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Alvo de briga, imagem de árbitros dá milhões a empresa citada em Fifagate

Patrocínio da Sky em mangas de árbitros gerou R$ 5,2 milhões a empresa em 2018 - Daniel Vorley/AGIF
Patrocínio da Sky em mangas de árbitros gerou R$ 5,2 milhões a empresa em 2018 Imagem: Daniel Vorley/AGIF
do UOL

Pedro Lopes

Do UOL, em São Paulo

13/12/2019 04h00

Desde 2012 a Sky, empresa de internet e TV por assinatura, patrocina as mangas dos uniformes dos árbitros e auxiliares das quatro divisões do Campeonato Brasileiro. Essa relação virou briga, com diversos ex-árbitros e bandeirinhas acionando a empresa na Justiça, alegando jamais terem autorizado ou recebido remuneração pelo uso de suas imagens para fins comerciais. Enquanto isso, a empresa Klefer, fundada pelo ex-presidente do Flamengo Kleber Leite, vem faturando em contratos milionários pelos quais comercializa as propriedades.

O UOL Esporte teve acesso a diversos contratos de patrocínio da manga dos árbitros do Brasileirão, de diferentes anos entre 2012 e 2018. A CBF cedeu à Klefer o direito de explorar o espaço nas Séries A, B, C e D do Brasileiro, e a empresa, por sua vez, firmou contratos milionários com a Sky. Os valores aumentam a cada ano: em 2018, a Klefer recebeu R$ 5,2 milhões; dois anos antes, em 2016, o valor era de R$ 4,6 milhões. Nos documentos obtidos não há qualquer obrigação de repassar parte disso aos árbitros ou mesmo à confederação.

Árbitros e ex-árbitros afirmam à reportagem que até 2015 não havia qualquer tipo de cessão de imagem formalizada por membros da categoria com a Sky, Klefer ou CBF. A partir de 2016 a entidade que comanda o futebol brasileiro passou a colher autorização de uso de imagem, mas os profissionais ouvidos pela reportagem afirmam não haver, nem antes nem depois disso, uma remuneração específica de direitos de imagem.

A CBF não comenta o assunto pois os acordos são protegidos por cláusula de confidencialidade. Pessoas ligadas à diretoria da entidade afirmam que os contratos não foram firmados na gestão atual, e que houve, para 2019, um reajuste. Por essa alteração, a Klefer teria passado a figurar como uma agência comercial, tendo direito a uma comissão sobre os contratos, em percentual em torno de 10%. A reportagem não teve acesso ao novo contrato, que também é confidencial. Após o fim da relação coma Klefer, a ideia seria comercializar os espaços diretamente com as empresas interessadas. Além disso, há o entendimento de que a remuneração atual de árbitros já inclui direitos de imagem em partidas organizadas pela confederação.

Imagem de árbitros virou objeto de brigas na Justiça

Nos últimos dois anos, ex-árbitros e bandeirinhas acionaram a Justiça cobrando remuneração pela exploração comercial de suas imagens. Em São Paulo, a Sky é ré em quatro ações deste tipo —em alguns casos, a CBF solicita sua entrada nos processos para auxiliar a defesa da empresa.

Os casos atingem outros estados e outras empresas: ainda em São Paulo, há três ações contra a Semp Toshiba, que estampou as costas dos árbitros na edições entre 2015 e 2017 do Campeonato Brasileiro. A Globo é ré em ações no Mato Grosso, Rio e Janeiro e Rio Grande do Sul pelo mesmo argumento.

Em abril do ano passado, a CBF foi condenada no Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região (TRT-1) a pagar R$ 2 milhões em uma ação movida pela Associação Nacional de Árbitros de Futebol e o Sindicato dos Colaboradores e Trabalhadores da Arbitragem Esportiva do Rio de Janeiro. O processo teve como alvo os contratos com a Semp Toshiba, que totalizaram cerca de R$ 5 milhões, e com a Topper, que forneceu uniformes para a arbitragem.

Klefer foi citada no Fifagate, mas nunca acusada formalmente

Parceira da CBF e das federações estaduais do futebol brasileiro em acordos comerciais há anos, a Klefer foi fundada por Kleber Leite, que presidiu o Flamengo entre 1995 e 1998, e disputou a presidência do Clube dos 13 em 2010 indicado por Ricardo Teixeira —acabou derrotado por Fábio Koff.

A empresa dividia com a Traffic a maioria dos contratos do futebol no país até 2015, quando estouraram as investigações de corrupção contra dirigentes. Kléber Leite foi citado pelo delator José Hawilla, fundador da Traffic, como pagador de propinas em negociações de patrocínios e direitos de transmissão. A Klefer e seu fundador sempre negaram veementemente todas as acusações, e nunca foram formalmente indiciados nos Estados Unidos.

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