."

Acredita no Corinthians

"Acredito que o Corinthians tem possibilidade [de vencer o Dérbi], tem grandes jogadores, tem um elenco bom, um elenco forte e joga dentro de casa. Corinthians x Palmeiras é jogo decidido por detalhes, é um jogo gostoso de se jogar. Quem perde sempre gera uma crise, e o Corinthians precisa do resultado. Acredito que o Corinthians jogando em casa pode reverter contra o Atlético-GO, não vai ser fácil, mas eu acho que o Corinthians tem potencial para reverter."

Virtudes de Abel Ferreira

"Ele é um cara trabalhador, conhece o clube, do faxineiro à presidência. Ele é um cara que vive a instituição Palmeiras, vive para os seus jogadores, tem o comando nas mãos desses jogadores, é um cara que desenvolve e desenvolveu a maneira do Palmeiras jogar. O resultado vem dentro de campo, vem ganhando títulos Lá fora, na Grécia, o Abel fez um grande trabalho e aqui ele faz um trabalho excecional. Hoje no futebol brasileiro é o melhor treinador que nós temos."

Abel na seleção

"Pela nossa cultura, isso é muito difícil de acontecer. Mas eu também não vejo uma outra opção assim grande para ser o treinador da seleção brasileira. Até o Pep Guardiola queria ser treinador da seleção e não acontece, aqui é difícil acontecer. Penso que futebol é momento e, se o Abel é o melhor que temos no momento, eu não vejo o porquê um treinador estrangeiro não poder treinar a seleção brasileira."

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