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Estrada com suspeita de corrupção da Odebrecht leva flamenguistas até Lima

Trecho da rodovia Interoceânica, que liga o Brasil a portos peruanos no Oceano Pacífico - Diego Salgado/UOL
Trecho da rodovia Interoceânica, que liga o Brasil a portos peruanos no Oceano Pacífico Imagem: Diego Salgado/UOL
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Diego Salgado

Do UOL, de Quince Mil (Peru)

21/11/2019 17h55

De um lado, o asfalto liso ameniza o peso das subidas intermináveis da cordilheira dos Andes. Do outro, uma parte plana repleta de crateras se torna um obstáculo constante na árdua travessia pelos estados de Rondônia e Acre. A disparidade entre os trechos da chamada rodovia Interoceânica, ligando Brasil e Peru, pôde ser observada durante a passagem do ônibus Rio-Lima, que leva 19 torcedores do Flamengo à final da Libertadores, que será no sábado (23). O percurso deve ser concluído na madrugada desta sexta-feira, no horário de Brasília.

A estrada que começa após a cidade de Porto Velho, capital de Rondônia, e se estende até três portos do litoral peruano, tem apenas oito anos de uso e está marcada pela suspeita de corrupção envolvendo a construtora Odebrecht. No começo de 2017, uma comissão foi criada pelo Congresso do Peru e, como um desdobramento da Lava Jato brasileira, passou -se a investigar a obra finalizada em 2011.

Quatro ex-presidentes do Peru entraram na mira da operação: Pedro Paulo Kuczynski, Alejandro Toledo, Alan García, e Ollanta Humala. Todos são suspeitos de receber propina durante as suas campanhas eleitorais. Kuczynski deixou o cargo em março do ano passado, enquanto Toledo está preso nos Estados Unidos. García, por sua vez, morreu depois de atirar contra a própria cabeça no momento em que seria detido pela polícia.

A ideia da construção da Interoceânica se deu em meados dos anos 2000. À época, o governo peruano justificara que a obra facilitaria o comércio entre o país e o Brasil. Com a rota, os caminhões teriam mais facilidade para alcançar os portos de Ilo, Matarani e San Juan de Marcona. Mas, quase uma década depois da conclusão da obra, poucos veículos brasileiros são vistos na estrada. A constatação é de William Guerras, motorista da empresa Ormeño, que realiza o trajeto Rio-Lima desde a inauguração do trecho.

A Odebrecht foi responsável pelos trechos 2 e 3. O segundo vai da fronteira Brasil-Peru até o povoado de Iñapari, onde foi feita uma bifurcação. O terceiro trecho passa por Cusco. O quarto passa em região próxima ao Lago Titicaca. Durante a passagem pelo segundo trecho, a reportagem do UOL Esporte observou funcionários executarem o reparo da pista, fato que não foi visto no Brasil.

Segundo Susy Miranda, supervisora da Ormeño, a diferença ocorre por causa dos pedágios cobrados do lado peruano. A cobrança não é realizada de Porto Velho rumo à fronteira.

Além disso, o trecho peruano da Interoceânica tem recebido uma camada de pedras como reforço para aguentar o peso dos caminhões, ônibus e carros que percorrem por ela. No Brasil, como não há manutenção regular, a proteção não existe.

A Interoceânica peruana é considerada a rodovia asfaltada mais alta do mundo. No ápice, ela atinge 4.735 metros na região de Marcpata. A construção da estrada gerou polêmicas. Por um lado, ela ajudou a diminuir o tempo para percorrer o trajeto da fronteira até Cusco. Agora, ele pode ser feito em algumas horas. Antes, eram precisos dez dias, de acordo com William Guerra.

Por outro, causou descontentamento em Iñapari, que viu a estrada "cortar" o povoado. Para eles, a floresta é considerada sagrada. A rodovia ainda fez aumentar o garimpo ilegal na região. A cidade de La Pampa surgiu depois da obra. O local é marcado pelos altos índices de criminalidade, numa espécie de terra sem lei.

#UOLrumoaLima

A final da Libertadores entre Flamengo e River Plate está marcada para o próximo dia 23. Uma semana antes de a bola rolar no Estádio Monumental de Lima, no Peru, o UOL Esporte partiu rumo à capital peruana ao lado de torcedores rubro-negros. A viagem, entretanto, não será comum. O trajeto de pouco mais de seis mil quilômetros será feito de ônibus. Durante estimadas 116 horas, o ônibus passará por seis estados brasileiros (Rio, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Rondônia e Acre), incluindo parte do Pantanal e da Amazônia, além das capitais Cuiabá, Porto Velho e Rio Branco.

Já em território peruano, a caravana vai passar por Puerto Maldonado, Cusco e, enfim, Lima. No total, serão quase cinco dias de viagem, do Atlântico ao Pacífico, com dez paradas previstas. A chegada, portanto, deve acontecer na quinta-feira, dois dias antes da decisão entre Flamengo e River.

Confira o que os ocupantes do ônibus já viveram até agora:

A empresa responsável pelo deslocamento é a peruana Ormeño, que realiza o trajeto uma vez por semana, mas, por causa da mudança de sede da final de Santiago para Lima, decidiu colocar um ônibus extra destinado aos torcedores.

A viagem pode ser acompanhada pelas redes sociais do UOL Esporte, com #UOLrumoaLima. O repórter Diego Salgado foi o escolhido para a missão. Nos últimos dois anos, ele se especializou em viagens longas de bicicleta. Em 2018, atravessou a América do Sul, de Porto Alegre a Santiago, no Chile (1.939 km em 27 dias). Há três meses, o trajeto escolhido foi na Europa, de Barcelona, na Espanha, a Amsterdã, na Holanda. Na ocasião, ele pedalou por 2.028 km em 29 dias e passou por seis países.

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