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Hacker que revelou documentos do City expôs salário de Jorge Jesus em 2015

Rui Pinto (ao centro) chega à corte de Budapeste antes de ser extraditado para Portugal, em março do ano passado - Ferenc Isza/AFP
Rui Pinto (ao centro) chega à corte de Budapeste antes de ser extraditado para Portugal, em março do ano passado Imagem: Ferenc Isza/AFP
do UOL

Do UOL, em São Paulo

15/02/2020 04h00

Autodidata, historiador com grande aptidão para computação e ávido em "divulgar a parte oculta do futebol". Foi com esses atributos que o português Rui Pinto criou, em setembro de 2015, o Football Leaks, site que revelou documentos de bastidores do esporte mais popular do mundo. Pouco mais de quatro anos depois, a ação culminou no banimento do Manchester City das próximas duas edições da Liga dos Campeões.

Rui Pinto, 31 anos, iniciou os vazamentos pelo futebol português, mais especificamente pelo Sporting e pelo técnico Jorge Jesus. No mesmo mês em que o Football Leaks veio à tona, informações sigilosas ligadas ao treinador, como valores do salário e da premiação, foram divulgadas. Semanas antes, o atual comandante do Flamengo havia trocado o Benfica pelo Sporting.

A atuação de Rui Pinto no Football Leaks, com mais de 70 milhões de documentos expostos, rendeu-lhe uma série de processos. Ele é acusado de 147 crimes, entre eles acesso ilegal, sabotagem informática, violação de correspondência e tentativa de extorsão. O hacker, que no início usava o pseudônimo John, está preso em seu país natal há quase 11 meses.

Em dezembro passado, Jorge Jesus, além de outras 41 pessoas expostas, abdicaram de prestar queixa contra Rui. A atitude levou o advogado do hacker a pedir a nulidade dos crimes de violação de correspondência, que equivalem quase à metade das violações. O Ministério Público, contudo, defende a continuidade da prisão preventiva, pois Rui, se estiver livre, pode destruir provas ou até fugir.

O português nasceu em 1988, na cidade de Mafamude, a 310 quilômetros da capital Lisboa. No começo dos anos 2010, ingressou no curso de história na Universidade do Porto. Durante a graduação, participou de um programa estudantil em Budapeste, Hungria. Em fevereiro de 2015, mudou-se de forma definitiva para a capital húngara.

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Jorge Jesus viu informações de seu contrato com o Sporting serem expostas em setembro de 2015

Na cidade, colocou em prática o Football Leaks. Em novembro de 2018, o site vazou documentos que indicavam fraudes em movimentações financeiras do Manchester City. De acordo com eles, o clube escondeu valores recebidos de patrocinadores, a fim de não ultrapassar o teto estipulado pela Uefa.

A atuação de Rui Pinto foi bastante abrangente. Ele expôs, por exemplo, os problemas fiscais de Cristiano Ronaldo e documentos ligados ao Paris Saint-Germain e ao Twente, da Holanda, além do Porto, do Benfica e do Sporting.

O português ainda mostrou a ação da Doyen Sports, agência de jogadores. O MP acusa o hacker de extorsão nesse caso, pois ele teria exigido dinheiro a Doyen para não publicar as informações.

Os vazamentos ocorreram até mesmo fora do futebol. Rui Pinto se tornou fonte do "Luanda Leaks", que evidenciou a origem supostamente fraudulenta da fortuna da angolana Isabel dos Santos, filha do ex-presidente de Angola, José Eduardo dos Santos.

Rui Pinto foi detido em Budapeste em 16 de janeiro do ano passado. No começo de março, a Justiça da Hungria ordenou a extradição do hacker para Portugal. Dias depois, ele desembarcou no seu país de origem. "Não cometi nenhum dos crimes dos quais sou acusado. Nunca obtive lucro material pelo que fiz. Agi pelo bem e interesse geral, para expor a corrupção no futebol europeu", afirmou Rui na ocasião.

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